Militares
e polícias: homens ou robôs
por Mário Cabrita *
Desde que os militares entregaram o poder
aos políticos em nome da democracia, estes têm prosseguido uma cruzada para
reduzir as Forças Armadas (FA) e as Forças de Segurança (FS) a um grupo
diminuto, submisso e abúlico, de funcionários públicos prontos para qualquer
missão, como se fossem máquinas acéfalas e irracionais.
Os sucessivos governos não tiveram pejo em
ir retirando os poucos direitos que os elementos das FA e das FS ainda
possuíam, em humilhá-los e denegrir a sua imagem e dignidade. O aumento do desconto
para o IASFA, a eliminação do Complemento de Pensão e do Fundo de Pensões, a
redução dos efetivos das FA, a criação de novos postos com o objetivo de
reduzir vagas no topo e aumentá-las nos escalões mais baixos, são medidas
recentes que se inserem nesse plano.
Os militares foram demasiado passivos em
todo este processo? Talvez, especialmente algumas chefias, já que a
subordinação ao poder político não pode ser panaceia para justificar as
arbitrariedades que vêm sendo cometidas.
Os militares não são autómatos. São seres
humanos que pensam e que têm coração, capazes de dar a vida pelo seu camarada e
perdoar ao seu inimigo, com valores morais pelos quais regem a sua vida, mas
que nada dizem aos "jotinhas" que ignoram o que seja o privilégio e a
honra de cumprir o serviço militar. São homens e mulheres que à chegada ao
quartel, às dez da noite, vindos de um exercício ou operação, sem jantar e
muitas vezes encharcados e com frio, a primeira actividade que executam é a
manutenção do material utilizado, depois tratam dos animais e só depois passam
aos homens: praças, sargentos e oficiais, por esta ordem.
Também as FS vêm sofrendo tratamento
idêntico, com uma Sra. Ministra que demonstra total inépcia para o cargo e que
se prepara para resolver um problema, o do Estatuto da PSP, criando um maior, o
do Estatuto da GNR.
Alguns políticos habituaram-se a ver os
elementos das FS como estátuas plantadas à porta das suas residências. À
passagem, nem se dignam dar-lhes uma "boa noite" que lhes aqueça a
alma ou oferecer-lhes um café que lhes aqueça o corpo.
Quando há acidentes que obrigam ao uso de
armas de fogo sobre cadastrados, com perda de vidas, o que se lamenta, os Srs.
Deputados da 1.ª Comissão Parlamentar são lestos em chamar o MAI e os
responsáveis pela GNR e PSP para pedir explicações e, por vezes, deixar
implícita uma crítica aos procedimentos das FS. Ao invés, nenhum desses Srs.
Deputados foi visto nos funerais dos membros das FS que deram a vida para
garantir a segurança dos cidadãos.
Também merecem realce os sentimentos que,
amiúde, se apossam dos elementos das FS quando se confrontam com manifestações
populares. Dentro daqueles fatos estão homens e mulheres revoltados com a
situação, que rangem os dentes de raiva e vertem lágrimas de desespero, porque
do outro lado das barreiras estão amigos e familiares e é onde, por vezes, eles
também gostariam de estar. Mas não. O sentido do dever e o espírito de missão
não o permitem e sobrepõem-se a tudo. Até quando?
A maioria dos políticos não consegue
compreender que haja homens e mulheres que, conscientemente, estejam dispostos
a dar a vida em defesa do cidadão e da Pátria. Este modo de estar, esta atitude
e este profissionalismo fá-los sentir-se ameaçados e receosos. Postura de quem
é fraco e, nomeadamente, de quem não é merecedor das FA e FS que tem.
* Tenente-General na reforma
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