Faz hoje anos que se deu início aos Julgamentos de Nuremberga, 20 de Novembro de 1945.
Poucos meses após o fim da Segunda
Guerra Mundial e o suicídio de Adolf Hitler, alguns dos seus principais
colaboradores sentaram-se no banco dos réus, a 20 de Novembro de 1945, para
serem julgados por crimes de guerra.
Nuremberga, Novembro de 1945.
A cidade na qual Hitler e seus
cúmplices eram celebrados anualmente nas convenções do partido nazi está destruída,
como a maioria dos centros urbanos alemães. O edifício da Justiça na rua
Fürther Strasse, no entanto, mal fora danificado. Ali, na sala 600 do Tribunal
do Júri, reuniu-se de 20 de Novembro de 1945 a 1 de Outubro de 1946 o Tribunal
Militar Internacional.
Já durante a guerra os Aliados haviam
decidido levar a elite nazi ao banco dos réus quando o conflito terminasse.
Desde Outubro de 1942, a Comissão de Crimes de Guerra das Nações Unidas juntava
provas e documentos e elaborava uma lista de crimes.
"Quando eu comecei, no ano de 1942, a trabalhar neste assunto nos Estados Unidos, os meus colegas americanos perguntavam-me: 'Então, é tudo verdade? Podemos provar isto?' E eu respondia que podíamos comprovar 100%. Em Nuremberga, pude ver mais tarde que as coisas não eram 100%, mas 105%.
"Quando eu comecei, no ano de 1942, a trabalhar neste assunto nos Estados Unidos, os meus colegas americanos perguntavam-me: 'Então, é tudo verdade? Podemos provar isto?' E eu respondia que podíamos comprovar 100%. Em Nuremberga, pude ver mais tarde que as coisas não eram 100%, mas 105%.
Eles mesmos deixaram por escrito, a
começar por Hermann Göring", recorda Robert Kempner, um jurista, que
actuou na acusação em Nuremberga.
Lista de acusados
Em 20 de Novembro de 1945, a audiência
contra os principais criminosos de guerra foi aberta. A lista de acusados era
um "quem é quem" do regime de Hitler: Hermann Wilhelm Göring, Rudolf
Hess, Joachim von Ribbentrop, Robert Ley, Wilhelm Keitel, Ernst
Kaltenbrunner...
Vinte e dois acusados proeminentes,
entre eles três do estreito grupo de líderes em torno de Hitler: Martin
Bormann, desaparecido desde o fim da guerra, Hermann Göring e Rudolf Hess,
assim como os militares Keitel, Jodl, Raeder e Dönitz, e os ministros
Ribbentrop, Frick, Funk e Schacht. A relação prosseguia: Alfred Rosenberg, que
comandava a região leste ocupada, Hans Frank, governador-geral da Polónia,
Arthur Seyss-Inquardt, comissário do Reich para a Holanda ocupada, Fritz
Sauckel, que distribuía os escravos do regime nazi, e Albert Speer, que como
ex-ministro da Munição e das Armas recrutou vários trabalhadores forçados para
as indústrias alemãs do sector.
Abertura
"O presidente do Tribunal abre a
secção. Então, passa a palavra ao principal promotor americano. A sua voz soa
como se estivesse distante. Os intérpretes murmuram atrás da divisória
envidraçada. Todos os olhos estão voltados para os acusados...
Agora estão sentados, no banco dos
réus, a guerra, o pogrom, o rapto de pessoas, o assassinato em massa e a
tortura.
Gigantescos e invisíveis, eles estão
sentados ao lado das pessoas acusadas", descreveu o escritor Erich Kästner
nas suas impressões. Ele foi um dos poucos alemães admitidos como observadores
no julgamento.
A acusações são resumidas em quatro
pontos:
Conspiração contra a paz mundial;
Planeamento, início e condução de
guerra;
Crimes e violações ao direito de
guerra;
Crimes contra a humanidade.
Encerrada a leitura do libelo
acusatório, os réus foram questionados se consideravam-se "culpados"
ou "inocentes".
Hermann Göring tentou dar uma longa
declaração, mas foi interrompido pelo juiz.
Göring: "Antes que eu responda à
pergunta do tribunal se eu me considero culpado ou inocente..."
Juiz: " Deve declarar-se culpado
ou inocente..."
Göring: "No espírito da acusação,
eu considero -me inocente".
Os demais acusados também alegaram
inocência, dentro do "espírito da acusação". Todos declararam ter
apenas obedecido a ordens, não ter conhecimento dos crimes e empurraram toda a
responsabilidade para o ditador morto. Nenhum defendeu a ideologia em nome da
qual milhões foram atacados, escravizados e assassinados.
Padre Max e Maria de Lurdes foram assassinados há 35 anos
No dia 2 de Abril de 1976, o
Padre Maximino Barbosa de Sousa e a sua aluna Maria de Lurdes, Militante da União de Estudantes pela Democracia
Popular(UEDP) de 19 anos,
foram assassinados pela explosão de uma bomba no carro em que seguiam. O
atentado foi da autoria do movimento fascista MDLP, mas os seus autores nunca
foram condenados.
Este é um grande escândalo da
democracia portuguesa, um padre e uma jovem foram assassinados à bomba pela
extrema-direita, mas os autores do crime nunca foram condenados. O Padre Max
era então candidato independente a deputado na lista da UDP (União Democrática
Popular) e o assassinato foi organizado pelo movimento fascista MDLP (Movimento
Democrático de Libertação de Portugal). Os tribunais chegaram a admitir que o
atentado partiu do MDLP. Três homens chegaram a ser acusados da autoria moral e
outros quatro de terem sido os operacionais, mas os tribunais foram incapazes
de uma condenação.
