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domingo, 12 de julho de 2015

O JANTAR DOS OFICIAIS¹


“Os Governos e os políticos passam,
Mas a Instituição Militar fica.”

Da sabedoria dos povos.

No pretérito dia 25 de Junho, cerca de 150 oficiais reuniram-se num jantar de reflexão sobre a situação das Forças Armadas (FA) –leia-se as últimas malfeitorias que o Poder Político tem feito à Instituição Militar.
Este jantar sendo promovido/organizado por vários oficiais generais, alguns ex-chefes militares (ou seja o expoente da hierarquia, em diferentes épocas) teve, aparentemente, como núcleo duro, uma novel organização chamada Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI) mas, na prática, quem fez a mobilização foi a Associação dos Oficiais das FA (AOFA), com umas pitadas da Associação 25 de Abril (25A), senão a coisa arriscava-se a ser um “flop”. Pessoal do activo nem vê-los...
Este jantar, para não ir mais atrás, vem na sequência de um outro, ocorrido em Fevereiro de 2013, desta vez organizado discretamente pela AOFA, que conseguiu agregar alguns generais incluindo o muito conhecido General Loureiro dos Santos (LS) que terá imposto condições, como por exemplo, ser o único a falar no jantar e para a imprensa. O que aconteceu.
O General LS voltou também a ser uma figura central deste último encontro a que se acrescentou a voz “off” do General Eanes através de uma missiva enviada e lida no evento.²
Ora neste ciclo de jantaradas nunca aparece claro quem os promove, nem o objectivo a alcançar.
Esta primeira reflexão que deixo.
A segunda tem a ver com a fraca mobilização registada.
A resposta é simples, embora complexa, nos seus fundamentos.
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¹Este trabalho foi escrito sem qualquer preocupação de tempo ou de espaço.
²Uma missiva que, para além de um elogio ao GREI e à 25A, é intragável do ponto de vista do entendimento.




Simples, porque tem origem nas sequelas do 25/4 e do PREC e de tudo o que originou, o que dividiu profunda e irremediavelmente a Instituição Militar (IM) e os militares, deixando profundas feridas na Ética e Deontologia Militares, na coesão, confiança, camaradagem e espírito de corpo, dos três ramos das FA e que causou um imenso lastro de má consciência e falta de auto estima, ficando a IM de mal com ela própria e a Nação com ela...
Não vale a pena continuar a tentar escamotear o assunto, que é a razão principal do mesmo nunca ter sido resolvido, tão pouco atenuado.
Deste modo, nunca se fez um exame de consciência e reflexão interna, nem ocorreu a ninguém com responsabilidades, tentar separar o trigo do joio, julgando quem se tinha portado segundo os “ditames da virtude e da honra”, como prescrevia o velhinho e saudoso RDM, e os outros...
Ao contrário, criou-se basta legislação para passar um pano por tudo; colocando todos no mesmo “saco” e promovendo todo aquele que requeresse – mesmo em situações absolutamente iníquas – a coronel ou sargento-chefe.³
A grande desculpa para toda esta imoralidade (que custou aos cofres do Estado grossos cabedais) foi a de “apaziguar” a família militar e colmatar injustiças cometidas no tempo da “loucura”.
Convenhamos que justiça não se fez nenhuma, pois a justiça não pode pactuar com iniquidades, nem se curaram quaisquer feridas por sarar.
Apenas se “comprou” e calou, consciências, pois a carne é fraca!...
Não consta que algum político ou militar proeminente tenha contestado toda esta vergonha que comprometeu a IM por gerações.4
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³ Até a “classe” dos oficiais generais, que tinha sido preservada deste tipo de promoções, acabou por ser atingida aquando da promoção do Coronel Jaime Neves a Major General, o que era perfeitamente dispensável e não lhe acrescenta nada ...
4 E não resisto a lembrar aquela distribuição pindérica de medalhas a granel, quase em regime de “self service”, promovida por esse monumento à demagogia populista, conhecido na gíria pelo “Paulinho das feiras”, junto ao pavilhão Portugal, da Expo...



