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sábado, 11 de outubro de 2014
A ETERNA BANCARROTA PORTUGUESA !
Nada
mudou em 150 anos............!!!!!!!!!!!!!!!!!
Vale
a pena ler...
AO NÃO ASSUMIR A NOSSA DIMENSÃO SEREMOS SEMPRE DEVEDORES GIGANTES ou
UMA ‘NOVIDADE’ QUE JÁ VEM DO TEMPO DO ASSALTO A CEUTA
Eis um interessante se bem que sincopado resumo da história económica de um
país-equívoco – graças à desgraçada perenidade dos resultados da ambição feudal
de Alfonso, filho de Anrique - especificamente, do séc XV à perda das nossas
mal assumidas e pouco aproveitadas possessões africanas.
Trata-se obviamente do recorte de um processo mais vasto e complexo, uma
síntese é muito aceitável, embora contornando alguns ‘interesses da City’; mas a
História é assim mesmo, cada episódio ou processo tem sempre múltiplas facetas
e inúmeras leituras interpretativas.
Que não se veja na divulgação pela minha parte, deste artigo, o habitual
proto-masoquismo ou o comum ‘anti portuguesismo’ que só vê virtudes no
que vem lá de fora. Trata-se antes de lembrar o processo descrito e de
sugerir que seja assumido que o modelo
de capitalismo não produtivo, por que nos regemos ‘desde
sempre’, se não for
transformado resultará na continuidade de um esmolar da subsistência, agravando
desse modo a nossa condição e vincando o opróbrio caído sobre os mais ricos e
isso é igualmente indesejável.
Portugal esteve várias vezes na bancarrota
Formalmente, a 1ª bancarrota ocorreu em 1560, durante a regência da viúva
de D. João III, e a última, no final da monarquia,
acabou com uma reestruturação da dívida soberana cuja negociação
durou 10 anos. Poderiamos contar oito: 1560, 1605, 1834, 1837, 1840, 1846, 1852
e 1892, ou seja, a maioria já no século XIX.
O período final da dinastia de Bragança acumularia, entre 1828 e 1892, mais
de duas décadas de situações de default, um
recorde na história económica portuguesa.
Dois outros momentos que fazem parte da história das bancarrotas de
Portugal, apesar de não estarem catalogados como tal, são o período de
hiperinflação no reinado do fundador da dinastia de Aviz, no final do século
XIV e o aviso de bancarrota em 1544 através da feitoria portuguesa em Antuérpia
ainda no reinado de D. João II.
1384-1422: Mestre de Aviz, o campeão da hiperinflação
Um real de prata valia 19 vezes menos do que no tempo do reinado do seu
meio irmão D.. Fernando, o último monarca da dinastia
afonsina e a inflação era galopante, tendo os preços
quintuplicado.
A bancarrota seria certa se D. João I e os seus conselheiros não tivessem
decidido, desde as reuniões em Torres Vedras em
1412, desencadear um processo de projecção externa [ie. assalto e
invasão] cuja primeira
operação viria a ser a conquista de Ceuta, em 1415. Seguiu-se depois o
intensificar do corso atlântico e finalmente a expansão marítima – a verdadeira
génese dos Descobrimentos.
Um balanço daquela época de economia de guerra e de crise até 1422: a
desvalorização do marco de prata foi da ordem dos 100.000% face ao valor que
tinha em 1383.
1544: A quase bancarrota na Flandres
As dívidas na feitoria de Antuérpia, na Flandres, somavam 3 milhões de
cruzados.
D.. João III salvou-se de ser o primeiro monarca português a decretar a
falência do Estado. Os mercados financeiros europeus deram o benefício da
dúvida pois o comércio das especiarias que vinha de além-mar era, ainda,
atraente. Entretanto, a feitoria na Flandres seria fechada em 1549 e o rei
morreria em 1557. Os problemas seriam herdados pela viúva, Catarina da Áustria.
1560: A herança que a viúva recebeu: o 1º default oficial
Durante a regência caiu-lhe em cima a bomba da dívida astronómica. O neto
Sebastião ainda era demasiado novo e coube-lhe
a ela gerir a emergência da decadência do grande império
manuelino.
Em 1559 ainda foi possível levantar 900 mil cruzados como adiantamento na Flandres o que acalmou os credores da
dívida portuguesa. Mas no ano seguinte já não havia volta a dar. Catarina
resolveu "imitar" o sobrinho, Filipe II, que inaugurara em 1557, no
país vizinho, a moda das bancarrotas ibéricas.
O alvará de 2 de Fevereiro de 1560 representa o 1º default oficial
português. Mandava cessar o pagamento de juros a cargo da Casa da Índia,
proibia a colocação de novos empréstimos.
Na ponta final da dinastia de Aviz, nos reinados de D. Sebastião e do
cardeal Henrique, as obrigações do governo português já se negociavam a 45 e
até a 40% do seu valor facial.
Pela época, as grandes casas financeiras alemãs e italianas que estiveram
envolvidas no que parecia ser um excelentíssimo negócio, o da pimenta, foram
varridas por uma vaga de falências.
1605: o default com sabor castelhano
Foi naquele contexto que ocorreu a bancarrota de 1605 - uma peripécia menos
conhecida e raramente referida.
1828-1834: A factura do "miguelismo"
Com a morte de D. João VI em 1826, abre-se uma crise de sucessão de que
resultou uma guerra entre liberais
constitucionalistas e conservadores miguelistas que se agrupavam em torno da
viúva Carlota Joaquina e do filho Miguel.
No meio da guerra civil, D. Miguel negociou em 1832 um empréstimo de 40
milhões de francos junto dos banqueiros parisienses Outrequin & Jauge, com
um juro de 5% com uma maturidade de 32 anos. Apesar dos riscos envolvidos, os
banqueiros franceses conseguiram que estes títulos fossem admitidos para
cotação na Bolsa de Paris, onde se mantiveram até 1837.
