PROFISSÃO: PERIGO

SALEIRO E CEREJO

José António Cerejo, jornalista do ‘Público’, nunca recebeu ameaças anónimas. Antes pelo contrário, já foi muitas vezes “objeto de intimidação direta”. O jornalista desvaloriza – diz que o procuraram, sobretudo, para “impressionar”. E dá o exemplo do caso de um hoteleiro algarvio com negócios escuros. O empresário apareceu a Cerejo, na redação do diário onde trabalha, com “dois advogados, que até moravam em hotéis dele” e um coronel do Exército reformado. “Tinham todos ar sisudo, de poucos amigos, e eram encorpados. O tal empresário perguntou-me se sabia quem ele era e começou com uma conversa que passou rapidamente da sensibilização para a intimidação. Acho que foi o caso mais flagrante.”

A condição de pai de José António Cerejo é evocada nas ameaças sempre que uma investigação pisa os calos de alguém – “Há sempre uma parte incomodada, que não quer que o trabalho prossiga. Mas o mais usual é a ameaça com leis, processos e advogados.”

Cerejo investigou as atividades do então governador de Beja, o socialista António Saleiro e não se esquece da vez que o encontrou no Casino de Vilamoura: “Ele passou por mim e insultou-me; mas não publicamente, escolheu uma altura em que ninguém estava para testemunhar. Chamou-me nomes e ameaçou-me numa linguagem que não utilizo, depois repetiu a cena.”

Além daquele ex-deputado socialista, só um louco assustou mais Cerejo. Já referenciado pela Polícia, acabou detido por enviar cartas ao jornalista a dizer que o matava. Não tinha razões aparentes.

Apesar das más memórias, José António Cerejo não toma medidas especiais na preservação de documentos ou apontamentos relacionados com a investigação que tem entre mãos. “Tenho tudo na redação, sem precaução especial, e mesmo as coisas que considero importantes, não as levo por exemplo para casa.” Talvez por isso, já uma vez Cerejo viu-se confrontado com uma fuga de informação de uma investigação que estava a fazer. “Era uma coisa que, naquela circunstância, só eu poderia saber.”

 Outros casos:

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