O primeiro processo sobre o crime foi arquivado em 1977, por falta de provas. Em 1989, o processo foi reaberto pelo Tribunal da Relação do Porto. Foram indicados sete responsáveis pelo atentado: O cónego de Braga Eduardo Melo, o empresário Rui Castro Lopo, e o ex-membro do Conselho da Revolução Canto e Castro, como autores morais;
Carlos Paixão, Alfredo Vitorino, Valter
dos Santos e Alcides Pereira, como autores materiais. Mas, o processo foi
novamente arquivado, por falta de provas.
Em 1996, o Tribunal da Relação do Porto reabriu de novo o processo,
tendo sido apenas pronunciados os quatro autores materiais, que foram
absolvidos em 1997, por falta de provas. Posteriormente, o Supremo Tribunal de
Justiça anulou o acórdão e foi marcado novo processo, que a 21 de Janeiro de
1999 absolveu os arguidos e ninguém foi condenado, apesar do Tribunal admitir
que o ataque teria partido do MDLP.
Em 2006, numa conferência organizada pelo Bloco de Esquerda, Francisco
Louçã afirmou que os tribunais foram “silenciosos, negligentes e muitas vezes
incompetentes” quando julgaram o assassinato do padre Max, “porque não queriam
investigar e levar o processo às últimas consequências”.
Nessa realização, o advogado Mário Brochado Coelho, que durante mais de
20 anos tudo fez para que o caso fosse a tribunal e os responsáveis fossem
condenados, salientou que "o tribunal achou que eles tinham feito alguma
coisa, mas não conseguiu reunir provas concretas de que o fizeram. Eu próprio
concordei com essa decisão, porque na justiça ninguém pode ser julgado sem
provas claras". Mário Brochado Coelho, concluiu então: "Mataram
premeditadamente o padre Max, mesmo sabendo que ele levava no carro uma jovem -
o que é típico da extrema-direita portuguesa, do absolutismo até hoje".
COMO MATARAM SÁ
CARNEIRO E AMARO DA COSTA
Assassinato do Primeiro-ministro Francisco Sá
Carneiro, do Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e o envolvimento dos
americanos.
Eu, Fernando
Farinha Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a verdade sobre
Camarate.
No passado nunca
contei toda a operação de Camarate, pois estando a correr o processo judicial,
poderia ser preso e condenado. Também porque durante 25 anos não
podia falar, por estar obrigado ao sigilo por parte da CIA, mas esta situação
mudou agora, ao que acresce o facto da CIA me ter abandonado completamente
desde 1989.
Finalmente decidi
falar por obrigação de consciência. Fiz o meu primeiro depoimento sobre
Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar, em 1995. Mais tarde
prestei alguns depoimentos em que fui acrescentando factos e informações.
Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC, organizado
por Emílio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar.
Em todas essas
declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que nunca
foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que
referi. Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial do acidente,
defendida pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria-geral da Republica.
Numa tive dúvidas
de que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho certo, pois
Camarate foi um atentado.
Devo também dizer
que tendo eu falado de factos sobre Camarate tão graves e do envolvimento de
certas pessoas nesses factos, sempre me surpreendeu que essas pessoas tenham
preferido o silêncio.
Estão neste caso o
Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e Castro. Se sentissem
ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógicos que tivessem reagido.
Quanto a mim, este
seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que fizeram, consideraram
que quanto menos se falar no assunto, melhor. Nessas declarações que
fiz, desde 1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte dos factos
ocorridos, sem nunca ter feito a narração completa dos acontecimentos.
Estávamos ainda relativamente próximos dos acontecimentos e não quis
portanto revelar todos os pormenores, nem todas as pessoas envolvidas nesta
operação.
Contudo, após terem
passado mais de 30 anos sobre os factos, entendi que todos os portugueses
tinham o direito de conhecer o que verdadeiramente sucedeu em Camarate.
Não quero contudo
deixar de referir que hoje estou profundamente arrependido de ter participado
nesta operação, não apenas pelas pessoas que aí morreram, e cuja qualidade
humana só mais tarde tive ocasião de conhecer, como do prejuízo que constituiu,
para o futuro do país, o desaparecimento dessas pessoas.
Naquela altura
contudo, Camarate era apenas mais uma operação em que participava, pelo que não
medi as consequências.
Peço por isso
desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas
consequências da operação em que participei.
Gostaria assim de
voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta
operação.
Em 1974 conheci, na
África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck, que trabalhava para a BND
(Bundesnachristendienst) - Serviços de Inteligência Alemães Ocidentais, e ao
mesmo tempo para a Stassi.
A cobertura legal
de Uta Gerveck é feita através do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de
ONG), e é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo,
trabalhando ao mesmo tempo para a BND e para a Stassi.
Fez um livro em
alemão que me dedicou, e que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na
Guiné Bissau.
O meu trabalho com
a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava já a
trabalhar para a CIA.
A minha infiltração
na Stassi dá-se por convite da Uta Gerveck, em 1976, com a concordância da CIA,
pois isso interessava-lhes muito. Úta Gerveck apresenta-me, em 1978, em
Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director da Stassi.
Fui para esse
efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que
me foi fornecido por Úta Gerveck.
0 meu trabalho de
infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados
acerta das “toupeiras" infiltradas na Alemanha Ocidental pela
Stassi.
Que actuavam
nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen Wischewski.
Hans Jurgen
Wischewski era o responsável pelas relações e contactos entre a Alemanha
Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de Coopenção e
Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões do Grupo
Bilderberg.
