Antiga Sala Mecenato BES (ISEG)
“Premiei um escroque da pior espécie”. Com grande
arrojo e não menor sentido de oportunidade, dado o actual poder de Ricardo
Salgado, João Duque declarou-se assim arrependido de o ter apadrinhado num
Doutoramento Honoris Causa do ISEG em 2013. Bem avisámos nessa altura, denunciando como a
Presidência Duque, ao homenagear Salgado, mas também também Catroga e Mexia,
estava a trair a distinta história do ISEG nesta área, atribuindo honras por
razões distantes dos contributos para a Economia.
Entretanto, reparem como Duque
parece conseguir estar errado de formas sempre novas, defendendo agora a
transferência em curso de poderes regulatórios, daqueles desgraçamente
conformes aos mercados, para Frankfurt. Ser governado pelo estrangeiro e
esperar que o interesse público seja aqui defendido é pelo menos o cúmulo do
provincianismo. Será que não serviram para nada a experiência da troika, a
miserável história do euro, o que se sabe sobre o poder do capital financeiro
no BCE, tanto mais intensa a promiscuidade quanto maior a distância do poder e
da transparência democráticas? Será que não serve para nada o que se sabe sobre
a forma como o controlo estrangeiro da banca privada nacional, em curso e que
também assim se reforçará, expõe muito mais o país a movimentos
desestabilizadores, particularmente em contextos de crise (olhem para sul e
para leste)?
Bom, ainda vamos ver apadrinhamentos
de Isabel dos Santos, por exemplo, com base na ideia de um percurso que começou
na venda de ovos e que acabou onde acabará. De
resto, o caso BES não pode ser reduzido a uma questão de carácter, sendo
preciso perguntar que estruturas produzem e favorecem estes escroques e como é
que estas podem ser modificadas: diria, neste último caso, que com mais banca
pública, a única forma de garantir controlo democrático e defesa do bem público
que é o crédito, com controlos de capitais e com um verdadeiro Banco de
Portugal, com todas as funções de um Banco Central, a responder perante o governo
e perante a Assembleia da República; no fundo com aquilo que os economistas
neoliberais mais temem, tendo até cunhado um nome para o seu temor, mas que
acabou por resultar melhor: repressão financeira…
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