Dos 58 deputados eleitos pelo Chega, 23 já se cruzaram
com a justiça ou estiveram envolvidos em polémicas
André Ventura já foi acusado e condenado num processo
civil. Estando ainda sob investigação por suspeita de incitamento ao ódio e à
violência. Os problemas com a justiça que envolvem os deputados do Chega são de
várias ordens: dívidas, afirmações polémicas, falsas presenças e até violação.
Outros, também por declarações ou atitudes viram-se envolvidos em polémicas
A noite de domingo revelou-se vencedora para o Chega,
liderado por André Ventura. Até ao momento, conseguiu a eleição de 58
deputados e pode não ficar por aqui. Mas destes nomes, pelo menos 23
já se cruzaram com a justiça, de forma mais direta ou indireta, ou já viram os
seus nomes ligados a casos polémicos.
Só na sexta-feira passada o Chega revelou as
suas listas
eleitorais de todos os círculos eleitorais. Uma informação que a CNN
Portugal teve acesso e revelou em primeira mão. Os nomes escolhidos eram uma
lista preliminar. Dos nomes apresentados, 58 já estão eleitos. O número de
deputados com problemas na justiça ainda pode aumentar, considerando que falta
os resultados finais dos círculos da imigração.
AVEIRO
1 - PEDRO SARAIVA GONÇALVES SANTOS FRAZÃO (Eleito)
Pedro Saraiva Gonçalves Santos Frazão é número 1 por
Aveiro nas legislativas de 2025, mas em 2024 foi número 1 por Santarém. A
mudança de círculo eleitoral, não apaga, no entanto, os problemas que já
enfrentou na Justiça. Em 2022 foi condenado pelo Tribunal de Cascais, após uma
queixa do ex-deputado do Bloco de Esquerda, José Manuel Pureza. O crime em
causa era difamação agravada. Foi pedido o levantamento da sua imunidade
parlamentar, foi julgado e condenado.
Em 2021 Pedro Frazão publicou na rede social X (antigo
Twitter) um vídeo de uma jovem que alegava ter sido “assediada” nas redes
sociais e numa manifestação por “um indivíduo” que “faz parte do Bloco de
Esquerda”. Na publicação, feita por uma conta entretanto apagada pela
plataforma, escreveu que “já não há pureza no Bloco de Esquerda”, o que terá
sido entendido, pelo professor universitário de Coimbra, como uma referência
direta a si.
O vice-presidente do Chega, que tinha sido eleito pelo
círculo de Santarém foi condenado a apagar a publicação e a retificar a
informação. O tribunal considerou que o que tinha sido escrito era
"ilícito", “ofensivo do direito à honra”.
BRAGA
2 - ANTÓNIO FILIPE DIAS MELO PEIXOTO (Eleito)
Tal como em 2024, António Filipe Dias Melo Peixoto é
cabeça de lista por Braga. Filipe Melo foi condenado pelo Tribunal de
Braga a pagar dívidas de cerca de 80 mil euros na sequência de três processos
de execução.
Quando foi eleito deputado em 2024 as suas dívidas já
eram conhecidas. Um processo tinha data de 2020 e os outros dois eram de 2019.
Viu o seu nome publicado na Lista Pública de Execuções, mas atualmente, o seu
nome já não aparece. Terá mesmo visto o seu vencimento de deputado
penhorado por uma instituição de ensino frequentada pelo filho. Terá também
sido acusado de prestar falsas declarações a um juiz e de xenofobia, dentro do
próprio partido.
Em relação à acusação de xenofobia, esta aconteceu
dentro do próprio Chega, quando António Filipe Dias Melo Peixoto escreveu um
post na sua página pessoal de Facebook sobre outra militante de origem
brasileira. A visada, Cibelli Pinheiro de Almeida - então presidente da
Mesa da Assembleia Distrital - acabou por se demitir. Inicialmente escreveu:
“Não vai ser uma brasileira que vai mandar nos destinos de um partido
nacionalista, patriótico. Nunca, não permitirei". Acabou por editar o
post, substituindo “brasileira” por “senhora”.
3 - RODRIGO SANTOS ALVES TAXA (Eleito)
Rodrigo Santos Alves Taxa já tinha sido eleito em 2024
e regressa ao Parlamento em 2025. Rodrigo Taxa foi contratado para o gabinete
do PSD Loures - liderado por Ventura em 2018 - e o seu nome surge referido no
processo Tutti-frutti. Recorde-se que André Ventura esteve ligado ao PSD, antes
de ser desfiliar e criar um novo partido em 2018. Atualmente Rodrigo Taxa é
líder do Conselho de Jurisdição do Chega.
