UM VERDADEIRO ARTISTA OU TUDO BONS
RAPAZES?
Joe Berardo já foi alvo de execução de
dívidas por parte da CGD. Segue-se o BCP?
Auditoria não encontrou aval pessoal de 37,8 milhões que Joe Berardo teria entregue à Caixa Geral de Depósitos
Joe Berardo terá entregue um “aval pessoal” no valor de 37,8 milhões de
euros à Caixa Geral de Depósitos no final de 2008, como garantia de parte das
suas dívidas para com o banco. De acordo com o jornal Público, a auditoria
feita à gestão da Caixa revela que esse aval - que permitiria recorrer ao
património do empresário para pagamento dos créditos - nunca chegou a ser
executado, nem nunca chegaram a aparecer provas da sua existência
Ações do BCP e um “aval pessoal” no valor de 37,8 milhões de euros. Foram
estas as duas garantias dadas por Joe Berardo à Caixa Geral de Depósitos no
final de 2008, numa altura em que as suas dificuldades financeiras já não eram
uma novidade: as dívidas totalizavam mais de 347 milhões de euros. As ações do
BCP acabariam por ser vendidas, mas com uma desvalorização muito acentuada.
Quanto ao “aval pessoal”, não foi encontrada qualquer prova da sua existência,
de acordo com as conclusões de um relatório da Ernst & Young citadas pelo
jornal Público.
Vamos por partes. Um “aval pessoal” é uma garantia que permite à entidade
que o recebe recorrer aos tribunais a fim de concretizar uma espécie de
cobrança coerciva. Ou seja, recorrer ao património do devedor cujo valor
permita liquidar as suas dívidas.
O grosso dos créditos de Berardo para com a Caixa Geral de Depósitos foi
contraído entre Julho de 2007 e Maio de 2008. Estávamos então no auge da guerra
pelo controlo do BCP, com o dinheiro a servir para financiar o empresário
madeirense na luta contra o histórico fundador do banco, Jardim Gonçalves.
Os problemas começaram a agravar-se no início do ano de 2008. As ações do
BCP começam a afundar-se, o que significa que a garantia dada por Berardo para
conseguir o empréstimo valia cada vez menos. A 16 de janeiro desse ano os
títulos caíram abaixo de 1,87 euros, o valor que havia sido calculado pelos
serviços da Caixa para cobrir a dívida. O primeiro grande problema recaiu neste
ponto. Em vez de vender as ações que tinham sido entregues como garantia a
partir do momento em que o valor destas começou a cair abruptamente, a gestão
da CGD foi arrastando a decisão, acabando por ficar com uma carteira de títulos
ultra desvalorizada.
De acordo com uma ata de uma
reunião da Direção Geral das Grandes Empresas da CGD, realizada a 9 de dezembro
de 2008, já aí se conclui que a exposição do banco público a Berardo passava os
347 milhões de euros.
Destes,
cerca de 200 milhões - o equivalente a 60% da dívida - encontram-se sem
cobertura.
O banco exige assim um reforço das garantias: penhor adicional de títulos
do BCP, um penhor de títulos da Portugal Telecom e um penhor de 40% da
Associação Coleção Berardo.
Já o montante emprestado à Fundação Berardo, de 37,8 milhões de euros, é
garantido através de um “aval pessoal” do comendador. De acordo com o Público,
a 3 de novembro de 2008 foram
liquidados juros de mais de 1 milhão de euros face a esse valor em dívida, mas
o montante em causa nunca foi executado.
Esta não seria no entanto a primeira vez que o mecanismo jurídico de um
"aval pessoal" aparecia como forma de garantia face às dívidas
contraídas por Berardo junto do banco.
A 7 de fevereiro deste ano a revista Sábado avançou o conteúdo da ata de
uma reunião do Conselho Alargado de Crédito do banco público, datada de março de 2007, em que
foi aprovado um financiamento de 350 milhões de euros ao empresário madeirense.
Para conceder o empréstimo, o Conselho exigia que o valor das ações que
Berardo deu como garantia fosse
revisto trimestralmente. Caso o valor caísse, o empresário teria de dar
mais garantias e o tal “aval pessoal”. No entanto, menos de um mês depois,
nessa altura a necessidade de um "aval pessoal" acabaria por ser dispensada, de acordo
com a Sábado. E a taxa de juro do empréstimo também acabaria por ser
revista em baixa, sem que se conheça justificação para isso.
O
relatório final da auditoria independente aos atos de gestão na Caixa Geral de
Depósitos, no período compreendido entre dos anos 2000 e 2015, conclui que o
banco não disponibilizou informação “que permita verificar” se Berardo entregou
efetivamente um aval pessoal.
Ou seja, o banco não entregou à auditora qualquer prova da existência concreta
dos 37,8 milhões de euros de bens pessoais que Joe Berardo teria entregue como
garantia para obter o crédito.
As dívidas de Berardo para com a Caixa Geral de
Depósitos, que ascendem a 347 milhões de euros, são um dos vários créditos
tóxicos que a Caixa nunca conseguiu recuperar. Situação que levou à necessidade
de uma recapitalização do banco, no valor de 4,9 mil milhões de euros.
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