01 - O vinho, quanto mais velho melhor!
Uma das frases feitas preferidas de portugueses e não
portugueses. Quase todos estão convencidos da razoabilidade da afirmação!
Infelizmente, são poucos os vinhos que sabem envelhecer bem e ainda mais raros
os que conseguem envelhecer com saúde. A quase totalidade dos vinhos mundiais,
espumantes, brancos, rosés e tintos, é feita para ser consumida num curto
prazo de tempo. A maioria dos rosados tem um período de vida útil de um ano, os
brancos de dois anos, enquanto que nos tintos esse prazo se alarga para um
máximo de quatro ou cinco anos. Por outro lado, sabendo que as condições de
guarda dos vinhos são raramente razoáveis, não espere demasiado tempo para
abrir as suas garrafas. Os poucos vinhos pensados para durar anos, décadas, são
vinhos excepcionais... e geralmente muito caros. Mas, claro, nada se compara ao
prazer de poder desfrutar de um vinho velho em plena saúde. Se tiver
disponibilidade de capital e de espaço de guarda, atreva-se neste
desiderato.
02 - Um vinho "Reserva" será sempre melhor do que um vinho "normal". As palavras "Reserva", "Colheita Seleccionada" ou "Garrafeira" são uma garantia de qualidade!
Infelizmente, a realidade não confirma esta presunção.
Na verdade, este tipo de adjectivação não tem qualquer
relacionamento directo com a qualidade de um vinho. Os designativos
"Reserva" e "Garrafeira" são normativos legais que em cada
região determinam o período mínimo de estágio em barricas e, posteriormente, em
garrafa. Não caracterizam mais nada e não existe qualquer correlação com a
qualidade real. Indicações como "Colheita dos Sócios", "Colheita
Seleccionada", "Selecção Especial", "Reserva Pessoal",
ou outras referências, são opções de "marketing" sem qualquer conexão
com a qualidade do vinho. Muitos vinhos triviais e de fraca qualidade ostentam
estas palavras nos rótulos, da mesma forma que alguns dos melhores vinhos
nacionais não lhe fazem referência. Por si só, estas palavras nada lhe dizem
sobre o vinho.
03 - Um vinho "DOC" será sempre melhor do que um vinho "Regional".
Mais uma vez, a realidade encarrega-se de não
confirmar esta suposição. Para que um vinho tenha o direito de ostentar o nome
de uma denominação de origem controlada terá de obedecer a regras claras,
nomeadamente quanto ao uso das castas autorizadas e recomendadas para essa
mesma DOC. Se, por exemplo, um produtor recorrer a castas não contempladas para
essa mesma região, mesmo que melhores, ficará impedido de usar o nome da DOC.
Algumas denominações de origem mais jovens, com menos historial, por vezes
criadas apressadamente, nem sempre fizeram apostas racionais na escolha das
castas recomendadas. Como tal, muitos produtores sentem-se constrangidos a
recorrer a castas não recomendadas, castas que consideram ser mais adequadas às
suas necessidades. É isso que explica por que alguns dos melhores vinhos
portugueses são vinhos regionais. Este fenómeno é igualmente válido para outros
países europeus, sobretudo Itália.
04 - O vinho de mesa não presta.
Por regra, o vinho de mesa é efectivamente de
fraca qualidade e não merece demasiadas considerações. Existem, no entanto,
raras excepções, e por vezes o vinho de mesa é a única solução para alguns
produtores. Por exemplo, a legislação portuguesa não permite a mistura de
vinhos provenientes de duas regiões diferentes. Imagine que existia (e existe)
um vinho que emparceirava uvas do Dão e do Douro. Isto seria ilegal face à lei
actual, excepto se vendido debaixo do chapéu-de-chuva de vinho de mesa. É
esse o caso de um ou outro vinho português de topo. Ou imagine que um vinho não
seria capaz de atingir a graduação mínima para poder ser considerado DOC
ou Regional. Os vinhos de mesa seriam seguramente um refúgio comum entre os
produtores portugueses, não fora a grave limitação de os vinhos de mesa não
poderem estampar o nome de castas, e sobretudo, a data de colheita no
rótulo.
05 - Os vinhos mais caros são sempre melhores.
