Haja alguém que desminta, mas não os mesmos...
VERDADE INTEIRA…OU ALGUMA FICÇÃO?
ESTOU MAIS INCLINADO A ACEITAR A VERDADE DA BOCA DO CAP. COSTA SOUSA E OS
FACTOS MAIS CONHECIDOS E INCONTESTÁVEIS PARECEM VIR NO SENTIDO DA VERDADE DAS
DECLARAÇÕES DO CAP. COSTA SOUSA.
José Luis Costa Sousa (Capitão
Paraquedista no BCP 21) » Portugal “autorizou” o
desembarque dos cubanos em Angola, muito antes da Independência...fui
testemunha presencial.
Jose Luiz Costa Sousa
Capitão Paraquedista no BCP 21, á data em
que vivi os factos aqui relatados em 1975 (Luanda)
Estas memórias devem ser reveladas para
que não se esqueça o que alguns fizeram a tantos, prejudicando estes. E
têm ainda a desfaçatez de falar em descolonização exemplar.
Memórias duma vida, em
histórias ao acaso... por mim vividas.
Ou, de como o
poder político de Lisboa75 montou uma "golpada encoberta", político
militar em Angola, e que poderia ter vitimado muitos paraquedistas em 75, isto
para apoiar o MPLA; a coisa falhou, por obra e graça de circunstâncias
várias... Conforme o relato que se segue...absolutamente factual.
Cinco, dos meus
já muitos anos, ficaram por terras e guerras de Angola e Moçambique; desse
tempo, ficou-me a África no coração, a honra do dever cumprido e memórias,
histórias da História que, ao acaso, gosto de contar, tal qual as vivi.
Angola, Julho de
1975, o MPLA, pela força das armas, tinha expulsado de Luanda a UNITA e também
o FNLA, havendo ainda nessa altura, deste último movimento, milhares de pessoas
refugiadas junto do Palácio do Governador, cargo na altura desempenhado por um
Alto Comissário, o General Silva Cardoso, da FAP.
Comandante
ocasional da 3ª CCP, uma companhia de paraquedistas do BCP 21 em Angola,
coube-me garantir a segurança militar do Palácio.
Vivia então o
MPLA a euforia da vitória contra o FNLA em Luanda; as centenas de mortos, dos
massacres ocorridos nesses dias, eram rapidamente carregados em viaturas
militares portuguesas e enterrados, por uma escavadora, em valas comuns no
campo de golf.
O recolher era
obrigatório, a morte e o terror tinham-se instalado na cidade; havia centenas
de prisioneiros feitos pelo MPLA detidos na Praça de Touros, no Morro da Luz e
no forte de S. Pedro, onde eram torturados e assassinados, diariamente.
Portugal
abandonou lá à morte umas largas centenas desses prisioneiros, criminosamente,
depois da independência, por ordem expressa vinda de Lisboa, que os considerou reacionários
e inconvenientes politicamente em Portugal.
Foram pois
condenados sumariamente á morte por uns quaisquer políticos de Lisboa, eram
trezentos e tal... pelas minhas listas.
Eu próprio fiz
entrega ao Capitão Fernandes da FAP, oficial de ligação com o Alto-comissário
no Palácio, e várias vezes, da lista desses prisioneiros, a pedido dos
familiares.
Fora da capital,
o MPLA estava sob forte pressão militar em duas frentes, os sul-africanos a sul
e o FNLA a Norte; o dia da Independência aproximava-se e o controle total de
Luanda era fundamental ao MPLA, para justificar ser este o único recipiente
formal da Independência, conforme vontade do então pró URSS poder político
português.
Apesar das
vitórias em Luanda, apoiadas totalmente por Portugal, o potencial militar do
MPLA, face à situação geral, não garantia que este conseguisse manter Luanda
até 11 de Novembro, dia acordado em Alvor para a Independência.
Moscovo e
Lisboa, então irmanadas nos ideais políticos, tinham esta questão crítica a
resolver; nos limites das águas territoriais de Angola, navios cubanos com
milhares de militares a bordo, aguardavam a oportunidade política para os
desembarcar e entrar em Angola...
O ambiente em torno
do Palácio do Governador era caos e drama; os militantes do FNLA ali
refugiados, aguardavam em terror, a prometida evacuação para o Norte;
sobreviviam comendo folhas das árvores e pouco mais.
Grupos militares
do MPLA e o seu “poder popular”, em louca orgia de morte e chacinas, varriam a
cidade em todas as direções...