Viabilizou também
muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80, de ajuda a grupos de
libertação, a partir da Alemanha Ocidental. Estive também na Academia da
Stassi, várias vezes, em Postdan - Eiche.
Relativamente ao
relato dos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde
1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de
televisão Paulo Cardoso (já falecido).
Conheci Paulo
Cardoso em Angola com quem trabalhei na TVA - Televisão de Angola na altura.
Em 1975, formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez,
Carlos Miranda e Jorge Gago (já falecido).
Esta organização
pretendia, defender, em Portugal, se necessário por via de guerrilha, os
valores do Mundo Ocidental.
Através de Paulo
Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um agente da
CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip Snell. Falei então
durante algum tempo com Philip Snell.
O Paulo Cardoso
estava então a viver no Hotel Sheraton. Passados poucos dias, Philip
Snell, diz-me para ir levantar, gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa
para Londres, a uma agência de viagens na Av. De Ceuta, que trabalhava para a
embaixada dos EUA.
Fui então a uma
reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da África do
Sul, que colaborava com a CIA. Fui então entrevistado pelo chefe da
estação da CIA para a Europa, que se chamava John Logan.
Gary Van Dyk,
defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem
de Angola, e que eu trabalhava com eficiência.
Comecei então a
trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter
anteriormente colaborado com a NISS - National Intelligence Security Service (
Agência Sul Africana de Informações).
Gary Van Dyk era o
antena, em Londres, do DONS - Department Operational of National Security (Sul
Africana).
Regressando a
Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a
tempo inteiro.
Entre 1976 e 1977,
durante cerca de um ano e meio vivi numa suite no Hotel Sheraton, o que pode
ser comprovado, tudo pago pela Embaixada dos EUA.
Conduzia então um
carro com matrícula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do Hotel.
Nesta suite viveu
também a minha mulher, Elsa, já grávida da minha filha Eliana.
O meu trabalho
incluia recolha de informações /contra informações, informações sobre tráfico
de armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações sobre
terrorismo, recrutamento de informadores, etc.
Estas actividades
incluem contactos com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a
Mossad, e a "Boss" (Sul Africana), depois NISS - National Information
Secret Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago em
Portugal, recebendo cerca de USD 5.000 por mês.
Nestas actividades
facilita o facto de eu falar seis línguas.
Actuei utilizando
vários nomes diferente, com passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em
Lisboa.
Facilitava também o
facto de eu falar um dialecto angolano, o kimbundo.
A Embaixada dos EUA
tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava entregue, e
onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam por
Portugal. Era a vivenda "Alpendrada".
A partir de 1975,
como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA.
Contudo a partir de
l978, passei a trabalhar como agente encoberto, no chamado "Office of
Special Operations".
A que se chamava
serviços clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir,
conhecer e eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos EUA.
Por pertencermos a
este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava
"plausible denial" que significa que se fossemos apanhados
nestas operações com documentos de identificação falsos, a situação seria
por nossa conta e risco, e a CIA nada teria a ver com a situação.
Nessa circunstância
tinhamos o discurso preparado para explicar o que estavamos a fazer, incluindo
estarmos preparados para aguentar a tortura.
Trabalhei para o
"Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA.
Para fazer face a
estes trabalhos e operações, as minhas contas dos cartões de crédito do VISA,
American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um planfond de 10.000 USD,
que podiam ser movimentados em caso de necessidade.
Estes cartões eram
emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil, como o Citibank,
o Bank of Boston ou o Bank of America.
Entre 1975 e 1989,
portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões
de USD, em operações em diversos paises, nomeadamente pagando a informadores,
politicos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de
drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency).
Existiram outros
valores movimentados à parte, a partir de um saco azul, “em cash”,
valores esses postos á disposição pelo chefe da estação da CIA, no local onde
as operações eram realizadas.
Este saco azul
servia para pagar despesas como viagens, compras necessárias, etc.
Posso referir que a
operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a preços de 1980
entre 750.000 e 1 milhão de USD. Só o Sr. José António dos Santos Esteves
recebeu 200.000 USD.
Estas despesas
relacionadas com a operação de Camarate, incluiram os pagamentos a diversas
pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irão
descrever.
Entre 1975 e 1988,
participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e Quantico, pago
pela CIA, sobre informação, desinformação, contrainformação. Terrorismo, contra
terrorismo, infiltrações encobertas, etc., etc.
Trabalhei em
serviços de infiltração pela CIA e pela DEA (Drug Enforcement Agency), em
diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolívia, Colômbia,Venezuela,
Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano, Síria, Egipto, Argélia,
Marrocos, Filipinas. A minha colaboração com a DEA, iniciou-se em 1981,
através de Richard Lee Armitage.
Em 1980, Richard
Armitage viria também a estar comigo e com o Henry Kissinger em Paris, Richard
Lee Armitage era membro do CFR (Counceil for Foreign Affairs and Relations) e
da Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE), criada pela CIA,
Richard Armitage era também membro, na altura, do Grupo Carlyle, do qual o CEO
era Frank Carlucci.
O Grupo Carlyle
dedica-se à construcção civil, imobiliário e é uma dos maiores grupos de
tráfico de armas no Mundo, junto com o Grupo Haliburton, chefiado por
Richard "Dick" Cheney.
O Grupo Carlyle
pertence a vários investidores privados dos EUA, por regra do Partido
Republicano. Este grupo promove nomeadamente vendas de armas, petróleo e
cimento para países como o Iraque, Afeganistão e agora para os países da
primavera árabe.
A lavagem do
dinheiro do tráfico de armas e da droga, era feito, na altura, pelo Banco BCCI,
ligado à CIA e à NSA - National Security Agency.