As divisões ideológicas e de grupos de interesse, associadas à acção deletéria dos Partidos Políticos – verdadeiros cancros da organização política portuguesa – fazem o resto. E vamos ficar por aqui.
Ou seja, está tudo dividido e, ainda hoje, o público – alvo destes jantares, sendo uma maioria alargada de pessoas que viveram ou se lembram daqueles tempos conturbados – perguntam-se de imediato, quando confrontados com iniciativas destas, quem organiza e com quem se vão eventualmente cruzar...
A isto junta-se a doença, o cansaço e a velhice. Sobretudo a descrença.
E como pano de fundo de tudo é mister não esquecer que vivemos num país de gente zangada. A tropa, talvez mais do que qualquer outro grupo profissional.
*****
Agora seguem as razões para o pessoal, do activo, andar arredio. Uma razão sobreleva todas as outras: a sobrevivência. Sobrevivência dentro e sobrevivência fora das FA. Já toda a gente percebeu há muito, que a política e a opinião publicada não liga peva às FA e estas estão a ser liquidadas.
Os militares passaram a ser uma espécie de patinhos feios da sociedade e quando não são objecto de tiro ao pato como numa feira, são votados ao silêncio, que é uma forma de desprezo. Não existem.
Aliás, se amanhã acabassem com os Chefes de Estado – Maior, ninguém ia dar por isso.
Mantendo-se os deveres, cortam-lhes os direitos e amesquinham-lhes a condição militar e de militares.
Os militares estão órfãos de liderança e não têm qualquer representação política. Estão, por isso, quase todos a abandonar o barco.
Depois há muito que a sociedade transformou as novas gerações, maioritariamente em tecnocratas, e os ideais e estilos de vida propalados e desejados são a antítese do que se passa e deve passar na IM. Por isso o estatuto da Condição Militar e todos os regulamentos têm sido modificados para se “adaptarem” a isto.
Os exércitos como os conhecemos hoje estão em regressão e a desaparecer e a ser substituídos (no “Ocidente”, é claro) por empresas privadas de segurança – um modo moderno de mercenarismo – e breve virá o dia em que militares de um país poderão servir em exércitos alheios...
Também nunca vimos nenhuma chefia militar, tão pouco o Conselho de Chefes, preocupados com isto.
Por último, o medo: naturalmente os militares do activo têm receio(leia-se medo) de serem prejudicados numa carreira, entretanto destruída, sem que disso ainda tenham consciência completa.
Numa palavra, “estão noutra”, até porque houve um chefe militar de estrelas douradas que, num dia já recuado, disse que não era chefe sindical...
Sem embargo o emproado MDN, tracinho Branco cujo estado normal é o de “equivocado” (olha que surpresa!), no dia seguinte ao jantar veio afirmar, com pesporrência, que “não tem dúvidas que a maioria dos militares concorda com as reformas”.
Afirmação (se é que acredita nela) apenas possível numa personalidade atrevida, baseada em ignorância grosseira e toleima, condimentos óptimos para toldar o espírito e o senso.
*****
Chegados aqui, é mister dizer que tudo o que se puder fazer para parar e reverter o escandaloso dolo que está a ser infligido à IM e aos militares, é bem - vindo.
E, nalguns casos, até se pode dizer, que vale mais tarde, que nunca...
