Participação da Força Aérea no combate à poluição marítima |
Fez ontem dez anos(18NOV12) que a Força Aérea Portuguesa foi solicitada para participar, com uma aeronave de reconhecimento e vigilância marítima, na mais grave maré negra da história da Península Ibérica, provocada pelo naufrágio do petroleiro “Prestige”.
Uma década depois, e através deste apontamento escrito pelo Coronel Paulo Mateus, Comandante da Esquadra 401 durante a “Operação Prestige”, que sairá na próxima edição da Revista Mais Alto no âmbito de uma abordagem mais alargada ao tema, recordamos este incidente que contou com a preciosa colaboração da aeronave C-212/300 AVIOCAR.
“Pouco passava das 14 horas do dia 18 de novembro de 2002 quando surgiu o airtask do Comando Operacional da Força Aérea para o que se pensava ser mais uma missão rotineira de combate à poluição. Porém, como infelizmente se comprovaria mais tarde, a situação comportava proporções absolutamente invulgares e de uma enorme gravidade.
Tão rápido quanto possível descolou da pista do Aeródromo de Manobra N.º 1, em Ovar, um AVIOCAR da Esquadra 401, que ali cumpria destacamento, com a missão de localizar e identificar um navio em situação de emergência ao largo da costa galega. Tratava-se do Prestige, um petroleiro com bandeira de conveniência das Bahamas transportando 77.000 toneladas de fuelóleo pesado, que se encontrava em circunstâncias particularmente críticas, tornando-se necessário avaliar com celeridade o seu estado, deslocamento e possíveis derrames de combustível.
No dia seguinte, 19 de novembro, após o resgate da tripulação, o navio, que entretanto se havia partido em dois, acabaria por afundar-se a cerca de 240 km a oeste de Vigo, provocando um dos maiores desastres ecológicos de sempre.
Foi assim que começou aquela que se tornaria na operação mais extensa e abrangente de combate à poluição marítima com intervenção de meios nacionais. As missões realizadas prolongaram-se ininterruptamente ao longo de cerca de 3 meses, num admirável esforço conjunto coordenado que haveria de envolver a Marinha de Guerra Portuguesa, para além de vários países europeus.
Devido à feliz coincidência de ser à altura o Comandante da Esquadra 401, acabei também, na qualidade de comandante de bordo, por efetuar muitas das missões então realizadas. Desses momentos marcantes recordo com singular orgulho o elevado profissionalismo e notável empenhamento demonstrados por todos aqueles que direta ou indiretamente tornaram possível o aprontamento e a operacionalidade dos meios aéreos envolvidos, permitindo assim responder eficazmente aos requisitos e necessidades das missões, não obstante a dimensão do esforço e o grau de exigência requeridos.
O dedicado empenho dos militares que então serviam comigo na Esquadra dos “Cientistas” foi a todos os títulos exemplar, significando, em muitas circunstâncias, a necessidade de operar do nascer ao por do sol, a que invariavelmente se seguia a reparação de anomalias e a preparação da aeronave para a missão do dia seguinte, tarefas que por sua vez implicavam o prolongamento da empreitada noite dentro.
Dez anos depois daquele que terá sido seguramente um dos momentos mais gratificantes da minha carreira, a “Operação Prestige”, continua bem vivo na minha memória o registo da disponibilidade e do espírito de missão manifestados por todos aqueles homens e mulheres que de forma tão abnegada contribuíram para que a Força Aérea Portuguesa, servindo o País, prestasse tão valioso contributo em prol da defesa do ambiente.”
Após 36 anos ao serviço da Força Aérea Portuguesa, o C-212 AVIOCAR foi substituído pela aeronave C-295M, uma plataforma de elevado potencial na execução de missões de vigilância em ambiente marítimo e que através dos seus equipamentos e sensores aumentou as capacidades do seu antecessor e reforçou a panóplia de meios que o Estado Português tem à sua disposição para a garantia da proteção dos seus recursos naturais.
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