Vida pessoal
Apesar de os documentos oficiais indicarem que nasceu em 23 de julho, a própria Amália afirmou que o seu aniversário era na verdade 1 de julho de 1920. Nasceu na Pena , freguesia de Lisboa , Portugal. A sua família materna tinha raízes no Souto da Casa, freguesia do Fundão , centro de Portugal, onde o avô de Rodrigues trabalhava como ferreiro. O seu pai era Albertino de Jesus Rodrigues, natural do distrito de Castelo Branco, em Portugal, e a sua mãe era Lucinda da Piedade Rebordão, da freguesia do Fundão , também no distrito de Castelo Branco.
Na Igreja Paroquial do Fundão encontra-se a certidão de baptismo de Rodrigues, documento também publicado no Diário do Fundão após a morte da cantora, na sequência de uma investigação de Salvado J. Travassos que também descobriu a sua certidão de nascimento. De acordo com o depoimento de José Filipe Duarte Gonçalves, a irmã dela, Celeste , nasceu em Lisboa (para além de outra criança falecida). Rodrigues cresceu na pobreza. Ela cresceu fazendo bicos, como vender frutas no cais de Lisboa.
Cantando carreira
Rodrigues começou a cantar por volta de 1935. O seu primeiro envolvimento profissional numa casa de fado aconteceu em 1939, tendo sido convidada em revistas musicais. Nessa época conheceu Frederico Valério, compositor de formação clássica que reconheceu o potencial de Amália e compôs inúmeras melodias especialmente pensadas para ela - acrescentando acompanhamentos orquestrais. Por exemplo, 'Fado do Ciúme', 'Ai Mouraria', 'Que Deus Me Perdoe' e 'Não Sei Porque Te Foste Embora.'
No início dos anos 1940, Amália tornou-se uma cantora de renome em Portugal. Rodrigues começou a atuar com um filme de estreia em 1946 intitulado 'Capas Negras' seguido do seu filme mais conhecido, 'Fado' (1947).
Ganhou popularidade na Espanha e no Brasil (onde, em 1945, fez suas primeiras gravações no selo brasileiro Continental) onde passou uma temporada e Paris (1949) onde residiu. Em 1950, enquanto se apresentava nos espectáculos beneficentes internacionais do Plano Marshall, apresentou ao público internacional a canção ' April in Portugal ', sob o título original "Coimbra".
No início dos anos 1950, o envolvimento do poeta português David Mourão-Ferreira marcou uma nova fase na sua carreira, em que poetas importantes escreviam especificamente para ela.
A popularidade de
Amália enquanto cantora nascera das suas actuações em casas de fado, mas também
das suas presenças no teatro musicado popular (revista ou opereta), onde aliás
criara alguns dos seus maiores sucessos. Num meio cultural e musical
razoavelmente pequeno, seria uma questão de tempo até o cinema se interessar
por esta voz que arrastava multidões.
Tudo começaria por uma falsa partida:
António Lopes Ribeiro convida Amália para entrar em "O Pátio das
Cantigas" (1941). "Chumbada" pelo maquilhador do filme conforme
Pavão dos Santos cita na sua biografia da cantora só em 1946 surgirá uma nova
oportunidade.
Ao lado de Alberto Ribeiro, galã da
canção popular dos anos 40, Amália surge no melodrama de Armando de Miranda
"Capas Negras" que, à sua estreia em Maio de 1947, bate todos os
recordes de bilheteira da altura, com cinco meses consecutivos em cartaz.
"Fado História de uma
Cantadeira" o pretexto de todo este dossier, e que se aborda mais em
profundidade aqui é o filme seguinte na carreira de Amália,
outro triunfo comercial do qual a actriz-cantora não gostava especialmente,
sobretudo devido àquilo que considerava o artificialismo dos diálogos e
situações, alegadamente inspirados na sua própria vida (o que não passou de uma
manobra publicitária).
Logo nestes filmes se cristalizou a
Amália-actriz como uma vedeta à volta da qual se montavam os filmes, escolhida
não pelo seu talento de actriz (que, aliás, os guiões nem sequer exploravam)
mas pela sua popularidade e pelo seu valor de bilheteira. Essa imagem é
confirmada pelas suas presenças em "Sangue Toureiro" (1958), de
Augusto Fraga, e "Fado Corrido" (1964), de Jorge Brum do Canto filmes
dos quais a própria Amália tinha má impressão e que fez em parte por amizade
pelos realizadores, embora considerasse que em "Fado Corrido"
conseguira criar "uma presença completamente diferente de mim" e
"Os Amantes do Tejo" (1955), de Henri Verneuil, parcialmente rodado
em Lisboa. O filme de Verneuil dava a Amália um papel secundário razoavelmente
importante, mas a sua escolha por parte dos produtores franceses ficara a
dever-se essencialmente aos seus dotes vocais e à sua crescente popularidade
internacional.
As "anomalias" neste retrato de uma Amália actriz limitada pelos
papéis que lhe eram oferecidos são duas, ambas estrondosos insucessos
comerciais. A primeira é "Vendaval Maravilhoso" (1949), ambiciosa
co-produção luso-brasileira dirigida por Leitão de Barros onde se traçava o
retrato de Castro Alves, poeta brasileiro dedicado à abolição da escravatura.
Vedeta incontornável em ambos os países, Amália já não era aqui uma variação
sobre a sua própria imagem pública mas uma figura histórica, Eugénia da Câmara,
"modificada" o suficiente para lhe permitir criar o "Fado
Eugénia da Câmara" que se tornaria num dos seus clássicos deste período.
Mas o filme (invisível hoje por se ter perdido o negativo original, existindo
apenas uma cópia de imagem) é um monumental fracasso que levaria Leitão de
Barros a abandonar o cinema.
A segunda é o "adeus" de Amália ao cinema, já que depois de "As
Ilhas Encantadas" (1965) não voltaria a filmar. Adaptando uma novela de
Herman Melville, o filme de Carlos Vilardebó encaixaria hoje na definição de
"arte e ensaio", mas na altura foi um insucesso de bilheteira,
defrontando a perplexidade de um público que esperava reencontrar nele a Amália
de todos os dias e descobria antes uma actriz dando corpo a uma personagem.
Ironicamente, este filme valeria a Amália o Prémio do Secretariado Nacional de
Informação (estrutura de propaganda do regime salazarista) para Melhor Actriz,
prémio que a cantora bisava vinte anos depois de "Fado História duma
Cantadeira"?
Amália participou ainda como convidada especial em "Sol e Touros"
(1949), de José Buchs, para interpretar no ecrã o "Fado do Silêncio",
e teve vários outros projectos cinematográficos que ficaram por concretizar.
Alguns deles acabariam por ir para a frente com outras actrizes no papel
destinado originalmente a Amália ("Eram Duzentos Irmãos" ou "Les
Lavandiéres du Portugal") enquanto outros nunca passaram da intenção (a
adaptação de "Bodas de Sangue", de Garcia Lorca, que Anthony Quinn
desejava produzir propositadamente para Amália, gorada por questões de
direitos).
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