Contudo é preciso equacionar isto bem e ter algum cuidado com o que se faz ou venha a fazer.
Por exemplo, o comportamento dos chefes militares (hoje todos na reserva ou reforma), que ao longo dos tempos, tem dado origem à célebre premissa de que são por norma muito “reservados quando estão no activo, e muito activos quando estão na reserva”...
Ora isto retira, à partida, na grande maioria dos camaradas mais antigos entre os mais antigos, credibilidade para um conjunto de tomadas de posição, caso não haja um qualquer “mea culpa”, ou explicação da sua actuação, num qualquer assunto concreto (e nunca houve).
É no activo que as tomadas de posição são fundamentais e colhem importância acrescida.
Todos sabemos que os militares foram e são educados para obedecer e para actuarem em função da cadeia hierárquica, mas também sabemos que foram preparados, outrossim, para liderar, para decidir, para terem coragem moral, iniciativa e muitas coisas mais.
E, também, que qualquer militar pode dizer o que lhe vai na alma desde que na “posição de sentido”! Coisa certamente difícil de entender a um civil....
É certo que alguns chefes militares escreveram ou disseram coisas duras sobre vários assuntos (mas que se perderam no segredo dos gabinetes); que alegaram o sentido de Estado (que mais ninguém aparenta ter); outros deram o benefício da dúvida aos políticos –que na sua maioria “odeiam” os militares (outra reflexão: porquê?) - e que todos alegam que se demitirem ou forem demitidos, existe um pelotão de outros estrelados em bicos de pés para ocuparem o lugar - o que a demissão, mal conduzida, aliás, do General Loureiro dos Santos (LS) como CEME, veio dramaticamente revelar ser verdade...
Mas nunca houve, nem nunca se percebeu que houvesse, qualquer estratégia de actuação com um rumo ou fio condutor e o Conselho de Chefes tem feito jus ao General Romano que do alto da sua sabedoria sentenciou a existência de um povo nos confins de Espanha, que não se governava nem se deixava governar...
Ou seja em 40 anos nunca se entendeu sobre nada, e o nada, vai da cor dos atacadores das botas à compra de submarinos...
Exemplo máximo disto é que a reforma dos Serviços de Saúde Militar ter estado em cima da mesa desde o tempo do General Melo Egídio como CEMGFA (1977) e passados 35 anos apenas haviam sido feitos alguns remendos!
Quando o ataque do poder político se começou a fazer sentir, sobretudo a partir de 1989 o que foi feito para se evitar uma longa lista de barbaridades feitas à IM e aos seus servidores?
Vamos dar alguns exemplos sem qualquer preocupação de hierarquia de importância, ou temporal.
O que se fez até hoje:
 Para repor a verdade dos factos e das intenções, relativamente às últimas campanhas ultramarinas?5
 Para repor a dignidade dos combatentes e preservar a sua homenagem e memória? (lembra-se, por exemplo, que até ao consulado do PR Cavaco Silva, as FA estiveram escovadas das comemorações oficiais do Dia de Portugal!);
 Como oposição e repúdio polo fim do Serviço Militar Obrigatório - uma decisão trágica do ponto de vista cívico e da Defesa Nacional! – e o que se fez para a sua reposição?
(para já não falar naquela farsa trágico - cómica do SMO de quatro meses...);