O BCCI foi fundado
em 1972 e fechado no princípio dos anos 90, devido aos diversos escândalos em
que esteve envolvido. Oliver North pertencia ao Conselho Nacional de
Segurança, às ordens de william walker, ex-embaixador dos EUA em El Salvador.
Oliver North seguiu e segue sempre as ordens da CIA, dependente de
William Casey.
Oliver North está
hoje retirado da CIA , e é CEO de vários grupos privados americanos, tal como
Frank Carlucci. Da DEA conheci Celerino Castilho e Mike Levine.
Anabelle Grimm e Brad Ayers, tendo trabalhado para a DEA entre 1975 até
1989. Da CIA trabalhei também com Tosh Plumbey, Ralph Megehee - tenente
coronel da NSA, actualmente reformado.
Da CIA trabalhei
ainda com Bo Gritz e Tatum. Estes dois agentes tinham a sua base de
operações em El Salvador, (onde eu também estive durante os anos 80, durante o
tráfico Irão - Contras), desenvolvendo nomeadamente actividades com tráfico de
armas.
Uma das suas
operações consistiu no transporte de armas dos EUA para El-Salvador, que eram
depois transportadas para o Irão e a Nicarágua.
Os aviões,
normalmente panamianos e colombianos regressavam depois para os EUA com droga,
nomeadamente cocaína, proveniente de países como a Colômbia, Bolivia e El
Salvador, que serviam para financiar a compra de armas.
Esta actividade
desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até 1988.
A cocaína vinha
nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era proprietário Carlos
Lheder Rivas. Carlos Rivas era um dos chefes do Cartel de Medellin, trabalhando
para este cartel e para ele próprio. Carlos Rivas era, neste contexto um
personagem importante, sendo o braço direito de Roberto Vesco, que trabalhava
para a CIA e para a NSA. Roberto Vesco era proprietário de Bancos nas
Bahamas, nomeadamente o Colombus Trust. Carlos Rivas fazia toda a logística de
Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaína, nomeadamente ao movimento
de guerrilha Colombiano M19. Roberto Vesco está hoje refugiado em Cuba.
O dinheiro das
operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros bancos, com o
nome de código "Amadeus".
Há no entanto
contas activas nas Bahamas e em Norman's Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem
contas bancárias, nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras” da
Nicarágua, e para o Irão. Como acima referi, muito desse dinheiro foi para
bancos americanos e franceses, o que em parte explicará porquê é que Manuel
Noriega foi condenado a 60 anos de prisão, tendo primeiro estado preso nos EUA,
depois em França, e actualmente no Panamá. Foi preso porque era conveniente que
estivesse calado, não referindo nomeadamente que partilhava com a CIA, o dinheiro
proveniente da venda de armas e da venda de drogas. Noriega movimentava contas
bancárias em mais de 120 bancos, com conhecimento da CIA. Noriega fazia também
parte da operação "Black Eagle", dedicada ao tráfico de armas e de
droga, que em 1982 se transformou numa empresa chamada Enterprise, com a
colaboração de Oliver North e de Donald Gregg da CIA.
Em face do grau de
informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber porquê se
verificou o derrube e a prisão de Noriega. Devo dizer que estou
pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado", pois deve
ter muitos documentos ainda guardados. Noriega tinha a intenção de contar tudo
o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os serviços prestados à CIA
e a Bush Pai, tendo por isso sido preso.
Washington e a CIA
são assim veículos importantes do tráfico de armas e de droga, utilizando
nomeadamente os pontos de apoio de South Flórida e do Panamá.
No início dos anos
80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon Milian Rodriguez, que
depois mais tarde perante uma comissão do Senado Americano, onde falou do
tráfico de armas e de droga, do branqueamento de dinheiro, bem como das
cumplicidades de Oliver North neste tráfico às ordens de Bush Pai e do Donald Gregg.
Muito do dinheiro
gerado nessas vendas foi para bancos americanos e franceses. Este dinheiro
servia também para compras de propriedades imobiliárias. Por estar ligado a
estas operações, Noriega foi preso pelos EUA. Foi numa operação de droga que
realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se deu a prisão de
Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não concordei com os
agentes da DEA da estação de Miami, pois eles queriam ficar com 10 milhões de dólares
e com o avião "lear-jet" provenientes do tráfico de droga.
Não concordando,
participei desses agentes ao chefe da estação da DEA de Miami. Este chefe
mandou-lhes então levantar um inquérito, tendo sido presos pela própria DEA. A
partir de aí a minha vida tornou-se num verdadeiro inferno, nomeadamente com a
realização de armadilhas, e detenções, tendo acabado por sair da CIA em 1989, a
conselho de Frank Carlucci.
O principal culpado
da minha saída da CIA e da DEA foi John C. Lawn, director da estação da DEA e
amigo de Noriega e de outros traficantes. John Lawn encobriu, ou tentou
encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da prisão de Carlos
Rivas.
Após a minha saída
da CIA, Frank Carlucci continuou contudo a ajudar-me com dinheiro, com
conselhos e com apoio logístico, sempre que eu precisei até 1994.
Regressando contudo
à minha actividade em Portugal, anteriormente a Camarate e ao serviço da CIA,
devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975, através de duas pessoas: um
jornalista Português da RTP, já falecido, chamado Paulo Cardoso de Oliveira,
que conhecera em Angola, e que era agente da CIA, e Gary Van Dyk, agente da
BOSS (Sul Africana) que conheci também em Angola. Mantive contatos directos requentes
com Frank Carlucci, sobretudo entre 1975 e 1982, de quem recebi instruções para
vários trabalhos e operações. Os meus contactos com Frank Carlucci mantêm-se
até hoje, com quem falo ainda ocasionalmente pelo telefone. A última vez que
estive com ele foi em Madrid, em 2008, na escala de uma viagem que Frank
Carlucci realizou à Turquia.
