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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Comissário que investigou morte de Rosalina


Aurílio Nascimento





Comissário que investigou morte de Rosalina em entrevista exclusiva ao i: “Recebi ameaças físicas”

Por Carlos Diogo Santos, publicado em 19 Jul 2012 - 16:44 | Actualizado há 7 horas 4 minutos
Aurílio Nascimento tem 56 anos – a mesma idade de Domingos Duarte Lima – é comissário da Polícia Civil do Rio de Janeiro e foi o principal responsável pela investigação à morte de Rosalina Ribeiro, companheira do milionário Tomé Feteira, em Dezembro de 2009. Foi este homem, que se formou em direito – também como Duarte Lima – em 1986, que conseguiu as provas que colocam o ex-deputado do PSD no local do crime. O seu trabalho, bem como o do inspector que o acompanhou, Rogério Lima, foi elogiado pelo MP. Mas advogados do português acusam-no de investigação por encomenda. Neste momento, dedica-se à investigação de automóveis furtados no Rio de Janeiro
Recorda-se de quando começou a investigar este crime?
Aconteceu um dia antes do enterro de Rosalina [dia 22 de Dezembro de 2009]. Era cerca das 20h quando recebi um comunicado do director da Divisão de Homicídios informando que tinha havido um desaparecimento, que foi finalizado com o encontro do cadáver, e que, dadas as circunstâncias, passaria a ser investigado por aquela divisão.
Sabiam que a vítima era portuguesa?
Sim, o delegado deu esse e outros detalhes, como coordenadas para que estivéssemos presentes no enterro, no cemitério de São João Baptista, em Botafogo.
Durante o enterro que impressão teve sobre as motivações deste homicídio?
A primeira impressão foi a de que efectivamente tinha relação com os problemas da herança…
Mas quem lá estava, os amigos de Rosalina, suspeitavam de alguém?
Durante o enterro falou-se muito de dois nomes: Olímpia Feteira e Duarte Lima. Da Olímpia pelos problemas que existiam entre as duas e de Lima, porque se tinham encontrado naquele dia.
O delegado Ettore acompanhou este caso desde o início?
O inquérito foi presidido por um delegado, neste caso o dr. Filipe Ettore, que era na época o director da divisão. O delegado não toma conhecimento imediato do que está acontecendo, mas coordena.
Então quando o delegado Ettore disse que não havia suspeitas sobre Lima e que os depoimentos dele eram satisfatórios, não estava a dizer a verdade…
Claro. Quando ele diz que não havia suspeitas, o que significa é que naquela altura não havia ainda dados que confirmassem a suspeita. Mas numa situação destas toda a gente, entenda-se ele e a Olímpia, é suspeita. Já quando o delegado fala que Duarte Lima tinha prestado os depoimentos considerados satisfatórios é desinformação.
Em que altura pediram a colaboração de Olímpia Feteira e de Duarte Lima?
Numa investigação como esta, primeiro se reúnem todos os dados relativos à vítima. Quem é, o que terá motivado aquele desfecho, as características do homicídio... Como é que a vítima estava, como é que foi levada para o local… E só depois de reunidos esses factos é que você vai interrogar as pessoas que se encaixam na pergunta clássica das investigações de homicídios: “A quem interessava esta morte?” Teoricamente, interessaria a Olímpia Feteira. Uma teoria que mais à frente se veio a revelar errada.
Porquê?
Bom, porque depois de investigarmos Olímpia - as andanças dela, com quem se encontrou no Rio de Janeiro e o que fez - ela se prontificou a vir aqui explicar tudo. Um comportamento que ele não teve. Só tivemos uma conversa com Duarte Lima por telefone e falámos umas duas ou três vezes por e-mail. A partir daí, ele se calou.
Não acha legítimo que uma pessoa que se vê envolvida num caso destes sinta receio, até pela imagem que a polícia brasileira ainda tem na Europa?
Sim, e tivemos isso em consideração. Mas a verdade é uma só e não pode ser mudada. Veja bem, o que acontece é o seguinte, quando ele se mostra reticente e diz que somos uma polícia de terceiro mundo, o que ele está a tentar é desviar a atenção. É evidente que aí as pessoas não sabem como funciona a justiça e a polícia no nosso país, mas nós somos um país grande, uma democracia, portanto as coisas não são, nem poderiam ser, de uma pessoa chegar aqui e encomendar uma investigação. Acredito que isso que ele fala não acontece nem na Somália…
Havia possibilidade de ele colaborar de modo não oficial, sem ser por rogatória?
Evidente que dêmos essa opção. Ainda que ele fosse a pessoa mais interessada em colaborar. Essa morte só se tornou pública em Portugal sete ou oito meses depois e durante esse período ele nunca ligou para a polícia para saber o que teria acontecido com a cliente dele. Isso é, desde logo, estranho.
Ele não colaborou mesmo?
Não. Negou-se a dizer qual o carro que conduzia, onde o tinha alugado. Negou-se a dar vários detalhes que esclarecem os factos ocorridos. Ninguém pode dizer que está interessado em colaborar numa investigação a um homicídio quando diz: Não vou responder a isso que isso pode me auto-incriminar. Ou que não responde, porque é um detalhe privado da pessoa que morreu. Isso cria dúvidas.
Mas quando o confrontavam com a indisponibilidade para colaborar, o que dizia?
