Erro crasso
Significado: Erro grosseiro.
Origem: Na Roma
antiga havia o Triunvirato: o poder dos generais era dividido por três pessoas.
No primeiro destes Triunviratos , tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este
último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos. Confiante na
vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e
simplesmente atacar. Ainda por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca
visibilidade. Os partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos,
sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair.
Desde então, sempre que alguém tem tudo para acertar, mas comete um erro
estúpido, dizemos tratar-se de um “erro crasso”.
Ter para os alfinetes
Significado: Ter
dinheiro para viver.
Origem: Em
outros tempos, os alfinetes eram objecto de adorno das mulheres e daí que,
então, a frase significasse o dinheiro poupado para a sua compra porque os
alfinetes eram um produto caro. Os anos passaram e eles tornaram-se utensílios,
já não apenas de enfeite, mas utilitários e acessíveis. Todavia, a expressão
chegou a ser acolhida em textos legais. Por exemplo, o Código Civil Português,
aprovado por Carta de Lei de Julho de 1867, por D. Luís, dito da autoria do
Visconde de Seabra, vigente em grande parte até ao Código Civil actual, incluía
um artigo, o 1104, que dizia: «A mulher não pode privar o marido, por convenção
antenupcial, da administração dos bens do casal; mas pode reservar para si o
direito de receber, a título de alfinetes, uma parte do rendimento dos seus
bens, e dispor dela livremente, contanto que não exceda a terça dos ditos
rendimentos líquidos.»
Do tempo da Maria Cachucha
Significado: Muito
antigo.
Origem: A
cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, ao som das
castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até
terminar num vivo volteio. Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma
célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris. Em Portugal, a
popular cantiga Maria Cachucha (ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas
do povo dançarem) era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra
bastante gracejadora, zombeteira.
À
grande e à francesa
Significado: Viver
com luxo e ostentação.
Origem: Relativa
aos modos luxuosos do general Jean Andoche Junot, auxiliar de Napoleão que
chegou a Portugal na primeira invasão francesa, e dos seus acompanhantes, que
se passeavam vestidos de gala pela capital.
Coisas do arco-da-velha
Significado: Coisas
inacreditáveis, absurdas, espantosas, inverosímeis.
Origem: A
expressão tem origem no Antigo Testamento; arco-da-velha é o arco-íris, ou
arco-celeste, e foi o sinal do pacto que Deus fez com Noé: “Estando o arco nas
nuvens, Eu ao vê-lo recordar-Me-ei da aliança eterna concluída entre Deus e
todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra.” (Génesis 9:16)
Arco-da-velha
é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
Há
também diversas histórias populares que defendem outra origem da expressão,
como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a
curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades
mágicas do arco-íris – beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que
velha poderá ter vindo do italiano bere (beber).
Dose para cavalo
Significado: Quantidade
excessiva; demasiado.
Origem: Dose
para cavalo , dose para elefante ou dose para leão são algumas das variantes
que circulam com o mesmo significado e atendem às preferências individuais dos
falantes.
Supõe-se
que o cavalo, por ser forte; o elefante, por ser grande, e o leão, por ser
valente, necessitam de doses exageradas de remédio para que este possa produzir
o efeito desejado.
Com
a ampliação do sentido, dose para cavalo e suas variantes é o exagero na
ampliação de qualquer coisa desagradável, ou mesmo aquelas que só se tornam
desagradáveis com o exagero.
Dar um lamiré
Significado: Sinal
para começar alguma coisa.
Origem: Trata-se
da forma aglutinada da expressão «lá, mi, ré», que designa o diapasão,
instrumento usado na afinação de instrumentos ou vozes; a partir deste
significado, a expressão foi-se fixando como palavra autónoma com significação
própria, designando qualquer sinal que dê começo a uma actividade.
Historicamente,
a expressão «dar um lamiré» está, portanto, ligada à música (cf. Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa).
Memória de elefante
Significado: Ter boa
memória; recordar-se de tudo.
Origem: O
elefante fixa tudo aquilo que aprende, por isso é uma das principais atracções
do circo.
Lágrimas de crocodilo
Significado: Choro
fingido.
Origem: O
crocodilo, quando ingere um alimento, faz forte pressão contra o céu da boca,
comprimindo as glândulas lacrimais. Assim, ele chora enquanto devora a vítima.
Não poder com uma gata pelo rabo
Significado: Ser ou
estar muito fraco; estar sem recursos.
Origem: O
feminino, neste caso, tem o objectivo de humilhar o impotente ou fraco a que se
dirige a referência. Supõe-se que a gata é mais fraca, menos veloz e menos
feroz em sua própria defesa do que o gato. Na realidade, não é fácil segurar
uma gata pelo rabo, e não deveria ser tão humilhante a expressão como realmente
é.
Mal e porcamente
Significado: Muito
mal; de modo muito imperfeito.
