25 novembro75 de Do outro lado da barricada
Coronel
Paraquedista José Sousa conta na Primeira Pessoa as Razões do 25 de Novembro
Comemora-se agora o 45 aniversário do 25Nov75; participei no 25Nov75, nos
seus preliminares, na sua execução e depois integrei a Comissão Nacional de
Investigação aos acontecimentos do 25Nov75.
Sei, pois, o que foi exactamente o 25Nov75, quais os objectivos, autores,
actores e sei que a versão oficial nada tem a ver com o que aconteceu, a não
ser na resultante final; está aí para quem quiser saber a verdade dos factos.
Os objectivos políticos reais do 25Nov75 foram:
1º Recuo estratégico
do PCP/ URSS no controle que detinha sobre o Poder político de Portugal e
passagem para os bastidores da revolução, para acalmar o Povo Português e a
comunidade internacional, alarmados estes com os excessos comunistas em
Portugal.
2º Eliminação das extremas-esquerdas
anarca comunistas, inúteis e já incontroláveis politicamente pelo PCP.
Descrição e leitura política do 25Nov75
Portugal alvorece em pé guerra; o País sofre mais uma convulsão de
epilepsia revolucionária.
Capitão Paraquedista, recém-chegado de Angola, sou acordado com um
telefonema que me diz: - ”Vermelho 9”; tal código
determina-me a apresentação imediata na Base Aérea da OTAN na Cortegaça, e
assim fiz.
Estava em curso a terceira e última golpada do processo revolucionário
iniciado com o 25Abr74, acelerado com o 11Mar75 e desacelerado intencionalmente
com o 25Nov75, por razões que adiante se compreenderão.
Na noite de 24 para 25Nov75,
sargentos e soldados Paraquedista do Regimento de Tancos ocuparam as bases
aéreas, prenderam os respectivos Comandantes, e exigiram a demissão do Chefe de
Estado-Maior da FAP, o General Morais e Silva.
Os fuzileiros, a PM
do Exército, o Ralis e a Escola de Administração Militar etc. Solidarizaram-se
com os Paraquedista; obedeciam todos às ordens do acéfalo herói de Abril, Major
Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante do COPCON, Comando Operacional do
Continente.
Aparentemente, o PCP e a extrema-esquerda faziam o assalto final ao Poder.
Seguiram-se diversos desenvolvimentos militares e políticos para contenção dos
revoltosos em pé de guerra; as forças de contenção eram lideradas militarmente
pelo Tenente-coronel Ramalho Eanes e, politicamente, pelo Major Melo Antunes.
Aquelas acções e, outras que se seguiram, saldaram-se por três militares
mortos entre os Comandos e a Polícia Militar do Exército na Ajuda, e terminaram
com o sucesso da facção oposta ao Major Otelo S. de Carvalho.
O Major Otelo é derrubado, mais tarde é detido e bem, depois foi solto e
mal; a revolução devorava mais um dos seus filhos, o mais dilecto, e paria
novos heróis, como todas as outras.
O TenCor Ramalho Eanes ascende à condição de “herói” circunstancial, é
promovido a general e mais tarde eleito Presidente da República; foi o triunfo
do seu carisma militar, honestidade pessoal, profissional e confiança política.
No terreno, os mais activos heróis desta “guerra” do 25Nov75 foram, no
entanto, o Coronel Jaime Neves e os seus Comandos, não
desconsiderando as acções relevantíssimas dos 122 oficiais Paraquedista as dos
aviões e Oficiais pilotos aviadores da FAP, concentrados na Base da OTAN na
Cortegaça (onde estive na circunstância) e de terceiras figuras várias, como
foi o General Pires Veloso,
Comandante
da Região Militar do Porto, dito Vice-Rei do Norte, etc…
O folclórico esquerdista Major Otelo S. Carvalho e seus seguidores, a
irracionalidade surrealista da extrema-esquerda, a falta de informação e
manipulação política total dos sargentos e soldados Paraquedista, tudo isso foi
usado neste golpe magistral do PCP, para este os mobilizar para a execução de
acções militares irresponsáveis e que foram usadas, depois de contidas, como
razão para eliminar da vida política aquelas forças e entidades de extrema-esquerda.
