São várias as formas como o
maior banco privado português construiu a sua rede de influência entre os
governantes, como diferentes são os sinais de retribuição de cada um dos 25
Ministros e Secretários de Estado que se cruzaram com os destinos do BES.
Dezasseis dos 19 governos
constitucionais tiveram quadros vindos, ou que transitaram para o BES.
(...)
Encontramos percursos de
relevo pelo papel desempenhado em momentos chave da economia portuguesa, como é
caso de Ernâni Lopes, Ministro das Finanças do Governo do Bloco Central
(1983-1985), responsável pela chamada Lei de Delimitação de sectores, aprovada
em 1983, que pela primeira vez desde as nacionalizações abria o sector da banca
à iniciativa privada, preparando assim a primeira fase de privatizações. A
criação do Banco Comercial Português, em 1984, com capitais coordenados por
Américo Amorim, teve o apoio deste economista e quadro do Banco de Portugal.
O BES foi, posteriormente, o único banco privado no qual Ernâni Lopes
desempenhou funções de administração (2002-2003).
Na fase seguinte, os
governos de Cavaco Silva são marcantes para a recomposição do grupo, abrindo os
campos legais à privatização (criação das sociedades anónimas de capitais
públicos e nova revisão constitucional), e gerindo estrategicamente a entrega
das seguradoras como primeira etapa de recomposição do poder financeiro.
A privatização da
Tranquilidade, com o apoio do Crédit Agricole e o apadrinhamento político de
Mário Soares, foi fundamental para o regresso da família Espírito Santo e
o fortalecimento financeiro indispensável no ataque à privatização do BES.É um
período no qual Miguel Horta e Costa ocupa o cargo de Secretário de Estado do
Comércio Exterior (1987-1990), decisivo nas novas relações com a banca
europeia, para logo depois ingressar na presidência do BES Investimento
(1990-1995).
Um acontecimento não inédito
na família, uma vez que o seu tio, Miguel Jorge Horta e Costa, o quinto Barão
de Santa Comba Dão, era muito próximo de Manuel Ricardo Espírito Santo, do qual
recebeu a administração da Mocar e Santomar. Nesta fase ingressam ainda
no banco ex-governantes como Rui Machete (1990-1991), Emílio Vilar (1985-1986)
e Almerindo Marques (1985). Este último viria a reencontrar o BES já
na qualidade de presidente das Estradas de Portugal, tendo por função a
supervisão do consórcio que o banco mantém com a Mota-Engil (Ascendi).
Comprovamos essa adaptação
com as privatizações dos sectores estratégicos lançadas por António
Guterres, que conferiram ao BES um lugar de comando na banca nacional. A
relação de credor com a PT passa a ser um dos pilares do grupo, com Murteira
Nabo a saltar de Ministro de Guterres para a presidência da telefónica
(1996-2003), integrando, quatro anos mais tarde, a administração do BES.
No mesmo período, um
ex-quadro do BES, António Mexia, chega ao comando da Galp, petrolífera onde o
banco manteve uma posição até o ano 2000, alienando-a à ENI e Iberdrola por
influência do inevitável Pina Moura.
O início do século marca a
expansão do grupo BES a outras áreas de influência, como a saúde, cuja
atividade pôde contar com a consultadoria da atual presidente do PS, Maria
de Belém Roseira, assim como a consolidação do seu braço institucional, a
Fundação Ricardo Espírito Santo, que coopta para a sua presidência a
ex-Ministra da Cultura, Maria João Bustorff. Já no tempo de Sócrates,
a influência do BES permanece, com os destinos da economia entregues ao
seu quadro de longa data, Manuel Pinho, que agora acordou uma reforma
milionária com o banco. (...)
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