Seguramente que não e os exemplos a provar o contrário
abundam. Num mercado livre, o preço dos vinhos é determinado não só pelos
custos de produção mas também pela sua escassez, pelo factor moda, pelo
eventual empolamento feito pela comunicação social, por boas campanhas de
promoção, etc. No entanto é verdade que os melhores vinhos são usualmente mais
dispendiosos na elaboração. Melhores barricas, menores produções, mais mimos,
melhores rolhas e melhores equipamentos implicam custos acrescidos. Mas mesmo
estes custos acrescidos não garantem, de forma alguma, que o produto final seja
melhor ou sequer bom...
06 - O vinho branco não consegue envelhecer e tem de ser bebido o mais depressa possível.
Embora a afirmação não seja universal, existem razões
mais do que suficientes para o depoimento. São poucos os vinhos feitos para
envelhecer e ainda menos os vinhos brancos que têm capacidade para envelhecer.
Por outro lado, existem exemplos vivos de vinhos brancos que envelhecem de
forma admirável. Os vinhos da casta Alvarinho, de Monção e Melgaço, e os vinhos
da casta Encruzado, no Dão, são os melhores exemplos portugueses. Fora de
Portugal, a capacidade de guarda dos Riesling alemães é afamada, podendo
viver em perfeita saúde por mais de 40 ou 50 anos.
07 - O vinho rosé é uma mistura de vinho branco com vinho tinto.
Não, não é, mesmo se a convicção se encontra
firmemente enraizada no nosso imaginário. O vinho rosado é feito a partir de
uvas tintas. A polpa da quase totalidade das uvas tintas é incolor, incapaz de
acrescentar pigmentação ao mosto. São as peles, ou melhor, os corantes
existentes nas películas das uvas tintas que acrescentam coloração ao vinho
tinto. Quanto maior for o contacto com as peles, quanto maior for a
extracção, mais intensa será a cor resultante. Os vinhos rosados passam pouco
tempo de maceração em contacto com as películas e, como tal, não têm tempo
suficiente para extrair muita matéria corante. O vinho resultante frui assim de
uma cor mais aberta e rosada.
08 - O vinho branco tem de ser produzido com uvas brancas.
Na verdade... não! O vinho branco pode ser elaborado a
partir de uvas tintas. Como acabámos de ver, a polpa das uvas tintas não tem
matéria corante e, portanto, o sumo resultante é incolor. Se as uvas forem
prensadas em bica aberta, ou seja, sem contacto com as peles, o vinho
resultante é branco, esbranquiçado ou muito levemente salmonado. Como tal, é
possível, e por vezes comum, que os vinhos brancos sejam elaborados recorrendo
a uvas tintas. O caso mais paradigmático ocorre em Champagne, onde as
castas Pinot Noir e Pinot Meunier, ambas tintas, são por regra
vinificadas em branco. Quando assim é, o champanhe é categorizado como
"blanc de noirs". Em abono da verdade, convém referir que
se exceptuarmos o caso particular dos vinhos espumantes, raramente vemos
esta técnica aplicada.
09 - O Vinho Verde é feito com uvas vindimadas ainda verdes, em oposição ao vinho maduro, que é elaborado com uvas completamente maduras.
A imagem é comum, mesmo entre alguns apreciadores
informados, mas não tem qualquer fundamento. Vinho Verde é o nome de uma região
portuguesa, tal como as regiões do Douro, Ribatejo ou Bairrada. A região ganhou
o nome de Vinho Verde por ser a região mais verde e húmida de Portugal, o
Minho. Pela mesma razão, a região de turismo chama-se Costa Verde. Como seria
de esperar, os vinhos provenientes da região do Vinho Verde são elaborados com
uvas maduras, tal como nas restantes regiões portuguesas.
Não acredites nisso! Os bons vinhos são sublimes desde a nascença e não é por um milagre tardio que se transfiguram de bestas em bestiais. Claro que os vinhos que envelhecem bem poderão ser duros e severos enquanto jovens, mas a qualidade tem de se mostrar desde o primeiro instante. A história do patinho feio não tem cabimento no mundo do vinho. Um mau vinho nunca se transformará num bom vinho!
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