Em Lisboa, também
lidei e recebi ordens de William Hasselberg - antena da CIA em Lisboa, que além
de recolher informações em Lisboa actua como elo de ligação entre Portugueses e
americanos. Tive inclusivamente uma vida social com William Hasselberg, que
inclui uma vida nocturna em Lisboa, em diferentes bares, restaurantes, e locais
públicos. William Hasselberg gostava bastante da vida nocturna, onde tinha
muito gosto em aparecer com as suas diversas “conquistas” femininas.
Trabalhei também
com outros agentes da CIA, nomeadamente Philip Agee. Neste âmbito, trabalhei em
operações de tráfico de armas, e em infiltrações em organizações com o objectivo
de obter informações políticas e militares, “Billie” Hasselberg fala bem
português, e era grande amigo de Artur Albarran.
Hasselberg e
Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia ou Venezuela, tendo
Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a filha do embaixador, que foi a
sua primeira mulher. Das reuniões que tive com a embaixada americana em
Lisboa, a partir de 1978, conheci vários agentes da CIA. O Chefe da estação da
CIA em Portugal, John Logan, oferece-me um livro seu autografado. Conheci
também o segundo chefe da CIA, Sr. Philip Snell, Sr. James Lowell, e o Sr.
Arredondo. Da parte militar da CIA conheci o Coronel Wilkinson, a partir de
quem conheci o coronel Oliver North e o Coronel Peter Bleckley. O coronel
Oliver North, militar mas também agente da CIA e o coronel Peter Bleckley, são
os principais estrategas nos contactos internacionais, com vista ao tráfico e
venda de armas, nomeadamente com países como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El
Salvador.
Na sequência do
conhecimento que fiz com Oliver North, tendo várias reuniões com ele e com
agentes da CIA, por causa do tráfico e negócio de armas.
Estas reuniões têm
lugar em vários países, como os EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o
Panamá. Neste último país contacto com dois dos principais adjuntos de Noriega,
José Bladon, chefe dos serviços secretos do Panamá, que me disse que praticamente
todos os embaixadores do Panamá em todo o Mundo estavam ao serviço de
Noriega. Blandon pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver
Spirits, para o embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Em meados de 1980,
Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez, que eu iria ser
encarregue de fazer um "trabalho" de importância máxima e prioritária
em Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da Embaixada dos EUA em Portugal,
sendo-me dado, para esse efeito, todo o apoio necessário. Tenho depois reuniões
em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço pela primeira vez. Frank
Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande frieza, e é organizador
das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo de ligação com os
"contra" da Nicarágua. Frank Sturgies refere-me então, que está em
marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se eliminar) uma pessoa
importante, ligada ao Governo Português de então, sem dizer contudo ainda nomes.
Algum tempo depois, possivelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis
com Frank Carlucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos
EUA, na Lapa. Janto depois com ele, onde Frank Cartucci refere novamente que
existem problemas em Portugal para a venda e transporte de armas, e que
Francisco Sá Carneiro não era uma pessoa querida dos EUA. Depois já na
sobremesa, juntam-se a nós o Gen. Diogo Neto, o Cor. Vinhas, o Cor. Robocho Vaz
e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns
obstáculos existentes ao negócio de armas.
Todos estes
elementos referem a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a
preparação e implementação desta operação. Em Outubro de 1980, num
juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank Sturgies (CIA), Vilfred
Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos), onde se
refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser removidos.
Depois há um outro
jantar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre outros, eu e o Cor.
Oliver North, onde este diz claramente que "é preciso limar algumas
arestas" e "se houver necessidade de se tirar alguém do caminho,
tira-se", dando portanto a entender que haverá que eliminar pessoas que
criam problemas aos negócios de venda de armas.
Oliver North diz-me
também que está a ter problemas com a sua própria organização, e que teme que o
possam querer afastar e "deixar cair", o que acabou por acontecer. Há
também Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o
Major Canto e Castro, o Gen. Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário
Zoio. Sabe-se também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a
tentar acabar com o tráfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento
do Ultramar, e a tentar acabar com lobbies instalados. Afastar essas
duas pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as
eleições. Restava portanto a via de um atentado.
Passados alguns
dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao conselho da
revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar com ele
no Hotel Altis. Nessa reunião está também Frank Sturgies, e fala-se pela
primeira vez em "atentado", sem se referirem ainda quem é o alvo.
Referem que contam
comigo para esta operação. O Major Canto e Castro diz que é preciso recrutar
alguém capaz de realizar esta operação. Tenho depois uma segunda reunião no
Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell, onde Frank Sturgies me encarrega
de preparar e arranjar alguns operacionais para uma possível operação dentro de
pouco tempo, possivelmente dentro de 2 ou 3 meses. Perguntam-me se já
recrutei a pessoa certa para realizar este atentado, e se eu conheço algum
perito na fabricação de bombas e em armas de fogo. Respondo que em Espanha
arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o atentado, se tal fosse necessário.
Quem paga a operação e a preparação do atentado é a CIA e o Major Canto e
Castro. Canto e Castro colabora na altura com os serviços Secretos Franceses,
para onde entrou através do sogro na época. O sogro era de nacionalidade Belga,
que trabalhava para a SDEC, os serviços de inteligência franceses, em 1979 e
1980. Canto e Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em
Angola, ao serviço da Força Aérea Portuguesa. Em Luanda, Canto e Castro vivia
perto de mim. Tendo que organizar esta operação, falo então com José Esteves e
mais tarde com Lee Rodrigues (que na altura ainda não conhecia). O elo de
ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistência
Moçambicana, a Renamo.
