O empresário Henrique Neto, um dos signatários do manifesto pela democratização do regime hoje divulgado, explicou que o texto surgiu da conclusão de que a raiz dos problemas do País reside no funcionamento do sistema político.
Manifesto pela Democratização do
Regime
A tragédia social, económica e
financeira a que vários governos conduziram Portugal interpela a consciência
dos portugueses no sentido de porem em causa os partidos políticos que, nos
últimos vinte anos, criaram uma classe que governa o País sem grandeza, sem
ética e sem sentido de Estado, dificultando a participação democrática dos
cidadãos e impedindo que o sistema político permita o aparecimento de
verdadeiras alternativas.
Neste quadro, a rotação no poder
não tem servido os interesses do Povo. Ela serve sobretudo para esconder a
realidade, desperdiçando a força anímica e a capacidade de trabalho dos
portugueses, bem como as diversas oportunidades de desenvolvimento que o País
tem tido, como aconteceu com muitos dos apoios recebidos da União Europeia.
A obsessão do poder pelo poder, a
inexperiência governativa e a impreparação das juventudes partidárias que, com
inusitada facilidade e sem experiência profissional ou percurso cívico, chegam
ao topo do poder político, servem essencialmente objectivos e interesses
restritos, nacionais e internacionais, daqueles que utilizam o Estado para os
seus próprios fins.
O factor trabalho e a prosperidade
das pessoas e das famílias, base do progresso da Nação, são constantemente
postos em causa pela austeridade sem desígnio e pelos sacrifícios impostos aos
trabalhadores, como se fossem eles, e não os dirigentes, os responsáveis pelo
desgoverno do Estado e pelo endividamento excessivo a que sucessivos governos
conduziram Portugal.
Como se isso não bastasse, o
poder político enveredou pela afronta de culpar os portugueses, procurando
constantemente dividi-los: os mais novos contra os mais velhos, os empregados
contra os desempregados, os funcionários públicos contra os trabalhadores do
sector privado.
A Assembleia da República, sede
da democracia, desacreditou-se, com os deputados a serem escolhidos, não pelos
eleitores, mas pelas direcções partidárias, que colocam muitas vezes os seus
próprios interesses acima dos interesses da Nação. A Assembleia da República
representa hoje sobretudo – com honrosas excepções – um emprego garantido,
conseguido por anos de subserviência às direcções partidárias e de onde
desapareceu a vontade de ajuizar e de controlar os actos dos governos.
A Nação portuguesa encontra-se em
desespero e sob vigilância internacional. Governos sem ideias, sem convicções,
sem sabedoria nem estratégia para o progresso do País, colocaram os portugueses
numa situação de falência, sem esperança, rumo ou confiança. O Estado Social
está a desmoronar-se, mais doque a racionalizar-se, deixando em angústia
crescente centenas de milhares de desempregados e de novos pobres. E não é
apenas o presente que está em desagregação. É simultaneamente o futuro de
dezenas de milhares de jovens sem emprego ou com salários que não permitem
lançar um projecto de vida.
Só por incompetência partidária e
governativa se pode afirmar que os portugueses têm vivido acima das suas posses
-como se as posses de milhões de famílias que recebem menos de mil euros por
mês fosse o problema- ou que não existem alternativas aos sacrifícios
exagerados impostos aos mais pobres e à classe média.
É urgente mudar Portugal, dando
conteúdo positivo à revolta e à crescente indignação dos portugueses. As
grandes manifestações já realizadas mostraram de forma inequívoca o que milhões
de portugueses pensam do sistema político e da nomenclatura governativa.
Há uma diferença dramática entre
os políticos que pensam na próxima geração e os que pensam sobretudo na próxima
eleição. A sociedade portuguesa tem naturalmente respeito pelas figuras
políticas e pelos partidos que foram determinantes no regresso do País a um
Estado de Direito Democrático. E pelos políticos que, com visão, souberam
recolocar Portugal na Europa.
O que está hoje em causa já não é
a opção pela democracia, mas torná-la efectiva e participada. Já não está em
causa aderir à Europa, mas participar no relançamento do projecto europeu. Não
está em causa governar, mas corrigir um rumo que nos conduziu à actual crise e
realizar as mudanças que isso implica.
Todavia, nada será possível sem
um processo de reformas profundas no Estado e na economia, reformas cujos
obstáculos estão, em primeiro lugar, nos interesses de uma classe política
instalada e na promiscuidade entre o poder político e os interesses financeiros.
Impõe-se uma ruptura, que a nosso
ver passa por três passos fundamentais:
- Em primeiro lugar, por leis
eleitorais transparentes e democráticas que viabilizem eleições primárias
abertas aos cidadãos na escolha dos candidatos a todos os cargos políticos;
- Em segundo lugar, pela abertura
da possibilidade de apresentação de listas nominais, de cidadãos, em eleições
para a Assembleia da República.
