Domingo, 16 Novembro, 2014
O Rei D. Dinis escolheu a Igreja do Mosteiro Cisterciense de Odivelas
para sua última morada. Indicou mesmo o local – a meio, entre a capela-mor e o
coro. Para que a sua vontade fosse cumprida, fez essa declaração no seu
testamento. Assim se cumpriu. Naquele local e naquele Igreja foi depositado o
seu corpo quando o cortejo fúnebre chegou, vindo de Santarém. Era um mausoléu
majestoso. O primeiro a ter uma estátua jacente. O primeiro a ficar dentro de
um lugar sagrado. Estava cercado de grades altas de ferro terminando em
escudetes nas pontas dos balaústres com as armas de Portugal, e cruzes da Ordem
de Cristo. Um dossel cobria-o em toda a sua dimensão.
O sismo de 1755 precipitou sobre o túmulo do Rei D. Dinis a abóbada da
igreja do Mosteiro Cisterciense de Odivelas deixando-o gravemente arruinado.
Reconstruída a Igreja, foi o túmulo encostado à teia do corredor lateral
direito e ali esteve até 1938, ano em que se fizeram novamente obras na Igreja.
Em consequência dessas obras, foi necessário mudá-lo de lugar e para facilitar
o trabalho transportaram primeiro a tampa, pelo que, logo que a levantaram,
ficaram à vista os restos mortais do Rei.
Removida a tampa viu-se um manto de brocada vermelho a cobrir o corpo do
Rei, da cabeça aos pés. Este manto era tecido com fios de ouro. A todo o
cumprimento tinha faixas alternadas, separadas com fios dourados e onde se
tinham executado bordados com os seguintes motivos: numa das faixas estavam
bordadas pinhas em toda a sua extensão; na faixa seguinte bordaram açores e na
última viam-se flores de Liz.
Na opinião dos que assistiram a este acontecimento, as pinhas são uma
referência ao pinhal de Leiria. Os açores, sendo o Rei um amante da caça de
volataria, lembram-nos a aves de caça que muito estimava. Conta-se que até
mandou construir uma capela a São Luís em Beja, porque este santo lhe
ressuscitou um falcão.
As flores de Liz são uma afirmação da sua ascendência real francesa.
Retirado o manto, ficou à vista o esqueleto do Rei, que estava completo e
coberto pela pele ressequida. Tinha vestido um colete de lã branca muito macia,
sobre a túnica.
A cabeça repousava numa almofada e estava inclinada como quem dorme sobre o
lado esquerdo, posição que o corpo acompanhava ligeiramente. O braço direito
dobrado sobre o peito e o esquerdo descaído ao longo do corpo. Apenas os ossos
dos pés estavam separados uns dos outros. Nos maxilares a pele estava um pouco
separada e apresentava uma longa barba ruiva. Na cabeça a pele não se
apresentava solta do crânio e tinha tufos de cabelos ruivos. O Rei tinha 64
anos quando faleceu, o que para a época era uma idade avançada. Apesar da
idade, conservava todos os dentes.
Perante os restos mortais do Rei, os pintores dos seus retratos não se
podiam ter enganado mais. Foi uma surpresa a verificação que era ruivo, o que
se deve ao facto de ter antecedentes germânicos.
Afirma-se que soldados franceses terão tentado profanar o túmulo pensando
que o Rei teria sido sepultado com esporas de ouro. De facto alguém partiu o
túmulo no sítio dos pés , e terão introduzido um objecto que puxasse as
esporas. Não garanto que tivesse sido assim, mas o facto de os ossos dos pés
estarem espalhados pode ter essa explicação.
Não há sinais de ter sido aberto o túmulo antes de 1938, nem notícia de ter
sido aberto depois.
Posteriormente foi levado para o segundo absidíolo esquerdo, por decisão
dos técnicos das obras, decisão que não foi aprovada pelo presidente do
Conselho, que ordenou a sua remoção para dentro da Igreja, por saber que essa
era a vontade do Monarca. Foi então colocado onde hoje se encontra – na capela
do lado do Evangelho.
Para que conste que o Rei D. Dinis está sepultado no seu túmulo, depositado
na Igreja do Mosteiro Cisterciense feminino de São Dinis e São Bernardo em
Odivelas, o que tenho vindo a afirmar continuadamente desde 1980.
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«Por Terras de D. Dinis», crónica de Maria Máxima Vaz
«Por Terras de D. Dinis», crónica de Maria Máxima Vaz
Nota -
"conhecimentos porque uma pessoa com saber e responsável soube
transmitir-nos o que viu. Era então Director do Instituto de Odivelas um grande
Militar e Pedagogo, Coronel Ferreira Simas.
Assistiu à
abertura e ordenou a uma professora de desenho que reproduzisse os bordados do
manto. Mais tarde teve conhecimento de um artigo que fazia uma descrição cheia
de atropelos. Então ele fez um relatório dos factos, com a descrição do que
viu. Merece todo o crédito a sua descrição e foi aí que obtive as informações
que aqui vos deixei com enorme satisfação."
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