4 - CARLOS ALBERTO BARBOSA VIEIRA PINTO (Eleito)
Carlos Pinto voltou a entrar na lista de candidatos e
voltou a ser eleito. Um autarca eleito pelo Chega, no Norte, acusou a
distrital de Braga, liderada por Carlos Pinto, de “terrorismo político”, por se
ter apoderado da conta de Facebook da concelhia de Vila Verde. O
presidente exonerado do Chega de Vila Verde afirmou que a página foi sabotada e
muitas publicações apagadas.
CASTELO BRANCO
5 - JOÃO FILIPE DIAS RIBEIRO (Eleito)
João Filipe Dias Ribeiro já constava da lista nas
últimas eleições e voltou a ocupar o mesmo lugar. Este deputado repetente teve
a sua empresa declarada insolvente pelo Tribunal de Castelo Branco. A
decisão da justiça foi proferida em janeiro deste ano. A magistrada responsável
pelo processo proferiu a sentença de declaração de insolvência por dívidas a
três entidades.
FARO
6 - PEDRO MIGUEL SOARES PINTO (Eleito)
Pedro Pinto, ex-CDS, é, ao lado de André Ventura, um
dos rostos mais conhecidos do Chega. Assumia o seu lugar de deputado e irá
voltar à bancada, onde liderava o grupo parlamentar. É secretário-geral e
adjunto da direção nacional do partido. Já viu o seu nome ligado a várias
polémicas.
Uma delas está ligada à agressão de um jovem árbitro,
de apenas 18 anos, em 2023, durante uma competição de futebol infantil na qual
participava o seu filho. A GNR esteve presente no local. Além disso, em 2022,
também terá ameaçado um assessor do PS com um alegado encosto de cabeça e um
aviso: “Parto-te a tromba. És um anão”, por não ter gostado de uma publicação
que este fez no Twitter.
Mas a polémica mais recente está relacionada com
declarações de Pedro Pinto após a morte de Odair Moniz, baleado pela polícia na
Amadora. Declarações que levaram a
PGR a abrir um processo que tem como visados os deputados André
Ventura e Pedro Pinto e um assessor do mesmo partido.
O líder parlamentar do Chega afirmou após os tumultos
que se as forças de segurança “disparassem mais a matar, o país estava mais na
ordem”. O comentário foi feito num espaço de debate na RTP.
LEIRIA
7 - GABRIEL SÉRGIO MITHÁ RIBEIRO (Eleito)
Era cabeça de lista por Leiria e volta ao Parlamento.
Gabriel Mithá Ribeiro foi militante do PSD durante 15 anos. Considera, por
exemplo, que o racismo não existe. No entanto, depois de ter o seu nome
proposto por André Ventura para a vice-presidência da Assembleia da República e
o mesmo ter sido chumbado, afirmou que tinha sido rejeitado devido a uma
"questão racial". Acrescentou mesmo que: "Pessoa negra e de
direita é tratada como se trata os pretos".
Mas Mithá Ribeiro esteve ainda ligado a outra polémica
depois de chamar “feminazi” e “diabólica” à deputada do PS Isabel Moreira, num
texto publicado nas redes sociais. A Comissão Parlamentar de Transparência
concluiu que Mithá Ribeiro violou o Código de Conduta dos Deputados.
8 - LUÍS PAULO PEREIRA FERNANDES (Eleito)
Luís Paulo Pereira Fernandes é outro dos eleitos do
Chega, é líder da distrital do Chega de Leiria e ex-autarca de Pedrógão
Grande, como independente pelo PSD. Foi acusado, por outro militante do
Chega, candidato do próprio partido à Câmara Municipal de Leiria
- Narciso Fabião - de ter feito desaparecer 236 certidões assinadas
por familiares e amigos seus.
LISBOA
9 - ANDRÉ CLARO AMARAL VENTURA (Eleito)
André Claro Amaral Ventura é o líder incontestado do
partido. Ex-militante do PSD até formar um novo partido em 2018. A sua ligação
à justiça mais conhecida é a condenação por segregação racial, confirmada
pelo Supremo Tribunal de Justiça, já que enquanto arguido recorreu a todas as
instâncias possíveis. Este não era um processo criminal, mas sim um processo
civil.
Mas o nome de André Ventura também apareceu no
processo Tutti-Frutti, devido à contratação de Rodrigo Taxa, como assessor para
o gabinete do PSD, em Loures. Os factos remontam ao mandato autárquico de
2017/2021. O inquérito acabou arquivado porque os contratos foram anulados a
pedido do próprio André Ventura.
