As primeiras denúncias de venda de armas portuguesas para o Irão
começaram em 1980. Na edição de 11 de Novembro daquele ano, o diário Portugal Hoje
titulava: “Uma hipótese que compromete a neutralidade do nosso país,
armas portuguesas para o Irão”. O tráfico de armas para aquele país é
agora apontado como um dos motivos da sabotagem do Cessna que, em 4 de
Dezembro de 1980, caiu em Camarate. O alvo do atentado seria o ministro
da Defesa, Adelino Amaro da Costa, que se opunha aqueles negócios. O
primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro encontrou a morte porque, à
última hora, escolheu aquele aparelho para rumar ao Porto.
A Assembleia da República foi palco nesta quinta-feira da mais breve comissão parlamentar: durou pouco mais de 15 minutos a reunião da X comissão parlamentar de inquérito à tragédia de Camarate.
Durou apenas uma ronda de perguntas a audição de João Gomes, director do Portugal Hoje. “Não sei rigorosamente nada, talvez tenha sido de um jornalista baixo que foi para o Expresso e já morreu ”, disse o antigo director. Mais tarde, ao ser pronunciado o nome de Celestino Amaral, João Gomes atribuiu-lhe a autoria. A deputada socialista Isabel Oneto, em 1980 estagiária do jornal, recordou que a notícia de venda de armas para o Irão foi um trabalho de vários meses.
Há 33 anos o jornal não apurou nada de concreto. Deixou perguntas ao Governo quanto à existência de pareceres, a possível participação de capital estrangeiro na Explosivos da Trafaria ou sobre a passagem de aviões da African Air Charters por Portugal.
Na edição seguinte, a
12 de Novembro, uma nota conjunta dos ministérios dos Negócios
Estrangeiros e da Defesa Nacional, cujos titulares eram,
respectivamente, Freitas do Amaral e Amaro da Costa, refere que o
Governo não autorizou nem vai autorizar qualquer venda de armas ou
munições ao Irão. Naquela reacção, o Executivo liderado por Francisco Sá
Carneiro assegura que nenhuma entidade estrangeira tomará posições na
sociedade portuguesa de explosivos e que não será autorizado o trânsito
de “aviões militares de qualquer procedência transportando armamento ou
munições com destino ao Irão.”
A resposta não satisfez o jornal
que avançou com a possibilidade da presença de armas portuguesas no Irão
através de “interposta pessoa”. O diário sublinhou, ainda, a existência
de interesses estrangeiros, “designadamente israelitas”, que teriam
levado a conversações e pareceres sobre o futuro da indústria portuguesa
de armamento.
Sem comentários:
Enviar um comentário