 Para evitar que os militares tenham sido corridos de praticamente todas as funções/cargos fora da estrutura das FA?
 Para evitar a destruição do estatuto da reserva?
 Para ter uma política activa de relações públicas? Lembram-se de quando o Ministro passou o gabinete de relações públicas do EMGFA para o seu gabinete e acabaram com a revista “Baluarte”, que seria substituída por outra a copiar da Existe aqui uma excepção: os livros publicados pela Comissão para o Estudo das 5
Campanhas Ultramarinas (CECA), tutelada pelo Exército, têm sido um bom contributo.
Mas, ó ironias do destino, nem os conseguem comercializar!
“Defensa” espanhola? Pois é, até hoje nada se fez que jeito tivesse, e a revista finou-se;
 Para defender institucionalmente a IM, as FA e os militares, evitando a necessidade da existência de Associações de Militares?
 Para evitar a destruição dos Tribunais Militares, do foro próprio militar e do esfrangalho actual da Justiça Militar? (A que, apesar de tudo, os tribunais civis tem dado alguma dignidade de acolhimento!);
 Para evitar a subversão do Regulamento de Disciplina Militar?
 Para evitar que as chefias militares deixassem de ser pagas pela grelha salarial das FA, para estarem indexados aos cargos políticos?
 Para evitar que a escolha e nomeação das chefias militares sejam feitas no actual quadro legislativo, que as torna, na prática, uma espécie de comissários políticos para as FA?
 Para que os chefes militares possam ir falar livremente á Assembleia da República, em assuntos da sua competência em alturas e formas a determinar? Ou até a seu pedido?
Exemplo: aquando da discussão do CEDN; Leis Orgânicas dos Ramos; Orçamento para a Defesa; Leis de Programação Militar, etc., e não apenas quando a Comissão Parlamentar de Defesa assim o entende?
 Para evitar que um oficial influa, da pior maneira e desde capitão, nos assuntos das FA, Defesa, e Segurança, estando no activo (até há pouco) e ligado a um partido político?
 Para evitar a destruição quase completa da Indústria de Defesa?6 Já repararam certamente e por exemplo, que quando há queimas das fitas ou até a bênção das mesmas, nas Universidades, as televisões e demais OCS passam um caudal de noticias, onde por vezes só aparece desbunda, bebedeiras, praxes obscenas e outro folclore académico. Pergunto: qual dos leitores se lembra da última vez que viu/ouviu/leu, uma notícia sobre um Juramento de Bandeira? 6
 Em termos de solidariedade para com oficiais generais que foram humilhados publicamente, tirando um jantar de solidariedade ao General Viegas quando numa jogada de mestre, se demitiu de CEME alegando que tinha perdido a confiança no MDN? (onde só participaram generais do mesmo ramo). E, ainda – é justo referir – quando o CEMGFA General Soares Carneiro se solidarizou com o Almirante Cerejeiro e demais juízes do Supremo Tribunal Militar, após a incrível cabala de que foram alvo?
 Para evitar a degradação, assalto e destruição do IASFA?
 Para evitar o fim do fundo de pensões?
 Para evitar o fim do complemento de reforma?
 Para evitar o assalto e alienação da maior parte do património sob a tutela das FA, em condições que deixam muito a desejar?
 Para evitar reformas malsãs nos colégios militares e o encerramento do Instituto de Odivelas?
 Para evitar a venda de parte dos F-16?
 Para evitar a constituição de grupos de trabalho “ad-hoc”,para tratarem assuntos que dizem respeito aos Estados -Maiores dos Ramos? (o que foi posto em prática pela 1a vez em 1989, estava eu na DGPDN, e nunca mais parou até hoje)?
 Para evitar que a estrutura do MDN tenha sido tomada de assalto por civis, muitos deles ligados a estruturas partidárias e, até, sem passarem pela tramitação legal existente?
 Para reagir a desaforos e humilhações, como representou a destituição do CEMGFA – Almirante Fuzeta da Ponte; o desrespeito contumaz de Paulo Portas, quanto MDN e as incríveis declarações do Professor Freitas do Amaral a mandar almirantes e generais irem andar de bicicleta? (E tantas outras!).
 Para em vez de se tentar harmonizar o ensino militar com o civil, se deixasse “invadir” aquele por este, ao ponto de se já ter tentado colocar um professor universitário civil à frente de uma hipotética universidade militar? Neste âmbito, que é o último “nicho” de especificidade militar relevante, ainda restante, vai ser alvo de continuados ataques e não vão descansar enquanto não destruírem as Academias Militares!
 Evitar o recente congelamento das promoções, atitude dez vezes mais gravosa e paralisante, que o infeliz decreto-lei 353/73, que deu origem ao feriado que hoje gozamos em Abril?
 Para evitar, finalmente, que se aprovasse este malfadado EMFAR, preparado quase na clandestinidade, sem percorrer todos os trâmites legais em vigor e sem que algum do seu conteúdo tivesse passado pelos Estados-Maiores dos Ramos?
*****

