A partida de Luanda a caminho de uma
aldeia no Norte de Angola foi feita num sábado, depois de almoço. A ideia era
chegar a Malanje ao fim do dia, para no domingo visitar Camongua e levar um
pouco do Natal às crianças. Foram 420km numa estrada longa, estreita e sem
estações de serviço. A paisagem é recheada de embondeiros, árvores grandes,
altas, centenárias. Vão três pessoas na carrinha da Missão Católica. Viajo com
a Madre Sandra Veras e a voluntária que me trouxe a esta missão, a brasileira
Tatiana Paim. Os longos quilómetros dão para falar dos projectos pessoais, do
significado da missão para cada uma, da solidariedade, de uma sociedade que tem
contrastes tão intensos como a cidade mais cara do mundo e uma população
carente, com muitos locais onde luz e água sem falhas são luxos e aldeias
distantes que só podem sonhar com isso.
Até Ndalatando passam 230 km e a única
certeza de que vamos no caminho certo vem de a estrada só ter um sentido. A
viagem serve para organizar a acção do dia seguinte, num projecto desenvolvido
em voluntariado com uma missão católica, que tenta dar, todos os anos, um dia
de felicidade e sorrisos a quem tem muito pouco. A ideia é simples: ajudar
crianças a serem crianças. Um dia que lhes é dedicado para saberem o que é o
Natal.
O projecto é coordenado pela Missão de
Santa Terezinha, que apoia crianças em Luanda e Malanje através de processos de
evangelização e de apoio familiar e escolar. Em Luanda funciona em escolas,
apoia famílias e integra jovens que queiram seguir uma vida religiosa. Em
Malange e nas aldeias próximas, a intervenção é mais profunda. Desde o fim da
guerra civil que apoia as aldeias em questões de saúde, ajuda psicológica,
pedagógica e ainda na estruturação da própria aldeia. Aqui, para as crianças, o
Natal é só mais um dia ou uma festa das gentes da cidade.
A preparação para a acção começou com o
pedido de autorização ao Soba, a figura mais velha da aldeia. Sem o apoio dele
ninguém é bem-vindo. A permissão é a peça chave, já que a cultura remete sempre
para a aprovação do sábio, do "mais velho". Através do apoio contínuo
que as madres vão dando à aldeia, introduziu-se o tema do Natal e o seu
significado. O peso da religião cristã é forte, até porque ensinar através da
religião é mais fácil. O sentido de ajuda gratuita ou de uma vida com saúde são
temas muito trabalhados, porque nestas aldeias os comportamentos nem sempre são
os de generosidade instantânea.
A logística foi longa e foi preciso
preparar toda a comida e os presentes para distribuir às crianças de Camongua.
Houve patrocínios e apoios de empresas que quiseram contribuir. Foram comprados
carros para os rapazes e bonecas para as raparigas. Houve bolos e salgados
feitos pelas madres da missão, sumos e águas fornecidos por um dos
patrocinadores. O projecto começou em 2006 e hoje leva presentes a cerca de 600
crianças entre Malanje e Luanda.
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