Forças de extrema-esquerda aquelas, civis e militares, que tinham sido
criadas e alimentadas, intencionalmente, para servirem propósitos
revolucionários que se esgotaram com a independência
de Angola a 11Nov75.
Depois tiveram de ser neutralizadas, porque o PCP as considerava já
inúteis, incontroláveis, contraproducentes e também para acalmar a Europa e os
EUA, alarmados que estavam com a bandalheira anarco comunista em que Portugal
se transformara. Antes do 25Nov75, Henry Kissinger
,
então Secretário de Estado dos EUA, afirmava que Portugal era já, e seria
ainda mais, a vacina anticomunista da Europa.
Em Espanha estava em perspectiva a legalização do Partido Comunista
Espanhol; a França e a Itália, em vésperas de eleições, esperavam votações
significativas nos seus Partidos Comunistas.
Atingido o objectivo prioritário da URSS/PCP pós 25Abr74, ou seja, a
descolonização total pró URSS, o PCP tinha de sair da ribalta política em Portugal,
para que os avanços europeus atrás previstos se concretizassem, e para que o
comunismo português não se transformasse na tal vacina de que Kissinger falava,
o que não interessava à URSS. E foi isso que a dupla PCP/URSS fez com o 25
Nov75, deu uns passos atrás em Portugal para acalmar e avançar na Europa, e
sossegar os sentimentos anti comunistas em Portugal.
Como é que o PCP organizou o 25Nov75?
O 25Nov75 foi concebido, planeado e dirigido encobertamente pela URSS/PCP e
alguns elementos do MFA, Movimento das Forças Armadas.
Raimundo
Narciso do PCP, que em 75 tratava dos
“assuntos militares”, afirmou que de facto o PCP foi a cabeça da organização da
contenção do 25Nov75, e foi também quem orientou a esquerda militar, liderada
por Otelo S. de Carvalho, na organização e lançamento do mesmo, seja, criou o
incidente e controlou, sempre à rectaguarda, as duas facções em oposição. Desde
o 25Abr75, que a URSS controlou em absoluto o poder político e militar em
Portugal através do PCP e seus sucedâneos, até nos conseguir “expropriar” todas
as colónias, com o nosso acéfalo contentamento, empenhamento e crença convicta
nos vigários contos das verdades deles, que fizemos nossas.
A última colónia a ser entregue á URSS foi Angola, em 11Nov75 e em formato
de neocolónia; não foi por acaso que o 25Nov75 ocorreu logo 14 dias depois do
11Nov75.
O 25Nov75 estava a ser preparado desde Agosto 75, pelo maquiavélico Major
Melo Antunes, através do seu “Documento
dos Nove”,
inspirado este, encobertamente, pelos interesses do PCP.
Andei, pessoalmente, a fazer sessões de esclarecimento sobre este documento
em Angola, na qualidade de eleito na Comissão MFA do Batalhão de Paraquedista, BCP21,
convencido eu que este seria para conter os excessos ditatoriais do PCP e afins
em Portugal; foi e não foi, tempos de enganos e desenganos!
Este então célebre documento, pelo seu propositado conteúdo anti excessos
políticos em curso no Verão de 75, serviu para captar todas as forças à direita
do PCP e para as preparar mental e operacionalmente para uma acção
normalizadora desses excessos, e que vieram a constituir as forças de contenção
do 25Nov75.
Para ultimação do 25Nov75, o Coronel MANKEIEV da KGB/ URSS chegou a
Portugal em 18Nov75 e partiu em 23Nov75, tendo estado no quartel-general do COPCON, Forte do Alto Duque,
com o Major Otelo e com uma célebre figura do PCP, Jaime Serra, responsável das
acções clandestinas do partido.