Como se isto não bastasse os militares ainda se entretêm, de quando em vez, a dilacerarem-se mutuamente e a fazerem tristes figuras de si próprios.
Segue uma “short list”:
 As constantes “guerras” para ver quem fica com mais um
 O “golpe de mão” do Exército à FA, que constituiu a
 O encerramento do Regimento de Comandos seguido da
 Encerramento do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, sistema de armas, nas Leis de Programação Militar, e na ida de forças destacadas para o exterior; passagem do Corpo de Tropas Paraquedistas, para aquele Ramo; sua reactivação, seguido da mudança da sua localização, por quatro vezes; logo seguido da sua reativação, sem melhoria de instalações, por décadas (dá ideia de que ninguém sabe o que quer!);
 Oposição de alguns Chefes a mudanças na macro estrutura das FA, seguida da sua aceitação e implementação, aquando de promoção e mudança de função;
 Incapacidade manifesta de lidar com a gestão do pessoal e suas carreiras, havendo a registar 40 anos de caos sem a mínima possibilidade de reestruturar fosse o que fosse;
 Incapacidade manifesta de lidar com a retenção/saída de especialidades com maior apetência para procurar emprego no mercado civil, de cujo expoente (mas não único) são os pilotos. Nunca se tentou lidar com isto seriamente, havendo um constante mudar de agulhas e falta de entendimento crónico;
 Incapacidade em haver uma estratégia para lidar com a Protecção Civil e sobretudo com a questão dos fogos de onde se destaca a magna questão da operação de meios aéreos (que nunca deviam ter saído da FA!);
 A displicência com que se encarou as hipotéticas mudanças de dispositivo, aquando das tentativas frustradas da construção do novo aeroporto de Lisboa, sobretudo a de Rio Frio, por causa do Campo de Tiro de Alcochete (e não só). Aliás qualquer parecer de um grupo ecologista ou similar, tem de longe mais importância do que qualquer parecer sobre aspectos de Defesa e Segurança Nacionais, os quais por norma não são pedidos quanto mais atendidos. Nada que tenha perturbado, porém, o equilíbrio psicossomático das chefias militares, que apostam sempre em estar “serenas” e serem “parte da solução e não do problema”...
 Outra questão que dilacerou os Ramos foi a controvérsia sobre a quem deveriam pertencer os meios aéreos de asa rotativa, assunto que se arrastou por anos;
 O recente episódio em que um alto chefe militar pediu para passar à reforma, tendo ficado no activo e a posterior
 Finalmente diz a declaração tornada pública no fim do incrível posição da Caixa Geral de Aposentações sobre o assunto, e de todos os outros que ficaram a ver...jantar, repudiar “a tentativa de desresponsabilização política da tutela, que sempre tem feito o anúncio público das medidas tomadas, escudando-se na participação e concordância das Chefias Militares”; é verdade e tal tem constituído uma iniquidade política, institucional e pessoal.
Porém, até hoje, e já lá vão muitos anos, nunca houve um qualquer desmentido de uma única dessas chefias, ao passo que muitas vezes as mesmas, se têm deixado arrastar para conferências de imprensa, onde algumas medidas foram apresentadas, sentando-se ao lado daqueles que usam o título de MDN – sem que, até hoje nesta República, algum tenha exercido tal cargo7
*****

