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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Victor But

Victor But, o “senhor da guerra” que fala português

 
O notório traficante de armas Victor Anatolevitch But poderia ser um dos muitos oficiais que abandonaram as Forças Armadas da União Soviética e foram aumentar o número de desempregados ou de malfeitores após a desintegração da URSS em 1991.
Tal não aconteceu, porque conseguiu “orientar-se” nas novas condições criadas após aquilo a que o atual primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, considerou “a maior catástrofe geopolítica do séc. XX”.Victor But foi extraditado hoje da Tailândia para os Estados Unidos depois de um processo que se arrastou durante meses.
But nasceu a 13 de janeiro de 1967 em Duchambé, então capital da República Socialista Soviética do Tajiquistão, na Ásia Central. Na escola interessou-se pelo estudo do inglês, alemão e esperanto, esta última língua ligada ao romantismo revolucionário.
Em 1984, terminou a Escola de Cadetes de Kazan e em finais dos anos 80, tentou ingressar no Instituto de Relações Internacionais de Moscovo, onde se preparava a elite diplomática soviética, mas não conseguiu, tendo então optado pelo Instituto Militar de Línguas Estrangeiras.
Aluno exemplar, segundo alguns dos colegas com quem a Lusa falou, Victor But tencionava estudar francês, mas acabou por dedicar-se à língua de Camões, porque naquela altura a União Soviética necessitava de quadros militares que falassem português para trabalharem como conselheiros nas ex-colónias portuguesas que passaram a fazer parte da órbita soviética.
Terminado o curso, o jovem oficial foi prestar serviço militar em Angola e Moçambique, onde trabalhou sob as ordens de Igor Setchin, agente dos serviços secretos soviéticos que atualmente ocupa o cargo de vice-primeiro-ministro, controla o sector petrolífero russo e é o “braço direito” do chefe do governo, Vladimir Putin.
Após a queda da URSS, But segue para a África do Sul, onde cria uma empresa de aviões de transporte, que, segundo as autoridades norte-americanas, foi utilizada para transportar ilegalmente armas para o Afeganistão, Angola, Togo, Ruanda, Libéria, Burkina Faso, bem como para fornecer armamentos aos talibãs e à Al-Qaida.
Angola foi a alavanca para o negócio. No início dos anos 90, a aviação de transporte na Rússia estava praticamente paralisada devido à falta de combustível e But decidiu aproveitar essa situação, alugando aviões por 400 dólares a hora no seu país, para os colocar em serviço em Angola, a 1200 dólares por hora.
Para rentabilizar o negócio, os seus pilotos trabalhavam para o Governo do MPLA, mas forneciam armas à UNITA em troca de diamantes. Em pouco tempo, But passou a ter uma frota de 50 aparelhos.
As actividades ilícitas do russo fizeram dele modelo para a personagem principal do filme “O Senhor da Guerra”, do romance “O Vingador” de Frederick Forsyth e do jogo de computador “Far Cry 2” (Chacal).
Os Estados Unidos começaram a investigar os negócios de But em finais dos anos 90 e, em 2006, o Presidente George W. Bush congelou as suas contas bancárias, porque considerou que as suas ações ameaçavam a política externa norte-americana na República Popular do Congo.
A 6 de março de 2008, o poderoso barão do contrabando de armas foi detido na Tailândia a pedido das autoridades norte-americanas, que exigiram a sua extradição.
Moscovo desenvolveu grandes esforços diplomáticos e políticos para não permitir a entrega do seu cidadão à justiça americana. Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, considerou que a decisão de extradição “não é jurídica, mas política”.
Fontes da Lusa na capital russa consideram que este empenho da diplomacia russa se deve ao fato de Victor But poder vir a colaborar com a justiça norte-americana e a revelar ligações entre atuais dirigentes russos e atividades ilícitas como tráfico de armas e diamantes.

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