Financeiro
de origem síria tem consultora em Londres e terá tido contactos com o
Banco de Portugal, o governo e a representação do FMI em Portugal
Um
consultor financeiro com operações em Londres abordou no passado as
autoridades portuguesas para as ajudar a reduzir os prejuízos gerados
das empresas públicas com contratos de swap ou outros produtos
derivados. Esses contactos terão sido desenvolvidos desde 2009 com as
autoridades, empresas, mas também com o Banco de Portugal e a estrutura
do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal. Ou seja, antes de a
dimensão do problema ter sido detectada pelo governo português.
Jaber
G. Jabbour voltou a escrever em Abril um email ao parlamento português -
uma missiva incluída na documentação entregue à comissão parlamentar -,
mostrando-se disponível para ser ouvido em Lisboa na sequência do
lançamento da comissão de inquérito aos contratos de gestão de risco
financeiro das empresas públicas. Jabbour lançou em 2009 uma consultora,
a Ethos, com o objectivo de apoiar entidades europeias, sobretudo
públicas, a recuperar os prejuízos associados aos seus investimentos em
contratos de swap e produtos financeiros, derivados ou complexos.
Antes dessa data, conforme explica no email, Jaber G. Jabbour trabalhou num dos bancos mais associados à comercialização de produtos complexos/tóxicos pré-crise, o Goldman Sachs. Fonte oficial do banco em Londres confirmou ao i que o financeiro trabalhou no departamentos de títulos de remuneração fixa entre 2006 e 2009. Jabbour explica no email ter trabalhado na estruturação de swaps e outros derivados.
Na sua mensagem, o director da Ethos revela que nos
últimos anos, desde 2009, tem vindo a oferecer o seu apoio ao sector
público em Portugal na recuperação das perdas associadas a swaps e
outros investimentos em produtos derivados. Além das entidades
referidas, o financeiro de origem síria mas sedeado em Londres terá
feito exposições em empresas públicas a alertar para os riscos dos
produtos. Jaber Jabbour revela ainda estar familiarizado com as
comissões e os lucros excessivos que os bancos (presume-se que
internacionais) têm obtido com o sector público português.
Contactado pelo i,
o financeiro confirma ter enviado o email ao parlamento. "Senti que era
meu dever manifestar a minha disponibilidade para partilhar as minhas
conclusões sobre swaps e produtos derivados no sector público." Recusou
fazer mais comentários.
A contratação de swaps complexos e tóxicos
ou de outros produtos derivados não é apenas um problema do sector
público português. O caso mais conhecido na Europa é o contrato feito
entre o Goldman Sachs e o governo grego, que permitiu ao país mascarar a
real dimensão do défice e a da dívida, com custos elevados a prazo.
Sabe-se agora que o mesmo tipo de instrumento foi oferecido a Portugal
em 2005 no governo de José Sócrates, designadamente pelo Citigroup e
pelo Barclays, que recusou a proposta, por parecer do IGCP. Oito anos
depois a revelação do caso fez cair o secretário de Estado do Tesouro,
Joaquim Pais Jorge, que à data era um alto responsável do Citigroup
Portugal.
Estes produtos são hoje também um problema na Europa,
envolvendo empresas públicas gregas, italianas e francesas e até alguns
órgãos regionais locais. O caso português destaca-se pela elevada
concentração de contratos em poucas empresas - sobretudo no
Metropolitano (hoje integrado com a Carris) e na Metro do Porto (ver
texto principal) - e pela dimensão das perdas potenciais associadas a
estes contratos.
O swap é um produto derivado. Nestes produtos,
também descritos como complexos, o valor (preço) está indexado, ou seja,
depende da evolução de uma outra variável que pode ser um índice ou a
cotação de uma matéria-prima a que se chama o activo subjacente.
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