Correspondência trocada entre unidades militares e
relatórios de comandantes são alguns dos documentos que agora podem ser
consultados na Biblioteca Central da Marinha, na Cordoaria Nacional."Operações militares nas antigas colónias, ações de
combate e planeamento assim como correspondência trocada entre unidades
militares, relatórios de comandantes e interação entre as ex-colónias e a
metrópole da altura" são alguns dos tipos de documentos que a Comissão de
Desclassificação de Documentos decidiu tornar públicos, conta o tenente Mário
Dias, da Marinha Portuguesa, à agência Lusa.
Nos dois últimos anos, a Comissão de Desclassificação de
Documentos (CDD) analisou "milhões de documentos", na sua maioria
relacionados com a Guerra Colonial, com ocupariam 1,3 quilómetros de extensão,
explicou. Foram quase todos desclassificados e estão agora acessíveis ao
público na Biblioteca Central de Marinha – Arquivo Histórico, situado no
edifício da Cordoaria Nacional, em Lisboa.
SINOPSE
«Filhos do vento»: as crianças que os militares
portugueses deixaram na Guerra Colonial
Chamavam «resto de tuga» a Fernando e ele não percebia porquê; Adulai era acusado de tudo pelos irmãos e era sovado todos os dias pelo padrasto por ter nascido com a pele mais clara; e os gémeos Celestina e Celestino guardam, aos 40 anos, uma fotografia desbotada de um jovem militar que não os quer conhecer, nem com o incentivo da «Exma. Mana» portuguesa. Foi para ir atrás destas histórias que Catarina Gomes partiu para a Guiné-Bissau em 2013, levando na mala um dos maiores tabus entre os militares portugueses: os filhos da guerra, crianças que ficaram para trás depois da Guerra Colonial, e que chegaram ao mundo como filhas do «inimigo» e condenadas a não conhecer os pais. Além do círculo masculino de silêncios que os mantém afastados, estes filhos africanos são também ignorados pelo Estado português, que nunca fez um esforço por conhecer a dimensão desta realidade ou por lhes garantir quaisquer direitos. Estão há anos em busca de uma identidade perdida, mas esta é a primeira vez que alguém conta a sua história.
Chamavam «resto de tuga» a Fernando e ele não percebia porquê; Adulai era acusado de tudo pelos irmãos e era sovado todos os dias pelo padrasto por ter nascido com a pele mais clara; e os gémeos Celestina e Celestino guardam, aos 40 anos, uma fotografia desbotada de um jovem militar que não os quer conhecer, nem com o incentivo da «Exma. Mana» portuguesa. Foi para ir atrás destas histórias que Catarina Gomes partiu para a Guiné-Bissau em 2013, levando na mala um dos maiores tabus entre os militares portugueses: os filhos da guerra, crianças que ficaram para trás depois da Guerra Colonial, e que chegaram ao mundo como filhas do «inimigo» e condenadas a não conhecer os pais. Além do círculo masculino de silêncios que os mantém afastados, estes filhos africanos são também ignorados pelo Estado português, que nunca fez um esforço por conhecer a dimensão desta realidade ou por lhes garantir quaisquer direitos. Estão há anos em busca de uma identidade perdida, mas esta é a primeira vez que alguém conta a sua história.
«Os filhos nascidos da guerra sofrem com
a falta de conhecimento em relação aos seus pais biológicos. Os governos, assim
como as instituições nacionais e internacionais, são incentivados a pôr de pé medidas
que garantam o seu direito à identidade e, tanto quanto possível, a conhecerem
os seus pais.»
(Recomendação da organização
internacional Chibow: Children Born of War)
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