.
Numa palavra, não foi por acaso que a IM chegou ao ponto a que chegou.
Só é respeitado quem se dá ao respeito. E as Forças Armadas, por tudo o atrás descrito, e não só, deixaram de se dar ao respeito.
O País está, neste momento, desprotegido, num dos pontos mais baixos da sua História em termos de Poder efectivo.
A tropa está desmoralizada; o país não tem reservas de espécie alguma (tirando crude, parte do qual está guardado fora do país!); não tem capacidade de produzir uma munição de qualquer calibre e nem sequer é capaz de mobilizar parcialmente, uma pequena parte da sua população, não só porque o sistema de mobilização foi destruído, como, também, por não ter sequer botas para calçar, digamos, 500 indivíduos de uma só vez...
7 Dado que a única coisa que fizeram, foi o de serem ministros para as FA!
Ora em toda esta débacle não podemos em verdade dizer, que as sucessivas chefias militares não têm vastas culpas no cartório, não só por acção mas, sobretudo, por omissão e demissão.
E devem arcar com a sua parte de responsabilidade pela situação a que chegámos.
*****

Desde meados de 1976 e até hoje, tenho tentado denunciar e inverter toda esta situação a qual, ao contrário da maioria, sempre considerei atentória da IM e da Nação.
O resultado foi, a páginas tantas, terem-me punido – diga-se em abono da verdade, com alguma razão – e não descansaram enquanto não me puseram fora do serviço activo.
Fora processos em tribunal, outras ameaças e uma censura cerrada a muitos níveis.
Espero, contudo, continuar a denunciar o que entendo por denunciável, mesmo depois de morto.
Mas, como disse, vale mais tarde que nunca e tudo o que se puder fazer para corrigir os erros manifestos e punir o dolo perpetrado, é bem - vindo.
E parece que, mesmo antigos chefes militares por mais “compreensão” que tenham tido pela actuação dos políticos para com as FA, passaram a estar revoltados com a soma de malvadezas, algumas roçando a humilhação, que têm sido perpetradas - estas últimas sobre o pessoal na reserva poder ir para continuo duma escola, ou os preceitos a que agora estão obrigados os da reforma relativamente ao uso e porte de armas, são disso o derradeiro expoente.
Espero que seja a consciência de velhos soldados, cuja formação militar deixa marcas indeléveis, a vir ao de cima!
*****

Voltemos ao jantar e outras eventuais iniciativas já tomadas ou a tomar.
Não só é adequado mas essencial, que tudo o que se faça, não tenha conotações partidárias, se confunda com apoios espúrios eleiçoeiros e, ou, não se encontre ligado ou infiltrado pelas diferentes maçonarias existentes.
A única ideologia deve ser a da dignidade da IM e dos militares; a doutrina, o patriotismo e a estratégia, a defesa da independência e perenidade de Portugal.
Sobre cujas sucessivas machadadas, a hierarquia, aos costumes tem dito nada. Será que pensam que tal não cabe nos seus deveres?
Os leitores certamente já repararam que sobre a figura do Presidente da República, que ostenta – mas apenas ostenta – o honorífico título de “Comandante Supremo das FA”, nada disse.
Para quê? Desde Eanes que sobre as FA todos têm sido de uma vacuidade cujo esplendor brilha nas frases de circunstância (tirando o que atrás foi dito sobre o actual PR relativamente às FA terem lugar de destaque no dia de Portugal e onde passaram também a desfilar grupos de antigos combatentes).
Houve até um – que em tempo de guerra foi dispensado de ir à tropa por ter os pés chatos - que se cobriu de ridículo ao escrever um artigo no Diário de Noticias apelando a que devia haver mais debate sobre as FA...
Por último, analisemos o que se passou no jantar.
Primeiro, foi um bom negócio para o Hotel Mundial.
Foi lida uma mensagem do General Eanes, a qual, salvo melhor opinião, foi perfeitamente deslocada para o âmbito para que foi dirigida.
Foi lido um pequeno comunicado – que tenho por bem escrito – à comunicação social que toca em alguns pontos pertinentes (era muito difícil ser mais abrangente/sintético para o objectivo de fazer passar uma mensagem para a comunicação social), tendo, porém, tido pouco eco, na mesma e nos comentadores de serviço.
No fim do jantar, onde não estava previsto ninguém falar – não se percebe, contudo, como se pode debater ou refletir sobre algo, se ninguém fala - um oficial mesmo sem lhe ser dada a palavra e com decibéis elevados colocou uma pergunta pertinente: E a seguir o que se faz?
Ninguém lhe respondeu.
Hoje já ninguém se lembra do repasto e, se nada se passar a seguir, foi um tiro de pólvora seca e mais uma oportunidade perdida.
Vou ainda e para finalizar, dar-me ao incómodo de tentar responder ao meu camarada de armas que colocou a questão.
*****