De 18Nov a 23Nov75 e no COPCON,
estas entidades finalizaram os detalhes da componente política, operacional e ofensiva
do 25Nov75, ou seja, o plano cumprido pelas forças militares que seguiram
Otelo, em particular os Paraquedista, a Polícia Militar, Fuzileiros e outros…
ligados à extrema-esquerda.
Eu confirmei, pessoalmente, a vinda e estadia do Coronel Mankeiev no
COPCON, em documentos escritos constantes do processo do Otelo/COPCON, quando
mais tarde integrei, oficialmente, a Comissão Nacional de Averiguações aos
Acontecimentos do 25Nov75.
O Expresso noticiou também na altura esta presença, assim como a sua chegada
e partida ao aeroporto de Lisboa.
Ambas as facções em confronto no terreno, os civis e militares do Major
Otelo, aos quais o PCP esteve inicial associado, e os seus opositores liderados
pelo TenCor Ramalho Eanes, todos foram telecomandados pelo PCP, uns mais e
outros menos conscientes disso, mas a maioria ainda hoje está convicta de outra
coisa qualquer.
Da facção do TenCor Ramalho Eanes (onde me incluía entre os oficiais Paraquedista),
só o Major Melo Antunes tinha pleno conhecimento de tudo, pois foi ele o seu
principal planeador político militar, sob orientação do PCP e este da URSS.
O Major Otelo ignorava que, para ele e toda a extrema-esquerda que o
orbitava, estava reservado, desta vez, o papel de carneiros a serem
sacrificados no altar da revolução e dos interesses da URSS, e foram eliminados
nas suas próprias inocências úteis.
A arte e a eficiência da dupla URSS/PCP na concepção, planeamento e
execução de tais acções, autênticas obras-primas do golpismo político militar,
de engenharia da opinião pública, de manipulação dos militares, do povo e da
política, foram absolutamente notáveis, de tal modo que esta verdade ainda hoje
não é compreendida e nem sabida.
Ultrapassando este incidente do 25Nov75, importa considerar que houve uma
inteligente, oportuna e eficaz lógica política golpista, sequencial e
inexorável, de todos os eventos da revolução em Portugal, que não foi e não é
acessível à opinião pública comum, intoxicada com correcções políticas.
As versões oficiais dos eventos chave do processo revolucionário português,
sejam o 25Abr74,
o 28Set74, 11Mar75
e 25Nov75
estão manipuladas; só a cronologia dos factos conhecidos e os agentes activos à
vista estão correctos, e pouco ou nada mais.
Qual foi a lógica sequencial e os propósitos políticos subjacentes ao
25Abr74, 28Set74, 11Mar75 e 25Nov75?!
Os objectivos imediatos do 25Abr74 foram:
1º Mudar o regime,
2º Terminar a guerra do Ultramar,
3º Descolonizar, exclusivamente, em favor da URSS, conforme Pacto de Paris de
27Set73, inspirado pela URSS e acordado entre o PCP e o PS.
Feito o 25Abr74, mudado o regímen, declarado o fim das acções ofensivas das
FAP’s em África logo na 2ª semana de Maio, pelo General Costa Gomes (pró PCP),
CEMGFA, havia, pois, que descolonizar em favor da URSS.
Mas o General A. Spínola, Presidente da República, e porta-bandeira do
25Abr74, era contra a descolonização sumária, imediata e pró URSS. Spínola
defendia um processo de descentralização e autonomia das províncias que, ao
longo de um período alargado de tempo lhes permitiria o acesso às
independências, com salvaguarda dos interesses de todas as partes envolvidas,
no contexto duma Federação de Estados sob a Bandeira de Portugal. (era também o
pensamento da CIA/EUA)
Por este facto, as entidades comprometidas com a descolonização pró URSS,
(Pacto de Paris de 27St73), o PCP e a esquerda em geral, tiveram que
neutralizar politicamente o General Spínola. Para o efeito, conceberam e
realizaram a chamada marcha da “Maioria Silenciosa”
em 28Set74, fazendo constar e parecer ter sido inspirada pelo General A.