Origem: «Inicialmente,
a expressão era “mal e parcamente”. Quem fazia alguma coisa assim, agia mal e
ineficientemente, com parcos (poucos) recursos.
Como
parcamente não era palavra de amplo conhecimento, o uso popular tratou de
substituí-la por outra, parecida, bastante conhecida e adequada ao que se
pretendia dizer. E ficou ” mal e porcamente”, sob protesto suíno.
Rés-vés Campo de Ourique
Significado: Ficar muito perto de
alcançar algo.
Origem: A
expressão “rés-vés Campo de Ourique” remonta a 1755 quando o terramoto assolou
Lisboa tendo destruído a cidade até à zona de Campo de Ourique, que ficou
intacta. A partir daí o ditado generalizou-se.
Ficar a ver navios
Significado: esperar
algo que não vem, não acontece, não aparece.
Origem: Deriva da atitude contemplativa de
populares, que se instalavam nos lugares mais altos da cidade à espera de que
uma lenda se tornasse realidade.
Eram
os portugueses que ficavam a ver navios, na esperança de que um dia voltasse à
pátria o rei Dom Sebastião, protagonista da batalha de Alcácer-Quibir, em
Marrocos, em que tropas lusitanas e marroquinas travaram violento combate em
1578. Após o desaparecimento de Dom Sebastião na luta, difundiu-se a crença que
um dia regressaria a Portugal, para levar o país de volta a uma época de
conquistas.
Multidões
que frequentavam o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, confiantes no regresso do
rei, ficavam a ver os navios que chegavam.
Outra
explicação desta expressão prende-se com as invasões francesas e a partida da
família real para o Brasil. Teriam as tropas francesas que se dirigiam
à capital ainda vislumbrado a sua partida do alto de uma das colinas de
Lisboa, e daí a expressão ficaram a ver navios, a partirem, literalmente,
falhando na captura da família real.
Andar à toa
Significado: Andar
sem destino, despreocupado, passando o tempo.
Origem: Toa é a
corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que
não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar.
Embandeirar em arco
Significado: Manifestação
efusiva de alegria.
Origem: Na
Marinha, em dias de gala ou simplesmente festivos, os navios embandeiram em
arco, isto é, içam pelas adriças ou cabos (vergueiros) de embandeiramento
galhardetes, bandeiras e cometas quase até ao topo dos mastros, indo um dos
seus extremos para a proa e outro para a popa. Assim são assinalados esses dias
de regozijo ou se saúdam outros barcos que se manifestam da mesma forma.
Cair da tripeça
Significado: Qualquer
coisa que, dada a sua velhice, se desconjunta facilmente.
Origem: A
tripeça é um banco de madeira de três pés, muito usado na província, sobretudo
junto às lareiras. Uma pessoa de avançada idade aí sentada, com o calor do
fogo, facilmente adormece e tomba.
Fazer tábua rasa
Significado: Esquecer
completamente um assunto para recomeçar em novas bases.
Origem: A
tabula rasa , no latim, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito.
A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem
ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua
opinião, completamente vazio. Também John Locke (1632 1704), pensador inglês,
em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatísmo, afirmava que o
homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida,
da experiência. «Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa,
limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma. Tabula rasa in qua nihil scriptum.
Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»
Ave de mau agouro
Significado: Diz-se
de pessoa portadora de más notícias ou que, com a sua presença, anuncia
desgraças.
Origem: O
conhecimento do futuro é uma das preocupações inerentes ao ser humano. Quase
tudo servia para, de maneiras diversas, se tentar obter esse conhecimento. As
aves eram um dos recursos que se utilizava. Para se saberem os bons ou maus
auspícios (avis spicium) consultavam-se as aves. No tempo dos áugures romanos,
a predição dos bons ou maus acontecimentos era feita através da leitura do seu
voo, canto ou entranhas. Os pássaros que mais atentamente eram seguidos no seu
voo, ouvidos nos seus cantos e aos quais se analisavam as vísceras eram a
águia, o abutre, o milhafre, a coruja, o corvo e a gralha. Ainda hoje perdura,
popularmente, a conotação funesta com qualquer destas aves.
Verdade de La Palisse
Significado: Uma
verdade de La Palice (ou lapalissada / lapaliçada) é evidência tão grande, que
se torna ridícula.
Origem: O
guerreiro francês Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (1470-1525), nada
fez para denominar hoje um truísmo. Fama tão negativa e multissecular deve-se a
um erro de interpretação.
Na
sua época, este chefe militar celebrizou-se pela vitória em várias campanhas.
Até que, na batalha de Pavia, foi morto em pleno combate. E os soldados que ele
comandava, impressionados pela sua valentia, compuseram em sua honra uma canção
com versos ingénuos:
“O
Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia; / Momentos antes da sua morte,
/ Podem crer, inda vivia.”
O
autor queria dizer que Jacques de Chabannes pelejara até ao fim, isto é,
“momentos antes da sua morte”, ainda lutava. Mas saiu-lhe um truísmo, uma
evidência.