Falo nessa altura
também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser realizado
através de armas de fogo. Depois, noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na
Lapa, na mansarda, no último andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank
Carlucci diz abertamente e pela primeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era
a operação em curso e que esta visava Adelino Amaro da Costa, que estava a
dificultar o transporte e venda de armas a partir de Portugal ou que passavam
em Portugal, e que havia luz verde dada por Henry Kissinger e Oliver North. Cumprimento
ambos, referindo que sou "o homem deles em Lisboa". Três
semanas antes do atentado, Canto e Castro e Frank Sturgies, referem pela
primeira vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa. O Major Canto e
Castro afirma que irá viajar para Londres. Frank Sturgies pede-me que obtenha
um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como
sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no avião. Recebo depois um
telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá
com ele. Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na
Av. da Republica, junto à pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico no
Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e
leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o
material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a
"bomba" nesta operação. Essa casa em Londres, era ao mesmo
tempo residência e consultório de um dentista indiano, amigo de Canto e Castro,
Canto e Castro refere-me que esse material será levado para Portugal pela sua
companheira Juanita Valderrama.
O Major Canto e
Castro pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o material. Vou então ao
Hotel acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora
Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses
materiais, com a ajuda de Carlos Miranda. O Major Canto e Castro volta
depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a bomba está montada.
Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro. Alguns
dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no
restaurante Galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde
aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa.
Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro.
Lee Rodrigues era moçambicano e tinha ligações à Renamo. Nesse
jantar alinham-se pormenores sobre o atentado. Canto e Castro refere
contudo nesse jantar que o atentado será realizado em Angola. Perante
esta afirmação, pergunto se ele está a falar a sério ou a brincar, e se me acha
com “cara de palhaço"- fazendo intenção de me levantar. Refiro que,
através de Frank Carlucci, já estava a par de tudo. Lee Rodrigues pede
calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já estava a par
de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder. Possivelmente
em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em
Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual
marina). Vou e levo comigo José Esteves. Essa reunião tem lugar
entre as 20 e as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank
Sturgies, Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo
serem americanos. Nesta reunião é referido que há que preparar com
cuidado a operação que será para breve, e falam-se de pormenores a ter em
atenção. É referido também os cuidados que devem ser realizados
depois da operação, e o que fazer se algo correr mal. A língua utilizada
na reunião é o inglês. José Esteves recebeu então USD 200.000 pelo seu
futuro trabalho. Eu não recebi nada pois já era pago normalmente pela
CIA. Eu nessa altura recebia da CIA o equivalente a cinco mil US
Dólares, dispondo também de dois cartões de crédito Diner's Club e Visa Gold,
ambos com plafonds de 10.000 US Dólares. Lee Rodrigues pede-me então que
arranje um cartão para José Esteves entrar no aeroporto. Para este
efeito, obtenho um cartão forjado, na Mouraria, em Lisboa, numa tipografia que
hoje já não existe. Lee Rodrigues diz-me também que irá obter uma farda
de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de Santo Antão.
A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão
para Lee Rodrigues. Este cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando
o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP. Apenas foi
necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee Rodrigues.
José Esteves prepara então na sua casa no Cacém, um engenho para o
atentado. Conta com a colaboração de outro operacional
chamado Carlos Miranda, especialista em explosivos, que é recrutado por mim, e
que eu já conhecia de Angola, quando Carlos Miranda era comandante da FNLA e
depois CODECO em Portugal. José Esteves foi também um dos principais
comandantes da FNLA, indo muitas vezes a Kinshasa. Depois do artefacto
estar pronto, vou novamente a Paris. No Hotel Ritz, à tarde, tenho um
encontro com Oliver North, o Cor. Wilkison e Philip Snell, onde se refere que o
alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa. Volto a
Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado. É marcado por Oliver
North um jantar no hotel Sheraton. Nesse jantar aparece e participa um
indivíduo que não conhecia e que me é apresentado por Oliver North , chamado
Penaguião. Penaguião afirma ser segurança pessoal de Sá Carneiro.
Oliver North refere que Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro
e que é o homem que conseguirá meter Sá Carneiro no Avião. Penaguião
afirma, de forma fria e directa que Sá Carneiro também iria no avião,
"pois dessa forma matavam dois coelhos de uma cajadada!"
Afirma que a sua eliminação era necessária, uma vez que Sá Carneiro era antiamericano,
e apoiava incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denúncia do tráfico de
armas, e na descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar,
pelo que tudo estava, desde o início, preparado para incluir as duas pessoas.
Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Fico muito
receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro no
atentado. Pergunto a Penaguião como é que ele pode ter a certeza de que
Sá Carneiro irá no avião, ao que Penaguião responde de que eu não me
preocupasse pois que ele, com mais alguém, se encarregaria de colocar Sá
Carneiro naquele avião naquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a
segurança e a sua palavra era sempre escutada. No final do jantar, juntam-se
a nós três o Gen. Diogo Neto e o Cor. Vinhas. Fico estarrecido com esta
nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa mesma noite, à residência
do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank Carlucci, a quem conto o que
ouvi. Frank Carlucci responde que não me preocupasse, pois este plano já
estava determinado há muito tempo. Disse-me que o homem dos EUA era
Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira de ser, teimoso e antiamericano,
não servia os interesses estratégicos dos EUA. Mário Soares seria o
futuro apoio da política americana em Portugal, junto com outros líderes do PSD
e do PS. Aceito então esta situação, uma vez que Frank Carlucci já me
havia dito antes que tudo estava assegurado, inclusivamente se algo corresse mal,
como a minha saída de Portugal, a cobertura total para mim e para mais alguém
que eu indicasse, e que pudesse vir a estar em perigo. Isto e a usual
“realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre será. Três
dias antes do atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio
Roquete, onde participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José
Esteves e Carlos Miranda Carlos Miranda colaborou na montagem do engenho
explosivo com José Esteves, tendo ido várias vezes a casa de José Esteves.
