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segunda-feira, 23 de abril de 2012

"Informação da RTP é manipulada"

por Nuno Azinheira/Fotos Orlando Almeida/Global Imagens

(...)
A generalidade dos profissionais da RTP diz que a instrumentalização é um mito. Mas a minha pergunta é muito concreta: acha que a informação que a RTP faz actualmente é manipulada?
(pausa) Se eu acho? Acho que é, acho que é. Os profissionais da RTP não se podem esquecer de que, ao trabalharem na RTP, têm um accionista e que esse accionista é o Estado. Você acha que alguma vez passariam na RTP aquelas peças que a Manuela Moura Guedes passava na TVI?
Eram bom jornalismo, aquelas peças?
(pausa) Não, não sei. Mas mesmo que seja uma peça discutível do ponto de vista jornalístico, pergunto-lhe se acha que elas passariam na RTP? Acha que na RTP poriam em causa daquela maneira o primeiro-ministro, qualquer que ele fosse? Na TVI a jornalista correu o risco de as exibir, correu o risco de ser desconsiderada profissionalmente. Acha que na RTP correriam o risco? Acho que não. E não é por uma questão jornalística, é porque na RTP o accionista é o Estado.
(...)
Falou de Manuela Moura Guedes e eu faço-lhe de novo a pergunta: o professor acha que os jornalistas da RTP, ou da RDP ou da Lusa fazem uma informação, seja nos telejornais, nos noticiários, nas reportagens, nas notícias, ou nas entrevistas, condicionada pelos governos?
(pausa) Calma, não estou a dizer que os jornalistas das empresas públicas têm um censor. Mas os jornalistas da RTP sabem para quem estão a trabalhar.
Eles dizem que é para o público.
Estão a trabalhar para o accionista, o Estado. Os jornalistas têm uma administração, e esta tem uma tutela, que é o Governo. Tal como os jornalistas da TVI sabem que na sua empresa há limites à sua própria liberdade, quando tocarem em algum interesse que está ligado àquele grupo de comunicação social.
Mas isso acontece com todos os jornalistas. Eu trabalho para a Controlinveste, os jornalistas do Público trabalham para o engenheiro Belmiro, os do Correio da Manhã para o engenheiro Paulo Fernandes, os do Expresso para o Dr. Balsemão...
Claro, é evidente. Por isso é que lhe digo que temos de perguntar aos portugueses se estão disponíveis para pagar do seu bolso aquilo que é a possibilidade de ter uma informação que, estando subordinada à tutela governamental, pode ser usada para fins políticos.
(...)
"É LEGÍTIMO QUE O GOVERNO CONTROLE O CANAL INTERNACIONAL"
O grupo de trabalho defende a fusão da RTP Internacional e da RTP África, dando a origem a uma só antena internacional. Eu ouvi-o dizer que defende que a informação dessa antena internacional pode estar ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que passaria a ser a tutela desse canal. Explique-me uma coisa: mas isso seria informação ou propaganda?
(pausa) Chame-lhe o que quiser. Os governos são sufragados e têm legitimidade para, no meu entendimento, usar o canal internacional para passarem a imagem de Portugal que eles entendem.
Portanto, passava as praias bonitas, a gastronomia, os museus e as cidades, mas não passava o desemprego, as greves gerais, os acidentes, a corrupção. É isso?
(pausa) Se entenderem que isso é importante.
Então quem teriam ao seu serviço? Jornalistas ou comissários políticos?
(pausa) O contrato que regula a entidade que faz a prestação do serviço e a entidade que contrata, que seria o Ministério dos Negócios Estrangeiros, tem de decidir se as pessoas trabalham para ali ou não trabalham para ali. É tão simples quanto isso.
Mas não seriam jornalistas, seguramente...
Não sei se seriam jornalistas ou produtores de informação, como queira chamar-lhes. (...)
"O mercado pode auto-regular-se"
Acredita que, na actual conjuntura de um mercado asfixiado, com a grande competitividade existente, é possível que os agentes do sector se regulem a si próprios?
Respondo-lhe com uma pergunta: como é que os médicos elegem o seu bastonário e depois discutem em assembleia os seus estatutos e, depois, sancionam os médicos?
É um sector diferente.
Claro que é um sector diferente. Só estou a dizer que no caso das actividades profissionais as pessoas podem auto-regular-se. O problema aqui é a instrumentalização política e a experiência que temos do passado.
Acha que a ERC é completamente manipulada pelo poder político?
Completamente manipulada? Nada em Portugal é completamente tudo ou completamente nada.
Acha que a ERC é manipulada pelo poder político?
A ERC tem uma superstrutura de nomeação política e essa nomeação pode ser feita pelos seus pares. E qual é o problema? Todos os mercados permitem auto-regulação. E quando há conflitos podem ser tratados nos tribunais.

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