Tal como Pedro Pinto, como também já referimos neste
artigo, está a ser investigado por incitamento ao ódio e à violência,
punível com pena de prisão até cinco anos, devido às suas declarações, após a
morte de Odair Moniz. André Ventura defendeu publicamente que o agente da
PSP devia ser condecorado, não condenou as declarações do seu líder parlamentar
e sustentou-as com a liberdade de expressão, afirmando que Pedro Pinto “quis
transmitir” que “a polícia não pode ter medo de usar as suas armas” e “isso às
vezes implica matar”.
10 - RUI PAULO DUQUE SOUSA (Eleito)
Rui Paulo Duque de Sousa fazia parte do partido
Aliança. Liderou a Comissão de Ética do Chega quando esta foi criada em 2020.
Em menos de três meses castigou cerca de 10 militantes do partido com base
na diretiva 03/2020. Uma norma que estabelecia que qualquer referência
"ofensiva" a membros ou dirigentes do Chega podia implicar a
suspensão imediata de todos os cargos e funções em exercício no partido por um
mês.
Pedro Manuel de Andrade Pessanha Fernandes era o
quarto na lista por Lisboa, e apesar de estar sobre investigação por parte do
Ministério Público, por uma alegada denúncia de violação de uma jovem de 15
anos, não foi afastado da mesma.
12 - RICARDO DIAS PINTO BLAUFUKS (Eleito)
Ricardo Dias Pinto Blaufuks, era o número 5 por Lisboa
em 2024 e volta a manter a mesma posição em 2025. Viu o seu nome publicado na
Lista Pública de Execuções por uma dívida de 14.835,51 euros, referente ao
Processo 1483/14.7T8OER do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste.
Neste momento, maio de 2025, a dívida já não aparece
da Lista. Segundo a página do Citius, tal pode acontecer por ter pagado a
dívida ao Agente de Execução responsável pelo processo ou ter aderido a um
plano de pagamentos efetuado com o apoio de uma das entidades reconhecidas pelo
Ministério da Justiça para prestar apoio a sobreendividados.
13 - BRUNO MIGUEL DE OLIVEIRA NUNES (Eleito)
Bruno Miguel de Oliveira Nunes volta a ser eleito por
Lisboa. Anteriormente esteve ligado ao PPM e ao PSD. Em 2017 fez parte da
Assembleia Municipal de Loures, eleito pelo PPD/PSD. As suspeitas em torno do
seu nome são várias como, por exemplo, uma alegada agressão, em 2022, a outro
deputado do Chega numa reunião do grupo parlamentar.
14 - JOSE MANUEL POMBINHO BARREIRA SOARES (Eleito)
José Manuel Pombinho Barreira Soares era o oitavo na
lista por Lisboa, foi acusado de nepotismo pelo Presidente de Câmara de Vila
Franca de Xira e acusado de tentar agredir um deputado municipal do PSD. Na
verdade, a PSP acabou por ser chamada e os eleitos do Chega e do PSD
identificados pelas autoridades.
15 - DIOGO VELEZ MOUTA PACHECO DE AMORIM (Eleito)
Diogo Velez Mouta Pacheco de Amorim. Já estava e vai
continuar na bancada do Chega. Ex-MIRN (Movimento Independente para a
Reconstrução Nacional) e ex-organização terrorista MDLP (Movimento Democrático
de Libertação de Portugal), foi candidato do Chega em Cascais. Recorde-se que o
MDLP foi constituído a 5 de maio de 1975, e é suspeito de ser responsável por
vários atentados à bomba e ataques aos movimentos democráticos e seus
militantes no pós-25 de Abril.
16 - MARIA CRISTINA PACHECO RODRIGUES (Eleita)
Será mais um regresso às bancadas pelo Chega. Sendo
que antes estava ligada ao PAN. Está a ser investigada por dano depois de
ter sido acusada de eliminar milhares de emails do PAN, em 2020.
17 - MARCUS VINÍCIUS TEIXEIRA SOARES DOS SANTOS
(Eleito)
O deputado Marcus Vinicius Teixeira Soares dos Santos
foi detido duas vezes nos EUA por imigração ilegal. Eleito pelo círculo
eleitoral do Porto, foi detido em 2004 e 2005 nos Estados Unidos por
"violação das regras de imigração" do país. Foi um dos maiores
críticos da "contratação" da ex-deputada do PAN, Cristina
Rodrigues, com quem divide bancada.
18 - RAÚL GABRIEL PALHA DE BESSA MELO (Eleito)
Em 2024 era sétimo na lista do Porto, este ano estava
na oitava posição. Em 2023 foi acusado por outro militante do Chega
(ex-candidato à liderança do partido) de o ameaçar fisicamente recorrendo às
redes sociais. O militante que fez a acusação divulgou uma alegada troca de
mensagens entre ambos.