Os motoristas do
exército português, por medo e ou ordens, recusaram conduzir as viaturas para
transporte dos FNLA´s ao aeroporto, donde seriam evacuados, via avião militar,
para Carmona...tive eu, capitão, mais alguns paraquedistas, de conduzir as
viaturas!
Naquele dia, excecionalmente,
todas as autoridades portuguesas se encontravam reunidas no Palácio:- o Alto
Comissário, o General Almendra, Cmdte Militar de Luanda, o General Valente, Cmdte
da Região Aérea, o General Ferreira de Macedo, Cmdte da Zona Leste, etc...e,
estranha mas, óbvia coincidência, o grande “Descolonizador”, Major Melo
Antunes, chegava nessa noite, vindo de Portugal, em missão especial, o que
significava algo de extraordinário.
Jornalistas de
todas as nacionalidades, nervosos, adivinhavam novidades.
Naquele dia de
manhã, um providencial jornalista brasileiro, insistiu em falar comigo, por ser
eu o responsável da segurança do palácio; disse-me dispor de informações, de
fontes fidedignas internacionais, inclusive da Reuters, afirmando que:-
“ O MPLA,
apoiado por forças do exército e da marinha portuguesa, sob coordenação dum
general do exército português, que nomeou, iam naquela noite tomar de assalto o
Palácio, deter o Alto Comissário, o Cmdte Militar de Luanda e os militares
portugueses que se opusessem, para o MPLA declarar de imediato e,
unilateralmente, a Independência e poder, afastado e desresponsabilizado o
governo Português, pedir o apoio militar dos cubanos, já ao largo, prontos a
desembarcar“.
Achei a história
fantasiosa, agradeci e nada fiz.
Passada uma
hora, insistiu de novo em falar comigo e disse-me para tomar muito a sério a
informação dada. Pelo sim pelo não, reforcei a defesa do Palácio.
Horas depois,
três da tarde, o sargento encarregado da segurança externa do Palácio
reportou-me que duas viaturas blindadas, da polícia militar portuguesa, tinham
tentado forçar a passagem para o Palácio, foram impedidas e recuaram;
estranhei, dei mais credibilidade à informação do jornalista, reforcei
seriamente o efectivo e tornei, absolutamente rigorosas, as ordens de não
deixar aproximar quaisquer militares portugueses do exército e da marinha.
Falei com o
general Valente, Cmdte da Região Aérea e presente no Palácio, de quem eu
dependia, informei-o da situação, disse-me não acreditar, foi falar com o Alto-comissário
e reafirmou-me ser tudo especulação.
Entretanto, a
polícia militar portuguesa, desta vez, com sete viaturas sob comando dum
capitão do meu curso da Academia, voltou a tentar penetrar a defesa exterior;
eram apenas testes para verificar as defesas do Palácio; impedidos pela ameaça
das armas paraquedistas, recuaram.
Os militares do
MPLA circulavam nervosamente em torno da área do palácio; já sem quaisquer
dúvidas, fiz novo contacto com o General e exigi firmemente ordens claras, para
defesa ou não do Palácio e disse-lhe para informar o Alto-comissário que, caso
eu e os meus homens fossemos armadilhados, tal como tinha acontecido com outros
paraquedistas, no 11 de Março de 75, no Ralis em Lisboa, alguém dentro do
Palácio responderia caro por isso e, no acto; confirmou-me as ordens para a
defesa do Palácio.
Já noite, alguns
tiros foram disparadas contra as sentinelas sem as atingirem, o dispositivo de
defesa reagiu de imediato e em força; do interior do Palácio, o primeiro
elemento a sair, muito tenso, foi o General, que o jornalista alegava ser o
homem mandatado por Lisboa, para execução deste plano; visivelmente perturbado,
interpelou-me de forma extremamente agressiva acerca do porquê de tal aparato
de defesa; depois de alguns desenvolvimentos, nada mais aconteceu; a
determinação da defesa paraquedista, abortara o plano.
Cerca da
meia-noite, o Major Melo Antunes chegou ao aeroporto; veio e fez uma breve
reunião no Palácio e foi encontrar-se de imediato com o Dr. Agostinho Neto, na
sua residência no Futungo de Belas, o que por si só diz da urgência dos
assuntos a decidir.
Vinha validar e
gerir as consequências do golpe planeado mas, falhado.