Segundo
a enciclopédia Lello, alguns historiadores consideram esta versão apócrifa. Só
no século XVIII se atribuiu a La Palice um estribilho que lhe não dizia
respeito. Portanto, fosse qual fosse o intuito dos versos, Jacques de Chabannes
não teve culpa.
Ter ouvidos de tísico
Significado: Ouvir
muito bem.
Origem: Antes
da II Guerra Mundial (l939 a l945), muitos jovens sofriam de uma doença
denominada tísica, que corresponde à tuberculose. A forma mais mortífera era a
tuberculose pulmonar.
Com
o aparecimento dos antibióticos durante a II Guerra Mundial, foi possível
combater este doença com muito maior êxito.
As
pessoas que sofrem de tuberculose pulmonar tornam-se muito sensíveis, incluindo
uma notável capacidade auditiva. A expressão « ter ouvidos de tísico»
significa, portanto, «ouvir tão bem como aqueles que sofrem de tuberculose
pulmonar».
Comer muito queijo
Significado: Ser
esquecido; ter má memória.
Origem: A
origem desta expressão portuguesa pode explicar-se pela relação de causalidade
que, em séculos anteriores, era estabelecida entre a ingestão de lacticínios e
a diminuição de certas faculdades intelectuais, especificamente a memória.
A
comprovar a existência desta crença existe o excerto da obra do padre Manuel
Bernardes “Nova Floresta”, relativo aos procedimentos a observar para manter e
exercitar a memória: «Há também memória artificial da qual uma parte consiste
na abstinência de comeres nocivos a esta faculdade, como são lacticínios,
carnes salgadas, frutas verdes, e vinho sem muita moderação: e também o
demasiado uso do tabaco».
Sabe-se
hoje, através dos conhecimentos provenientes dos estudos sobre memória e
nutrição, que o leite e o queijo são fornecedores privilegiados de cálcio e de
fósforo, elementos importantes para o trabalho cerebral. Apesar do contributo
da ciência para desmistificar uma antiga crença popular, a ideia do queijo como
alimento nocivo à memória ficou cristalizada na expressão fixa « comer (muito)
queijo».
Acordo leonino
Significado: Um
«acordo leonino» é aquele em que um dos contratantes aceita condições
desvantajosas em relação a outro contratante que fica em grande vantagem.
Origem: «Acordo
leonino» é, pois, uma expressão retórica sugerida nomeadamente pelas fábulas em
que o leão se revela como todo-poderoso.
Que massada!
Significado: Exclamação
usada para referir uma tragédia ou contra-tempo.
Origem: É uma
alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de
Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição
do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio colectivo para não se
renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.
Passar a mão pela cabeça
Significado: perdoar
ou acobertar erro cometido por algum protegido.
Origem: Costume
judaico de abençoar cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela
face, enquanto se pronunciava a bênção.
Gatos-pingados
Significado: Tem
sentido depreciativo usando-se para referir uma suposta inferioridade (numérica
ou institucional), insignificância ou irrelevância.
Origem: Esta
expressão remonta a uma tortura procedente do Japão que consistia em pingar
óleo a ferver em cima de pessoas ou animais, especialmente gatos. Existem
várias narrativas ambientais na Ásia que mostram pessoas com os pés mergulhados
num caldeirão de óleo quente. Como o suplício tinha uma assistência reduzida,
tal era a crueldade, a expressão ” gatos pingados” passou a denominar pequena
assistência sem entusiasmos ou curiosidade para qualquer evento.
Meter uma lança em África
Significado: Conseguir
realizar um empreendimento que se afigurava difícil; levar a cabo uma empresa
difícil.
Origem: Expressão
vulgarizada pelos exploradores europeus, principalmente portugueses, devido às
enormes dificuldades encontradas ao penetrar o continente africano. A
resistência dos nativos causava aos estranhos e indesejáveis visitantes baixas
humanas. Muitas vezes retrocediam face às dificuldades e ao perigo de serem
dizimados pelo inimigo que eles mal conheciam e, pior de tudo, conheciam mal o
seu terreno. Por isso, todos aqueles que se dispusessem a fazer parte das
chamadas “expedições em África”, eram considerados destemidos e valorosos
militares, dispostos a mostrar a sua coragem, a guerrear enfrentando o incerto,
o inimigo desconhecido. Portanto, estavam dispostos a ” meter uma lança em
África”.
Queimar as pestanas
Significado: Estudar muito.
Origem: Usa-se ainda
esta expressão, apesar de o facto real que a originou já não ser de uso. Foi,
inicialmente, uma frase ligada aos estudantes, querendo significar aqueles que
estudavam muito. Antes do aparecimento da electricidade, recorria-se a uma
lamparina ou uma vela para iluminação. A luz era fraca e, por isso, era
necessário colocá-las muito perto do texto quando se pretendia ler o que podia
dar azo a ” queimar as pestanas”.
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