Nessa reunião são acertados os últimos pormenores do atentado.
Nessa reunião, Lee Rodrigues diz que ele está preparado para a operação e Canto
e Castro diz que o atentado será a 3 ou 4 de Dezembro. Nessa
reunião é dito que o alvo é Adelino Amaro da Costa. No dia seguinte
encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamos jantar ao
restaurante " O Polícia". No dia 4 de Dezembro, telefono de um
telefone no Areeiro, para o Sr. William Hasselberg, na Embaixada dos EUA, para
confirmar que o atentado é para realizar, tendo-me este referido que sim.
Desse modo, à tarde, José Esteves traz uma mala a minha casa, e vamos os
dois para o aeroporto. Conduzo José Esteves ao aeroporto, num BMW do
José Esteves. Já no aeroporto, José Esteves e eu entramos no aeroporto,
por uma porta lateral, junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o cartão
forjado, anteriormente referido. Depois José Esteves desloca-se e
entrega a mala, com o engenho, a Lee Rodrigues, que aparece com uma farda de
piloto e é também visto por mim. Depois de cerca de 15 minutos, sai já
sem a mala, e sai comigo do aeroporto. Separamo-nos, mas mais tarde José
esteves encontra-se novamente comigo no cabeleireiro Bacta, no centro comercial
Alvalade. Depois José esteves aparece em minha casa com a companheira da
época, de nome Gina, e com um saco de roupa para lá ficar por precaução.
Ouvimos depois o noticiário das 20 horas na televisão, e José Esteves fica
muito surpreendido, pois não sabia que Sá Carneiro também ia no avião.
Afirma que fomos
enganados! Telefona então para Lencastre Bernardo, que tinha grandes
ligações à PJ e à PJ Militar, e uma Ligação ao General Eanes, Lencastre
Bernardo tem também ligações a Canto e Castro, Pezarat Correia, Charais, ao
empresário Zoio a José António Avelar que era ex-braço direito de Canto e
Castro. José Esteves telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele.
Este aceita, pelo que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha
mulher Elza, dirigimo-nos para a Rua Gomes Freire, na PJ, para falar com ele.
Esteves sobe para falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que
não se preocupasse, pois nada lhe sucederia. Passámos contudo por casa
de José Esteves pois este temia que aí houvesse já um conjunto de polícias à
sua procura, devido a considerarem que ele estava associado à queda do avião em
camarate. José Esteves ficou assim aliviado por verificar que não
existia aparato policial à porta de sua casa. Vem contudo dormir
para minha casa. Alguns dias depois falei novamente com Frank
Carlucci. A quem manifestei o meu desconhecimento e ter ficado chocado
por ter sabido, depois de o avião ter caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro-ministro
e do Ministro da Defesa também tinham ido no Avião. Frank Carlucci
respondeu-me que compreendia a minha posição, mas que também ele desconhecia
que iriam outras pessoas no avião, mas que agora já nada se podia fazer.
Em 1981, encontro-me com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria,
no restaurante Galeto, em Lisboa. Conto a Victor Pereira que alguns dos
atentados estão atribuídos às Brigadas Revolucionárias, relacionados com a
colocação de bombas, foram porém efectuadas pelo José Esteves, como foram os
casos dos atentados à bomba na Embaixada de Angola, de Cuba (esta última com
conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto, na casa do prof.
Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na casa de Vasco
Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter "sensacionalismo"
á época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da FP25. Não
falei então com Victor Pereira
Com camarate.
Tomei conhecimento no entanto que Victor Pereira, no dia 4 de Dezembro
de 1980, tendo ido nessa noite ao Aeroporto da Portela, como agente da PJ,
encontrou a mala que era transportada pelo Eng. Adelino Amaro da Costa.
Nessa mala estavam documentos referentes ao tráfico de armas e de pessoas
envolvidas com o Fundo de Defesa do Ultramar. Salvo erro, Victor Pereira
entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral, que por sua vez a entregou
na PJ. Disse-me então Victor Pereira que essa mala, de maior importância
no caso de Camarate, pelas informações que continha, e que podiam explicar os
motivos e as pessoas por detrás deste atentado, nunca mais voltou a aparecer.
Esta informação foi-me transmitida por Victor Pereira, quando esteve
preso comigo na prisão de Sintra, em 1986. Não referi então a Victor
Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa mala,
em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na
Embaixada dos EUA. Também em 1981, uns meses depois do atentado, eu e o
José Esteves fomos ter com o Major Lencastre Bernardo, na Polícia Judiciária,
na Rua Gomes Freire.
Com efeito, tanto o
José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia suceder por causa do
nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queríamos saber o que se passava
com a nossa protecção por causa de Camarate. Eu não participo na
reunião, fico à porta. Contudo José Esteves diz-me depois que nessa
conversa Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa anterior conversa com
Francisco Pinto Balsemão, este lhe havia dito ter tido conhecimento prévio do
atentado de Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger o informou de que essa
operação ia ocorrer. Disse-lhe também que ele próprio tinha tido
conhecimento prévio do atentado de Camarate. Disse-lhe ainda que
podíamos estar sossegados quanto a Camarate, pois não ia haver problemas
connosco, pois a investigação deste caso ia morrer sem consequências.