Spínola, a quem acusaram (via intensa propaganda dos média, controlados pela
esquerda) de querer usar tal “Maioria Silenciosa” para reverter as conquistas
de Abril e forçaram o General a resignar da Presidência.
Mas, o General
Spínola, embora resignado de funções oficiais, continuou a polarizar em
torno de si muitos militares e civis, dotados estes de elevada consciência dos
interesses nacionais, e que discordavam das descolonizações imediatas pró URSS,
sem consultas prévias e ou eleições.
Identificado o General Spínola e os seus “seguidores” pelo PCP e afins,
como obstáculo à descolonização pró URSS, e à sua aceleração, houve que os
neutralizar política e fisicamente, o que o PCP e satélites políticos efectivaram
com a golpada do 11Mar75, enfiando nas enxovias de Caxias todos os civis e
militares listados como opositores a tal desiderato; só os libertaram, sem
julgamento, depois da independência de Angola.
Com o General Spínola a monte e fugido do País depois do 11Mar75
e os potenciais opositores à
descolonização pró URSS todos enjaulados em Caxias, sendo o Presidente da República Costa
Gomes e o PM Vasco
Gonçalves, dois convictos pró URSS, Portugal avançou rapidamente e em força
com a entrega de todas as colónias à URSS, na pessoa dos seus movimentos
armados naquelas províncias, através das hipocrisias das independências
neocoloniais.
Simultaneamente, a sovietização do País ia de vento em popa, de que
resultaram graves inquietações políticas internacionais dos EUA e Europa e mais
ainda nacionais, face à intensiva comunização do País.
Tendo a URSS atingido todos os seus objectivos em Portugal em 11Nov75, com
a independência neocolonial de Angola em seu favor…. a URSS decidiu então
avançar com o 25Nov75, usando para o efeito o seu PCP e sucedâneos.
Conforme já atrás exposto o 25Nov75 foi, pois, planeado e levado à execução
pelo PCP para eliminar a já inútil e incontrolável extrema-esquerda, e para
recuar na sovietização do País, camuflando-se nos bastidores do poder e,
acalmar assim a Europa e os EUA, e o próprio povo português, que já andava a
incendiar as sedes comunistas pelo País fora, de Rio Maior para Norte.
O Major Melo Antunes salvou o PCP de ser perseguido e afectado pelo
25Nov75, ao fazer uma intervenção urgente e convincente na RTP, garantindo aos
portugueses ser o PCP essencial e necessário à democracia.
Neste processo histórico, iniciado com o 25Abr74, os políticos e o povo em
geral foram manipulados por modernos catecismos políticos, com ideias novas e
ou reformatadas e variados “ismos”, mas, os seus objectivos reais foram e são
sempre os mesmos: - O saque do Homem pelo Homem, ou neste caso, dum Estado
(Portugal) por outros Estados (URSS), tudo mascarado sempre, com as mais nobres
ideologias, utopias e valores humanos em alegado proveito dos povos delas
vítimas.
Do 25 Nov 75 diz-se hoje ter sido feito por militares e políticos honrados
e corajosos, que se organizaram militar e politicamente, para devolver a
Liberdade aos portugueses que lhes foi dada em 25Abr 74 e roubada ainda nesse
dia pela URSS através do PCP, assim resultou, mas a história não foi linear,
foi como aí está expressa.
Capitão
Paraquedista à data deste evento e que integrou toda
a acção do lado oposto ao Otelo Saraiva de Carvalho e extrema-esquerda, e
integrou também a Comissão Nacional de Inquérito aos acontecimentos do 25 de
Nov 75.
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