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terça-feira, 15 de junho de 2010

Exames Nacionais: agora é tudo mais fácil? Faça os testes de Português e Matemática de 1943.


Exames nacionais

Exames Nacionais: agora é tudo mais fácil? Faça os testes de Português e Matemática de 1943.

por Marta F. Reis e Rosa Ramos
Provas arrancam amanhã. Nas próximas duas semanas, 250 mil alunos vão a exame.

É um paradoxo nacional. Quando os resultados dos exames nacionais melhoram, chovem críticas sobre o reduzido grau de dificuldade das provas. Amanhã arranca uma nova época de exames, com mais de 250 mil alunos chamados a prestar provas até ao final do mês. Nas próximas duas semanas, as preocupações serão as de sempre: passar de ano, entrar para a faculdade, conseguir um período completo de férias sem mais semanas de estudo e fazer a fotografia da praxe ao estado do ensino nacional.

Os rituais são muitos, e chovem dicas sobre alimentação ou superstições (ver caixa). As prestações são preparadas desde o primeiro dia do ano lectivo e, no dia da prova, a segurança é máxima: os exames são entregues selados nas escolas, os professores da disciplina não podem estar na sala da prova a menos que o júri nacional de exames detecte um erro no enunciado. O resultado é uma prova sem nome no cabeçalho, e o corrector não chega a saber de quem é o exame que lhe chega às mãos.

Segundo o Ministério da Educação, vão realizar-se 35 6127 exames do ensino secundário e 192 092 do básico, para os quais estão inscritos 96 042 estudantes - este ano mais 5 mil que em 2009.

Espelho do ensino Em 15 anos de exames nacionais do 12.o ano, o resultado médio das provas foi de 8,3 valores. Por sete vezes, a Matemática foi a pior disciplina. Só em 2008 é que a média atingiu um valor positivo - 12,5 valores, voltando a descer para 10 no ano passado. Positivo? Nem por isso. Filipe Oliveira, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) fala do "ano-milagre" - foi assim que 2008 ficou conhecido - como o mais negro da história dos exames. A subida da média, defende, traduziu apenas o facilitismo da prova. "Tem havido um nivelamento por baixo. Demasiadas questões e demasiado elementares, perguntas que se fazem no primeiro dia de aulas. Os exames não são comparáveis de ano para ano, têm durações e graus de dificuldade diferentes e há um exagero de exercícios em contexto, problemas com histórias palavrosas e que provocam a distracção, além de darem a entender que a Matemática não serve para nada", defende o professor da Universidade Nova de Lisboa. Para este ano, porém, as expectativas são boas: "O Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação (GAVE) [o organismo que produz as provas] tem uma nova equipa", adianta. Ainda assim, não se pode falar do que seria uma média satisfatória de resultados: "Gostaríamos que fosse a mais alta possível desde que merecida." Para Edviges Antunes Ferreira, vice-presidente da Associação de Professores de Português (APP), objectividade é a palavra de ordem. "Mais do que os alunos ou os professores, o que tem definido os resultados é a clareza das provas." No Português, os exames não têm sido bons indicadores - o melhor desempenho aconteceu em 2001 e, em 2008, a média foi pela primeira vez negativa. "O nosso objectivo é fazer com que os resultados sejam melhores, mas isso também depende da formação dos professores, de turmas com menos alunos e até de programas mais curtos", afirma Edviges Antunes Ferreira.

Portugal foi um dos primeiros países europeus a introduzirem os exames como ferramenta de avaliação e monitorização da fasquia do ensino, em 1947. Depois do 25 de Abril, foram abolidos e só regressaram no ano lectivo 1995/1996, para o 12.o ano, a que hoje se juntam as provas do 3.o ciclo e mais recentemente os testes de aferição do 4.o e 6.o anos (realizam-se em Maio).

António Couto dos Santos, o ministro da Educação responsável pela introdução dos exames, lembra que o maior braço-de-ferro aconteceu com os pais, que só queriam que os filhos passassem. "Acreditei que os exames permitiam chegar a um ensino de qualidade. O aproveitamento dos alunos é o melhor sistema para avaliar os professores e a qualidade do ensino", diz ao i. "Hoje há um certo facilitismo e noto que, dentro do leque daquilo que é leccionado durante o ano, se escolhem as matérias mais fáceis para os exames."

Se o objectivo era um retrato anual do ensino, a avaliação é negativa por vários motivos. Filipe Oliveira da SPM diz mesmo que os exames acabam por não espelhar nada. "São básicos e utilizam técnicas rudimentares para os anos a que se destinam", critica. Para a professora e dirigente da Comissão de Defesa da Escola Pública (CDEP), o aligeirar das provas para as várias idades pronuncia um mal maior: "A ideia que se tem é que uma cultura que custou tanto a construir está a cair." Uma das propostas da CDEP seria reunir porta-vozes das escolas nacionais para que houvesse um diagnóstico nacional dos problemas a jusante dos exames e a apresentação de soluções.

Mesmo este formato de exames, com 15 anos de história, não é consensual. A APP defende que os exames do 12.o ano não deveriam ser obrigatórios, mas realizados pelas faculdades apenas aos candidatos. Já a SPM acredita que a solução passa por ser um organismo independente do Ministério da Educação a preparar as provas. Para os que estão quase a pôr as mãos na massa, já Salazar dizia: o fundamental é "ler, escrever e contar".

Para comparar os exames de 1943 que hoje publicamos no i, veja os enunciados das provas de aferição para o 1.º ciclo, realizadas em Maio deste ano: Português e Matemática.

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