"São os 60 metros quadrados de terreno mais a norte de Portugal e a
mais importante caseta da Guarda Fiscal que o Governo aceitou vender, sem consultar ninguém, a um privado que, por
acaso, é espanhol", denuncia, ao JN, António Sousa,
presidente da Junta de Freguesia de Cristóval, em Melgaço,
onde se situa a emblemática fronteira de S. Gregório.
Esta fronteira era conhecida
sobretudo pela intensidade do contrabando e pelo número de pessoas que a usavam
para dar "o salto" para Espanha e depois para França. O facto de,
neste local, a fronteira geográfica ser feita pelo rio Trancoso, um pequeno
afluente do Minho, que permite o atravessamento a pé, fez da fronteira mais a
Norte, uma das mais conhecidas do país.
"É uma afronta o Governo aceitar vender os primeiros metros de
território português sem sequer informar as autoridades locais",
referiu Avelino Fernandes, antigo guarda-fiscal, que ajudou a colocar o soalho
na pequena casa agora vendida a um espanhol.
Para a população de Cristóval, a
solução passará pela anulação da venda ou por uma compra ao novo proprietário. "A nossa
ideia é restaurar a casa, içar a bandeira portuguesa e colocar no local
informações sobre a história da fronteira", afirmou Avelino
Fernandes.
Manoel Batista, presidente da Câmara
Municipal de Melgaço, não se mostra tão confiante no regresso da casa da Guarda
Fiscal (onde o rés do chão funcionava como uma prisão provisória para os contrabandistas)
a mãos portuguesas. "O município não foi informado, mas a casa e o
terreno foram vendidos", referiu. E continuou: A solução passa
pela qualificação dos restantes edifícios da fronteira como sendo de interesse
municipal, o que já cria alguns entraves à venda e à realização de obras".
"É lamentável, a todos os níveis, que tenham sido vendidos os
primeiros metros de Portugal e que ninguém faça nada",
condenou por sua vez Jorge Ribeiro, deputado municipal do PSD.
"É triste que, do lado espanhol, o edifício da fronteira esteja
impecável e que, uns metros mais à frente, depois da ponte do rio Trancoso,
Portugal tenha vendido os primeiros palmos de terra de uma nação",
indigna-se o deputado.
Contactado pelo JN, o novo
proprietário do terreno e da antiga casa da Guarda Fiscal na margem do rio
Trancoso não quis fazer comentários sobre o negócio.
In JN, 14.04.14
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