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sábado, 26 de julho de 2014

Eu não vou ou Sei o que fizeste no Verão passado

Por: CARLOS MORAIS JOSÉ
em Opinião
14 Mai 2014











































































































































































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al como o economista Albano Martins e ao contrário do meu colega director do Tribuna de Macau José Rocha Dinis, eu não vou à recepção de Cavaco Silva, na Torre de Macau. Bem me podem desfiar o argumento de que foi legitimamente eleito pelo povo português: pois Hitler também foi eleito legitimamente pelo povo alemão e nada me faria apertar a mão ao bigodudo como não o faria a este homem que tem destruído o meu país desde os anos 80.


Claro que não estou a comparar Cavaco ao ditador alemão mas sim a legitimidade com que chegou ao poder. Logo, tal não é argumento. Que, em termos estéticos, o actual presidente representa o pior de Portugal, com a sua pose salazarenta, o discurso horripilante, o ar de manequim da Rua dos Fanqueiros e o seu passado das Finanças, isso influi muito pouco na minha decisão.
O que me impede de estar na sala com o personagem é de ordem moral e política. Na minha opinião, Cavaco Silva é um dos principais responsáveis pela degradação do país e pelo fenecimento das conquistas de Abril. Ele e, sobretudo, os seus amigos e clique, criminosos encartados, em cujo rol nem sequer falta um homicida. Como posso apertar a mão a semelhante homem?
Maestro da maioria laranja, vendedor do país aos pedaços para gáudio dos que recebem percentagens e benesses, amigo dos bancos que são os principais responsáveis pela crise, este presidente tem sido um cancro na política portuguesa. Não o único, mas um dos mais perigosos, sobretudo porque, ainda por cima, assume uma pose de dama ofendida quando alguém chama a atenção, por exemplo, para os ganhos que usufruiu na compra e venda apressada das acções da famigerada Sociedade Lusa de Negócios, a conselho do seu amigo e secretário de Estado no seu governo Oliveira e Costa, hoje preso. Não terá existido neste caso o crime de acesso a informação privilegiada?
E não me venham com o discurso de que não foi o único culpado e que os tipos do PS também têm culpas no cartório. Claro que têm e por isso é que, entre PSD e PS, uma mão lava a outra. Será que o facto de terem existido outros culpados de algum modo o desculpa? É óbvio que não.
Cavaco Silva era primeiro-ministro quando a União Europeia despejava em Portugal milhões e milhões de euros por ano. Para onde foi o dinheiro? Nesse tempo, a dimensão do Estado cresceu desmesuradamente para albergar e pagar favores ao boys que formaram o Cavaquistão. Foi também nesse tempo que se consolidou a elite de gente que forma um grupo de ociosos, ciosos de fortuna rápida, normalmente à conta do erário público ou dos favores que prestaram às empresas e aos bancos enquanto membros do governo.
Por último: muito mais haveria para dizer mas deixo apenas mais uma – o seu governo nos anos 90, tal como o actual governo de Passos Coelho, demonstrou um enorme desinteresse e mesmo desrespeito pela cultura. Acabou com o respectivo ministério e nomeou Santana Lopes como secretário de Estado. Foi sob as suas ordens que o lamentável sub-secretário Sousa Lara impediu a candidatura de José Saramago ao Prémio Literário Europeu 1992, uma atitude a lembrar a censura fascista e a demonstrar uma total insensibilidade e desconhecimento do que é a cultura. Que respeito posso ter eu por este homem?
Não dá. É que eu sei o que fizeste no Verão passado.

* Este texto não é um editorial do director do Hoje Macau, mas um artigo de opinião de um cidadão português, residente em Macau há 24 anos

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