Os credores internacionais que emprestaram ao governo de D. Miguel sabiam
que estavam a correr um grande risco pois estavam a apostar num governo com a
possibilidade de cair.
Os juros e a amortização ainda foram pagas até Setembro de 1833. Depois,
derrotado D. Miguel, o empréstimo viria a ser renegado pelos liberais e depois
pelo governo de D. Maria da Glória, sobrinha de D. Miguel. O empréstimo não foi
considerado legítimo. Eram contas do tio que, entretanto, fugira para a
Alemanha. Que o fossem cobrar à Baviera, onde ele viria a morrer.
O assunto passou, assim, a contencioso. Os credores franceses
organizaram-se em comité em 1840 e várias manobras diplomáticas continuaram
pelas décadas seguintes a ver se conseguiam reaver pelo menos 2,5 milhões de
francos, cujos papéis comprovativos consta que se encontravam no Tesouro em
Lisboa.
1837 a 1852: O calvário de incumprimentos no reinado de Maria da Glória
O reinado da filha de D. Pedro IV (o imperador Pedro I do Brasil), a jovem
Maria da Glória, coroada D. Maria II (1837-1853), juntou vários eventos de
suspensão de pagamentos, o primeiro logo em 1837, que geraram o período mais
longo de defaults na história portuguesa.
Em 1852, decreta-se a consolidação da dívida interna e externa, o que gerou
a revolta sobretudo dos credores ingleses, até que
se celebrou um convénio em Dezembro de 1855, que no dizer do historiador Rui
Pedro Esteves, da Universidade de Oxford, surpreenderia hoje pelos credores
"terem aceitado a consolidação em troca de contrapartidas bastante
modestas".
Estas bancarrotas ocorreram num período de quase 20 anos de golpes e
contra-golpes e de um movimento popular, a
Revolta da Patuleia, mais conhecida por Maria da Fonte.
A situação só acalmou, de facto, com a regência do viúvo de Maria da
Glória, o rei consorte Fernando II, da poderosa casa de Saxe-Coburgo Gota. O
país adopta o padrão ouro que permitia estabelecer uma relação com a libra
esterlina, a moeda chave do comércio internacional e das relações comerciais
com Portugal, e chega a acordo em Londres nos finais de 1855, com o
Council of Portuguese Bondholders (detentores de títulos portugueses),
liderado pelo banqueiro Richard Thornton.
1892-1902: A longa re-estruturação da dívida soberana no final da Monarquia
A revista inglesa The Economist andava a avisar desde 1880: "Os mercados monetários da Europa estão a
ficar cansados, e não sem razão, da constante solicitação por Portugal de novos empréstimos", escrevia em 27/11/1880. E em 1885:
"No
próprio interesse de Portugal era preferível que as suas facilidades de
endividamento fossem, agora, restringidas". Rebentou então uma crise financeira
mundial, com o epicentro na City londrina, iniciada em 1890 com a falência do
banco Baring Brothers que contagiaria Portugal por vários canais, incluindo via
Brasil.
O próprio Baring era o principal parceiro do governo português na City e,
na aflição, foi reembolsado 1 milhão de libras em Lisboa, o que levou a uma
redução significativa das reservas em ouro do Banco de Portugal. Em 1888, no
Fenn's Compendium, Portugal já tinha sido
considerado como um país de alto risco. Com a contracção dos mercados de capitais internacionais, durante a crise financeira
mundial de 1890-1893, o sistema financeiro
português desabou.
Juntou-se o esboroamento do padrão-ouro que havia sido adoptado em 1854.
Finalmente, viveu-se uma crise política aguda que misturaria o efeito dos problemas geopolíticos em
África - com o ultimatum sobre o mapa cor-de-rosa por
parte da Grã-Bretanha - com a ascensão do movimento republicano
(revolta no Porto em 31 de Janeiro de 1891) e das lutas dentro dos partidos
monárquicos.
A balança de pagamentos acaba por ter um défice gigante em 1891, depois de
um período em que acumulara excedentes. A dívida total (externa e interna) que
andava pelos 24 milhões de libras em 1858 aumentou para 127 mil milhões de
libras. Apesar da pobreza do país, era a 2ª maior da Europa per capita, depois
da França.
A revista inglesa, de novo, escrevia: "Tem sido evidente há bastante tempo que o país
estava a viver acima dos seus meios. Mais
tarde ou mais cedo era inevitável que acabasse em bancarrota - e foi à
bancarrota que Portugal agora chegou" (6/2/1892).
E acrescentava: "É inevitável uma redução significativa do
encargo com a dívida, que absorve quase metade da receita total. Os detentores
da dívida portuguesa têm de consentir num abatimento dos seus direitos, por
força das circunstâncias". Os ingleses aconselhavam mesmo: "Se
Portugal abordar os seus credores leal e francamente nestas linhas ser-lhe-á
relativamente fácil efectuar um acordo razoável com eles".
A solução acabaria por ser imposta por decreto. Os credores externos não
aceitaram o urso forçado do
papel-moeda emitido pelo Banco de Portugal. O default parcial acabaria por acontecer em Junho de 1892. O governo
teve de suspender parcialmente os encargos altos da
dívida. Em Paris, os credores ficaram surpresos com a redução das taxas de juro em 66%. O objectivo último acabaria
por ser a reestruturação e reescalonamento dos
pagamentos.
Julgava-se que no final do convénio de 1902 com os credores se obteriam
novos empréstimos - mas isso não aconteceu.
A dívida seria convertida num novo empréstimo amortizável a
99 anos, até 2001.
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