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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Conheça o sírio do Goldman Sachs que alertou Portugal para o problema dos swaps

Financeiro de origem síria tem consultora em Londres e terá tido contactos com o Banco de Portugal, o governo e a representação do FMI em Portugal
 

Um consultor financeiro com operações em Londres abordou no passado as autoridades portuguesas para as ajudar a reduzir os prejuízos gerados das empresas públicas com contratos de swap ou outros produtos derivados. Esses contactos terão sido desenvolvidos desde 2009 com as autoridades, empresas, mas também com o Banco de Portugal e a estrutura do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal. Ou seja, antes de a dimensão do problema ter sido detectada pelo governo português.

Jaber G. Jabbour voltou a escrever em Abril um email ao parlamento português - uma missiva incluída na documentação entregue à comissão parlamentar -, mostrando-se disponível para ser ouvido em Lisboa na sequência do lançamento da comissão de inquérito aos contratos de gestão de risco financeiro das empresas públicas. Jabbour lançou em 2009 uma consultora, a Ethos, com o objectivo de apoiar entidades europeias, sobretudo públicas, a recuperar os prejuízos associados aos seus investimentos em contratos de swap e produtos financeiros, derivados ou complexos.

Antes dessa data, conforme explica no email, Jaber G. Jabbour trabalhou num dos bancos mais associados à comercialização de produtos complexos/tóxicos pré-crise, o Goldman Sachs. Fonte oficial do banco em Londres confirmou ao i que o financeiro trabalhou no departamentos de títulos de remuneração fixa entre 2006 e 2009. Jabbour explica no email ter trabalhado na estruturação de swaps e outros derivados.
Na sua mensagem, o director da Ethos revela que nos últimos anos, desde 2009, tem vindo a oferecer o seu apoio ao sector público em Portugal na recuperação das perdas associadas a swaps e outros investimentos em produtos derivados. Além das entidades referidas, o financeiro de origem síria mas sedeado em Londres terá feito exposições em empresas públicas a alertar para os riscos dos produtos. Jaber Jabbour revela ainda estar familiarizado com as comissões e os lucros excessivos que os bancos (presume-se que internacionais) têm obtido com o sector público português.

Contactado pelo i, o financeiro confirma ter enviado o email ao parlamento. "Senti que era meu dever manifestar a minha disponibilidade para partilhar as minhas conclusões sobre swaps e produtos derivados no sector público." Recusou fazer mais comentários.

A contratação de swaps complexos e tóxicos ou de outros produtos derivados não é apenas um problema do sector público português. O caso mais conhecido na Europa é o contrato feito entre o Goldman Sachs e o governo grego, que permitiu ao país mascarar a real dimensão do défice e a da dívida, com custos elevados a prazo. Sabe-se agora que o mesmo tipo de instrumento foi oferecido a Portugal em 2005 no governo de José Sócrates, designadamente pelo Citigroup e pelo Barclays, que recusou a proposta, por parecer do IGCP. Oito anos depois a revelação do caso fez cair o secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, que à data era um alto responsável do Citigroup Portugal.

Estes produtos são hoje também um problema na Europa, envolvendo empresas públicas gregas, italianas e francesas e até alguns órgãos regionais locais. O caso português destaca-se pela elevada concentração de contratos em poucas empresas - sobretudo no Metropolitano (hoje integrado com a Carris) e na Metro do Porto (ver texto principal) - e pela dimensão das perdas potenciais associadas a estes contratos.

O swap é um produto derivado. Nestes produtos, também descritos como complexos, o valor (preço) está indexado, ou seja, depende da evolução de uma outra variável que pode ser um índice ou a cotação de uma matéria-prima a que se chama o activo subjacente.

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