Igualmente, tornando obrigatório
o voto nominal nas listas partidárias;
- Em terceiro lugar, é fundamental
garantir a igualdade de condições no financiamento das campanhas eleitorais. O
actual sistema assegura, através de fundos públicos, um financiamento das
campanhas eleitorais que contribui para a promoção de políticos incompetentes e
a consequente perpetuação do sistema. Esta ruptura visa um objectivo nacional,
que todos os sectores da sociedade podem e devem apoiar. Alterar o sistema
político elimina o pior dos males que afecta a democracia portuguesa. Se há
matéria que justifica a união de todos os portugueses, dando conteúdo às
manifestações de indignação que têm reclamado a mudança, é precisamente a
democratização do sistema político.
É urgente reivindicar este objectivo nacional
com firmeza, exigindo de todos os partidos a legislação necessária. Queremos
que eles assumam este dever patriótico e tenham a coragem de –para o efeito– se
entenderem. Ou então que submetam a Referendo Nacional estas reformas que
propomos e que não queiram assumir. Os portugueses saberão entender o desafio e
pronunciar-se responsavelmente.
Entretanto, os signatários
comprometem-se a lançar um movimento, aberto a todas as correntes de opinião,
que terá como objectivo fazer aprovar no Parlamento novas leis eleitorais e do
financiamento das campanhas eleitorais.
A Pátria Portuguesa corre perigo.
É urgente dar conteúdo político e democrático ao sentimento de revolta dos
portugueses. A solução passa obrigatoriamente pelo fim da concentração de todo
o poder político nos partidos e na reconstrução de um regime verdadeiramente
democrático.
Os signatários
Abílio Neves Marques Afonso
Economista Lisboa
Álvaro Órfão Aposentado Marinha
Grande
Amílcar Martins Engenheiro Lisboa
Ana Cristina Figueiredo Jurista
Oeiras
André Fonseca Ferreira Consultor
de Inovação Lisboa
António Cerveira Pinto Publicista
Cascais
António Curto Bancário Lisboa
António Gomes Marques Bancário
Loures
António Mota Redol Engenheiro
Costa da Caparica
Armando Ramalho Gestor Odivelas
Arsénio Mota Escritor Porto
Carlos Filipe Empresário Lisboa
Carlos Loures Escritor Mafra
Clarisse Aurora Marques Agrónoma
Amadora
Dulce Mendes Médica Marinha
Grande
Edmundo Pedro Correspondente de Línguas
Lisboa
Eduardo Correia Professor
Universitário Cascais
Elísio Estanque Professor Univ.,
Sociólogo Coimbra
Emerenciano Artista Plástico
(pintor) Porto
Eurico de Figueiredo Prof. Cated.
de Psiquiatria
Jubilado da Univ. Porto Porto
Fernando Lima Antunes Engenheiro
Lisboa
Fernando dos Reis Condesso
Professor Catedrático da Universidade de Lisboa Lisboa
Helena Ramalho Tradutora e
Docente Carcavelos
Hélder Costa Escritor e Encenador
Lisboa
Henrique Neto Empresário Marinha
Grande
Herberto Goulart Economista
Lisboa
Jaime do Vale Empresário Oeiras
João Gil Músico Cascais
Joaquim Ventura Leite Economista
Grândola
Jorge Martins Empresário Marinha
Grande
Jorge Veludo Dirigente Sindical
Lisboa
José Adelino Maltês Professor
Catedrático da Univer. de Lisboa Lisboa
José Almeida Serra Economista
Lisboa
José Manuel C. S. Miranda
Bancário reformado Lisboa
José Manuel Pereira da Silva
Arquitecto Caldas da Rainha
José Quintela Soares Economista
Lisboa
José Veiga Simão Professor
Catedrático da Universidade Coimbra Lisboa
Júlio Marques Mota Professor
Universitário Aposentado Coimbra
Luís Azevedo Investigador
Universitário Lisboa
Luís Salgado de Matos Cientista
Social Lisboa
Manuel G. Simões Professor
Universitário Aposentado Amadora
Manuel Maria Carrilho Professor
Catedrático da Univ. Nova Lisboa Lisboa
Manuel Nobre Gusmão Advogado
Cascais
Manuela Menezes Engenheira Lisboa
Margarida Rocha e Costa
Economista Lisboa
Maria Albertina B. Campos Notária
Arcos Valdevez
Maria da Conceição Bapt.
Silvestre Investigadora e Prof. Do Ensino Secundário Lisboa
Maria José Mota Jurista Lisboa
Maria do Rosário B. S. Fardilha
Socióloga Aveiro
Maria Perpétua Rocha Médica
Lisboa
Maria Teresa S. F. Sampaio
Filósofa Lisboa
Mário Montez Docente E. S.
Politécnico Coimbra
Miguel Cambraia Duarte Oficial de
Marinha Oeiras
Paulo Soares Advogado Lisboa
Pedro Teixeira da Mota
Investigador Lisboa
Rómulo Machado Advogado Cascais
Rui Tavares Historiador/Deputado Parlamento
Europeu Bruxelas
Telmo Ferraz Empresário Marinha
Grande
Vasco Lourenço Militar Reformado
Lisboa
Contactos:
António Gomes Marques 965021581
agomesmarques@gmail.com
Eduardo Correia 932736941 edbcor@me.com
Henrique Neto 962830734
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Joaquim Ventura Leite 969543488
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Rómulo Machado 919555315
romulo.mcd@gmail.com
1 comentário:
tem toda a razão. Não desista.
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