Não se preparar o dia seguinte parece ser pecha dos militares, o que aparenta ser uma incongruência e inconformidade graves, dada a sua formação, instrução e treino.
Mesmo quando se abalançam a fazer coisas complexas e sensíveis, como sejam golpes de estado, de que são exemplo o 28 de Maio (de 1926), salvo “in extremis”, um ano e meio depois por Carmona e Salazar; e o 25 de Abril (de 1974), emendado (parcialmente) à última, a 25 de Novembro (de 1975), mas com danos irreversíveis, 40 anos depois.
A IM está ainda a pagar as favas de tudo isso.
Do século XIX e do granel criminoso da I República, nem vale a pena falar. E também ninguém quer falar...
Não se trata agora (segundo consta no convite feito e na declaração lida) de fazer nada semelhante, mas sim o de tentar parar com tanta barbaridade (os termos usados são mais bonitinhos), fazer reverter as asneiras maiores e colocar a IM e os militares, na justiça relativa adequada à condição militar e à posição especialíssima que lhes cabe na estrutura do Estado e da Nação.
E, já agora, - digo eu - tentar defender minimamente este pobre povo dos seus inimigos externos das chagas morais da sociedade, que o deslustram e, até, de si mesmo.
E a primeira coisa que é necessário apurar é se os agentes políticos que têm afrontado a Instituição Militar são apenas adversários ou são inimigos das FA e dos militares – e, por arrastamento, da própria Nação. Pois as FA são uma instituição absolutamente estruturante do país desde a sua fundação.
A diferença não é um pormenor.
Eu creio, que a maioria da classe política – e isso é transversal a todos os Partidos – uns por umas razões, outros por outras, não gosta, não entende, não quer e têm até um pó indisfarçável, aos militares.
Mas a maioria dos meus camaradas tem entendido (ou fingido) que eu não tenho razão e sou um exagerado (normalmente os adjectivos não se ficam por aqui).
E, por isso, na “Ordem de Batalha” que elaboram, colocam as Forças Políticas no campo das “Forças Amigas”.
Assim devia ser, de facto, e outra coisa não faz sentido.
Acontece, porém, que a prática tem desmentido este desiderato, por uma margem que ultrapassa qualquer desvio padrão.
Ora tomar decisões sobre premissas erradas nunca deu bom resultado. Daí, também, o insucesso de tudo o que se tem tentado fazer até hoje...
Seja como for a “Estratégia” – e isso todos os oficiais, sobretudo os de graduação superior, devem saber (o GREI é até, um grupo de reflexão estratégica) – que esta disciplina lida com inimigos e não com adversários e utiliza como ferramentas as diferentes formas de coação ao seu dispor.
Ora o dia seguinte só valerá a pena planear – já que o “poder” da palavra ou é ignorado pela palavra do Poder ou leva muito tempo a dar frutos – e mesmo neste âmbito pouco de tem feito - se conseguir preparar um conjunto de acções coativas, que levem os tais agentes políticos a mudar a sua actuação.
Mas parece que ainda não se reuniram as condições para confluir numa estratégia a sério.
Ora a discussão de formas de coação (podem ser políticas, económicas, financeiras, diplomáticas, psicológicas, militares, cívicas, etc.), não se fazem e nunca se fizeram em jantares públicos.
De modo que, caro camarada, após a intendência ter tratado do estômago e umas declarações comedidas, terem acalmado o espírito, foi tudo dormir com a consciência tranquila do dever cumprido. Até ao próximo jantar.
Até porque comer fora, caro camarada, é que é o desporto nacional. Não é o futebol.
E, como disse o tracinho Branco, cujo despautério não conhece limites, “é a Democracia a funcionar”. A dele.
João José Brandão Ferreira
 Oficial Piloto Aviador

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