SETÚBAL
19 - RITA MARIA CID MATIAS (Eleita)
Rita Maria Cid Matias é outro dos rostos de maior
destaque no partido. Seja pela sua juventude, seja pelas suas intervenções. O
seu pai foi assessor do Chega. Dizem ser a responsável pelas redes sociais
do partido. É acusada de ter plagiado (em 2021) um discurso da Giorgia Meloni,
primeira-ministra italiana. No ano passado também recorreu a palavras de Javier
Milei, presidente da Argentina.
20 - RICARDO LOPES REIS (Eleito)
Ricardo Lopes Reis era até agora assessor do Chega.
Número seis por Setúbal, conseguiu agora ser eleito deputado. Está a ser
investigado, pela Procuradoria-Geral da República por incitamento ao ódio e
violência, juntamente com Pedro Pinto e André Ventura. "Menos um
criminoso... menos um eleitor do Bloco", escreveu na rede X e a publicação
acabou por se tornar viral. A sua conta foi, entretanto, encerrada.
VIANA DO CASTELO
21 - EDUARDO ALEXANDRE RIBEIRO GONÇALVES TEIXEIRA
(Eleito)
Eduardo Alexandre Ribeiro Gonçalves Teixeira antes de
ser eleito pelo Chega foi deputado pelo PSD e, ainda nessa condição, está
a ser investigado em dois processos devido a falsas presenças na Assembleia da
República.
VILA REAL
22 - MARIA MANUELA PEREIRA TENDER (Eleita)
Maria Manuela Pereira Tender, ex-militante do PSD foi
afastada do partido nas listas de 2019. Esteve envolvida no escândalo das
falsas presenças no Parlamento em 2018. Depois desfiliou-se do partido e acabou
por se ligar ao Chega. Também estará sobre investigação.
VISEU
23 - JOÃO JOSÉ RODRIGUES TILLY (Eleito)
João José Rodrigues Tilly volta a sentar-se no
Parlamento. Mesmo depois de em 2024 ter visto aprovado o levantamento de
imunidade parlamentar para responder num processo onde estava acusado de
difamação. Fernanda Marques Lopes, antiga presidente do Conselho de
Jurisdição do Chega, apresentou uma queixa e foi aberto um processo-crime. No
entanto, acabou por chegar a acordo com a ex-colega de partido, em janeiro
deste ano, e aceitou pagar indemnização (um quarto do pedido) para não ir
a julgamento. Em 2021 apresentou-se como negacionista das vacinas do Covid-19,
falando em "lobby farmacêutico", mas acabou por admitir que se tinha
vacinado meses depois.
Mas a última polémica em que esteve envolvido
prendeu-se com o ensino especial e aconteceu já este ano, em fevereiro. Apesar
de considerar que a educação especial era importante, JoãoTilly considerou
o ensino geral “muito mais importante”. E afirmou: “E esse está esquecido e
ignorado. Afinal, nós somos um país de alunos com deficiência ou somos um país
de alunos normais? O que é que está a provocar este número incrível de tantos
alunos com deficiência cognitiva?”. A sua intervenção provocou uma reação de críticas
em cadeia, das mais diversas áreas.
OS DEPUTADOS QUE AINDA FALTA APURAR
Por apurar estão ainda os quatro deputados dos
círculos da Imigração. Europa e fora da Europa. No ano passado o Chega elegeu
dois deputados nestes círculos. Na corrida para serem eleitos há dois nomes das
listas do partido que viram a justiça cruzar-se no seu caminho. Estes
resultados devem ser conhecidos antes do final do mês de maio.
EUROPA
24 - JOSÉ DIAS FERNANDES
José Dias Fernandes é o escolhido pelo Partido para o
círculo da Europa. Antes de se filiar no Chega, o deputado (que já estava
na Assembleia da República e deverá continuar) fez campanha pelo CDS-PP nas
legislativas de 2019. Vive em França desde a década de 70 e esteve ilegal
durante muito tempo. Chegou a ser expulso do país por duas vezes. E já
confessou que ajudou muitos imigrantes ilegais neste país europeu.
FORA DA EUROPA
25 - MANUEL MAGNO ALVES
Manuel Magno Alves já tinha sido candidato do PSD por
este mesmo círculo. O deputado entregou o seu apartamento no Brasil, em São
Paulo, para pagar uma dívida de cerca de 50 mil euros de uma empresa sua
propriedade que fechou portas. A entrega foi feita após acordo judicial.
A lista divulgada pelo Chega tinha 307 nomes e era
sabido que a maioria não era elegível. Havia também uma garantia: cinco
eleitos em 2024 estavam fora da lista de 2025.
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