Ao CDS-PP coube em sorte três ministros neste governo: Paulo Portas, que, para lá de achincalhar o Álvaro com a sua diplomacia económica, é um caso típico de muita parra e pouca uva; Assunção Cristas, que está perdida no seu labirinto; e Pedro Mota Soares, que chefia o ministério da caridade e das pensões.
Muito haveria a dizer sobre o desempenho de Mota Soares¹ num miniministério que viu fugir a área do Emprego. Centremo-nos, no entanto, em três momentos:
• Primeiro, o anúncio, em Dezembro de 2011, por parte de Mota Soares de que o Governo se preparava para fazer uma verdadeira revolução nas pensões de reforma dos portugueses, introduzindo o plafonamento (retomado em entrevista de Passos Coelho, cujas habituais falsidades Vieira da Silva e Pedro Marques desmontaram aqui);
• Depois, em Setembro deste ano, o anúncio do aumento da TSU por parte de Passos Coelho, que Mota Soares foi o primeiro membro do Governo a aplaudir, jurando a pés juntos que não se tratava de um aumento de impostos, mas que desapareceu de circulação quando a contestação subiu de tom;
• Finalmente, o número de circo de Passos Coelho sobre as pensões no congresso da JSD, relativamente ao qual o ministro das pensões se mantém desta vez num ensurdecedor silêncio.
Há momentos em que já não há espaço para assobiar para o lado — nem sequer para silêncios. Chegou a hora de Mota Soares — ou seja, do CDS-PP — assumir uma posição. Depois de se mostrar incomodado com o maior aumento da carga fiscal de que há memória quando a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais é ocupada por um preclaro militante do “partido do contribuinte”, o CDS-PP já não pode continuar a ziguezaguear entre os pingos da chuva: agora, ou cai a máscara ou sai do Governo.
¹ Os números de ilusionismo com que Mota Soares pretendeu aumentar o número de lugares em creches e lares através do empilhamento das crianças e dos idosos; o enorme fervor com que se atirou aos beneficiários do RSI; a exigência de devolução de uns míseros euros a 700 mil pessoas que, em sua opinião, foram pagos indevidamente (entre os quais estão cerca de 15 mil pensionistas que, por receberem um complemento de reforma até atingir o valor da pensão mínima, levarão com um corte);os tão badalados Plano de Emergência Social (200 milhões de euros) e Apoio Social Extraordinário ao Consumidor de Energia (30 milhões), cujo financiamento, segundo a Direcção Geral do Orçamento, ocorreu parcialmente só em Novembro (118,4 milhões de euros); a redução brutal das prestações sociais em 2013 (1042 milhões de euros), que será o triplo do que estava acordado no memorando de entendimento (350 milhões), garantida, de resto, pelo corte de pensões mais altas que o OE2013 prevê (420 milhões).
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