*** A este respeito gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós,
em 1986, com Lencastre Bernardo, num restaurante ao pé do Edifício da PJ na Rua
Gomes Freire, ele garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia
passar em 4 de Dezembro.*** No restaurante Fouchet's, em Paris,
Kissinger tinha-me dito, “por alto”, que o futuro Primeiro-ministro de Portugal
seria Pinto Balsemão. É importante referir que tanto Henry Kissinger como
Pinto Balsemão eram já, em 1980, membros destacados do grupo Bilderberg, sendo
certo que estas duas pessoas levavam convidados às reuniões anuais desta
organização. Deste modo, aquando da conversa com Lencastre Bernardo, em
1986, relacionei o que ele me disse sobre Pinto Balsemão, com o que tinha
ouvido em Paris, em l980. Tive também esta informação, mais tarde, em
1993, numa conversa que tive com William Hasselberg, em Lisboa, quando este me
confirmou de que Pinto Balsemão estava a par de tudo. Em finais de 1982,
pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em Lisboa, verifico que
se fala de nomes concretos de personalidades americanas como tendo estado
envolvidas em tráfico de armas que passava por Portugal. Pergunto então
a William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas insistências
minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a PJ entregou, na embaixada
dos EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino Amaro da Costa,
em 4 de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do avião, embora não
me tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses documentos.
Peço então a William Hasselberg que me deixe consultar essa mala, uma
vez que faço também parte da equipa da CIA em Portugal.
Ele aceita, e pude
assim consultar os documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200
páginas. Pude assim consultar este Dossier durante cerca de uma semana,
tendo-o lido várias vezes, e resumido, à mão, as principais partes, uma vez que
não tinha como fotografá-lo ou copiá-lo. Vejo então, que apesar do
desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa ter ficado queimada, e
ter sido substituída por outra, os documentos estavam intactos. Estes
documentos continham uma lista de compra de armas, que incluía nomeadamente
RPG-7, RPG-27, G3, lança granadas, diagramas, munições, granadas, minas,
rádios, explosivos de plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e obuses.
Referia-se também nesses documentos que para se iludir as pistas, as vendas
ilegais de armas eram feitas através de empresas de fachada, com os caixotes a
referir que a carga se tratava de equipamentos técnicos, e peças sobresselentes
para maquinas agrícolas e para a construção civil. Esta forma de
transportar armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer
da década de 80, até 1988, e quando estive em Ilopango, em El Salvador, também
na década de 80, verifiquei que era verdade. Nestes documentos lembro-me
de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa Braço de Prata, bem como
referências de vendas de armas de Portugal e de países de Leste, como a Polónia
e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El Salvador, Colômbia,
Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam em guerra, como
Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia, Somália, Líbia,
etc. Está também claramente referido nesses documentos que a venda de
armas é feita através da empresa criada em Portugal chamada
"Supermarket" (que operava através da empresa mãe "Black - Eagle"). Fonte
Fotos retiradas daqui
Comentários:
De Carmindo
Mascarenhas Bordalo a 30 de Abril de 2012.
Uma pequena, mas
importante, parte deste depoimento é corroborado por Freitas do Amaral, no 2º
volume das suas memórias. O então Ministro dos Negócios Estrangeiros afirma que
recebeu um telegrama vindo por canal diplomático de Londres, no qual a Scotland
Yard avisa que um especialista em engenhos explosivos, Lee Rodrigues, foi visto
perto do avião no dia do atentado. Freitas afiança que mandou o telegrama para
a Polícia Judiciária mas que, quando consultou o processo anos mais tarde, não
havia rasto dele.
Olof Palme foi assassinado há 30
anos
No dia 28 de fevereiro de
1986, o primeiro-ministro sueco, Olof Palme, foi abatido pelas costas à saída
de um cinema, no centro de Estocolmo. O crime chocou a Suécia e o mundo todo.
Embora tenha havido várias
teorias sobre o assassinato, a identidade do culpado permaneceu um mistério.
O novo procurador, que
curiosamente tem um nome muito semelhante ao do único suspeito neste caso
(Krister Petersson), vai encarregar-se desta investigação já a partir do
próximo mês de fevereiro, numa altura em que já conta mais de vinte anos de
carreira. “Sinto-me honrado e aceito esta missão com muita energia”, garante
Petersson, agora que tem as atenções da Suécia e do mundo viradas para si por
ser o mais recente responsável pela investigação de um caso misterioso e
sangrento que, em 30 anos, ainda ninguém foi capaz de resolver.
1 comentário:
«Na última reunião "tripartida" entre o Primeiro-Ministro da época, Dr. Francisco Sá Carneiro, o Ministro da Defesa, Engº. Adelino Amaro da Costa e o Ministro das Finanças, Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva, foram dadas ORDENS a este último, como Ministro das Finanças, de INVESTIGAR o desvio de 200.000.000$00 (DUZENTOS MIL CONTOS - UM MILHÃO DE EUROS) do FUNDO DE DEFESA MILITAR DO ULTRAMAR PORTUGUÊS!»
Aníbal Cavaco Silva NUNCA OBEDECEU A ESSAS ORDENS!
Aníbal Cavaco Silva NEGOU-SE a cumprir as ORDENS EXPRESSAS do Dr. Francisco Sá Carneiro, Primeiro-Ministro!
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