Este sinistro
major, alma negra e, “intelectual” pró moscovita da revolução, foi sempre o
omnipresente mentor e condutor pró soviético da descolonização e não só,
armadilhando-a onde foi preciso para o efeito; mais tarde diria, cinicamente,
que foi a “descolonização possível”; pagaram-lhe com um tacho na UNESCO.
Dias depois,
onze da noite, em Luanda, na recta da Samba, indo eu a caminho do BCP 21,
encontrei-me sozinho, frente a frente, com uma coluna imensa de viaturas
militares cubanas, que se deslocava a coberto da noite e do recolher
obrigatório, que eu não tinha respeitado.
Surpreendido e
confuso parei, saí da viatura e identifiquei-me aos dois militares que se me
dirigiram, um MPLA e outro Cubano; por sorte eu estava fardado, se não....;
mandaram-me seguir sem nada dizerem.
Tinham
desembarcado lá para a barra do Quanza; abortada a planeada declaração,
unilateral e antecipada, da independência de Angola e, como alternativa, Melo
Antunes terá acordado, no encontro com Agostinho Neto, em nome de Portugal, o
desembarque clandestino das tropas cubanas em Angola, cerca de três meses antes
da independência.
Portugal traiu
assim, politicamente e de facto, os acordos de Alvor, assinados com os três
movimentos.
Mais tarde, os
navios regressaram a Cuba, já depois da Independência, levando consigo o
primeiro pagamento da solidariedade proletária, carregando os modernos
equipamentos médicos saqueados dos hospitais de Luanda, mais café, autocarros
que circularam em Havana ainda com “Mutamba” no destino, viaturas civis, mármores
dos cemitérios e gado, (que veio a provocar a peste suína africana em Cuba);
era a colonização proletária.
Uns seis meses
depois, já em Portugal, encontrei-me num juramento de bandeira na Base Escola
dos Paraquedistas em Tancos, com o General Valente, o mesmo com quem tinha
dialogado no Palácio em Luanda, no decurso deste episódio e, que lá me tinha
garantido, convicto, que a história do jornalista não tinha fundamento.
Dirigiu-se-me e,
sem eu nada perguntar, disse-me:- "Lembra-se daquele dia em Luanda no Palácio?
Pois confirmei já, aqui em Portugal que, de facto, aquele plano de assalto e
tomada do Palácio existiu, era para executar e, só falhou, pela resistência
encontrada”.
Caso o milagroso
jornalista brasileiro, não me tivesse alertado para o traiçoeiro e criminoso
projecto de Lisboa, soldados portugueses teriam morto e teriam prendido outros
militares portugueses, tudo em nome da (in) dependência então pró URSS, hoje,
ironicamente já pró USA.
Eram estes então
os donos do poder político pós Abril, em Portugal... Miseráveis traidores e
criminosos.
Numa entrevista
dada a António Ferro, em 1933, Salazar questionava assim a ideia de
descolonizar, -“Porque é que havemos nós de sair de África, onde estamos, há
mais de 500 anos, para dar lugar aos Russos ou aos Americanos, que nada têm a
ver com tal continente?”- Tinha razão como em tudo o mais.
Este episódio,
entre muitos outros que vivi, ilustra bem a traição e a irresponsabilidade
criminosa e cobarde duma descolonização anti africana e anti portuguesa, que
conduziu, ao longo destes 40 anos, milhões de seres humanos à morte, à tortura,
à fome, à doença, ao não futuro, tudo em nome de supostos ideais políticos, que
não foram mais do que máscaras das cobiças internacionais pelos nossos
territórios ultramarinos.
Um ideal
político, por si só, não é bom, sê-lo-á sim se, na prática, dele resultar mais
“felicidade” para o povo a que se destina; não foi o caso; muitas das vezes o
ideal é o pior inimigo dum povo, pois é apenas uma máscara de algo muito pior;
foi e é o caso.
Enfim, misérias
do agonizar e morte dum Portugal que foi Grande.
Que os milhões
de mortos, porque é de milhões que se trata, de Angola, Moçambique, Timor e
Guiné, acontecidos durante e, sobretudo, pós descolonizações e dos quais, são
assassinos morais os nossos “descolonizadores”, lhes pesem na bestunta (in)
consciência, nestes tempos de fim do País que fomos, pois, “Os Países também
morrem”.
José Luiz Costa
Sousa Capitão Paraquedista no BCP 21, á data em que vivi os factos aqui
relatados
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