Duarte Lima disse sempre que só falaria se fosse ouvido no inquérito. Isso foi claramente uma barreira para tentar impedir o avanço do nosso trabalho. Aliás, um dos pontos que fez a nossa luz vermelha acender foi quando perguntámos se ele tinha previsão de vir ao Brasil e foi-nos dito textualmente: “E quero ser ouvido por carta rogatória”.
Viram a entrevista à RTP?
Assistimos, inclusive a gravação dessa entrevista está no inquérito.
E alguma dessas declarações de Duarte Lima esclareceu as vossas dúvidas?
De forma nenhuma. Até porque ele se manteve na defensiva em todas as questões que foram feitas.
Entendeu o que ele quis dizer quando referiu que havia uma ‘mão’ a conduzir tudo o que estava a ser feito?
É uma colocação dele para se apresentar como vítima. Como é uma pessoa culta e inteligente, fala de uma coisa difícil de se constatar para criar dúvidas. Aqui tivemos um presidente, Getúlio Vargas, que se suicidou e deixou uma carta onde se justifica dizendo que foi motivado por forças ocultas. Nem daqui a um milhão de anos se saberá o que isso significa. Isto para explicar que quando as pessoas são inteligentes, tendem a criar defesas para se justificarem e para justificarem as suas atitudes. Da mesma forma que nunca ninguém saberá – porque ele não diz – que mão oculta é essa que estava conduzindo tudo.
Nunca sentiu que a Olímpia se queria assumir como essa espécie de ‘mão invisível’?
De forma alguma. Ela foi interrogada por cinco horas ininterruptas acompanhada de dois advogados, um português e outro brasileiro, que não interferiram em nada. Ela se colocou à disposição da polícia para permanecer no Rio durante o tempo necessário e sempre se prontificou a colaborar. Além do mais, tudo o que disse foi constatado e verificado nas nossas diligências. Tudo foi investigado ao pormenor.
Durante os dois anos da investigação, a Olímpia manteve esse comportamento?
Sim. Nunca pediu cópia do inquérito, nunca quis saber o que os outros diziam no inquérito. Em nenhum momento os seus advogados forçaram esta investigação, nem quiseram saber o que os outros diziam para preparar a sua defesa.
Se pudesse voltar atrás mudava alguma coisa na investigação?
Não. Não vejo, no momento, nada que pudesse ter feito diferente.
Há poucos dias, Duarte Lima disse numa entrevista que para atestar se havia vestígios de sangue no carro que ele conduziu deveria ter sido usado luminol...
Essa alegação é para manipular o desconhecimento da maioria das pessoas sobre essa substância. O luminol é uma grande valia na área forense, mas tem limitações. O carro quando foi localizado já tinha passado por três donos, transportava crianças e chegou mesmo a ser alugado e usado por muitos motoristas. As substâncias que se usam para detectar sangue poderiam dar um falso positivo.
Mas foi utilizado?
Os peritos avaliaram e definiram que as condições em que o carro se encontrava depois de tanto tempo não era conclusivo, nem apropriado o uso do luminol.
Porque é que têm a convicção de que um dos tiros foi dado dentro do carro?
Essa convicção se deve ao estudo da trajectória da bala. Um dos tiros disparados é dado da esquerda para a direita, entrando no peito e saindo na axila direita. É o tipo de disparo que não poderia ter sido dado de pé. Concluímos por isso que Rosalina terá sido atingida quando ainda estava sentada, pela pessoa que estava no lugar do motorista.
Um elemento da PJ esteve no Rio numa colaboração informal. Foi importante?
Importantíssimo Gostaria de frisar que a PJ portuguesa sempre se mostrou altamente colaborativa e interessada. Questionou muitas coisas e agiu como uma instituição policial de alto nível deve agir.
A Polícia Civil foi acompanhando através da PJ o que acontecia em Portugal?
Sim. Tivemos informações sobre uma boa parte do que ia acontecendo aí e que poderia estar relacionado com este caso.
E as informações que vocês passaram foram importantes, por exemplo, para a operação Monte Branco?
Não sei dizer, porque não se trata de nada formal. Mas nós já tínhamos de antemão algumas informações que aí só foram tornadas públicas quando rebentou a Operação Monte Branco.
O advogado de Duarte Lima criticou a Polícia Civil mas durante as investigações ele interrompe o papel de advogado para ser chefe da polícia que tanto criticara, no estado do Tocantins. Como viram isso?
O Tocantins é um estado novo e ele é uma pessoa com ambições políticas. É uma pessoa com ligação a determinados segmentos politico-nacionais e internacionais que defendem certos interesses. Foi para lá como chefe de polícia, não deu certo e voltou agora a advogar Duarte Lima, e outros clientes e é candidato a senador. Mas isso não teve grande diferença para nós.
Não dificultou o vosso trabalho?
Não, de jeito algum. A Polícia Civil é uma polícia estadual, então a Polícia Civil do Rio não tem qualquer ligação com a do estado do Tocantins.
Passando a assunto mais delicados. Ao longo deste tempo recebeu pressões ou intimidações?
Recebi sim. Existiram manobras relativamente criticas que certamente estavam ligadas a este caso.
Está a falar em subornos?
Não, não houve suborno. Ao meio, quando estávamos chegando a algumas destas conclusões, houve ameaças físicas.
Teve medo?
Bom… Isso é algo que não nos pode assustar. Sempre existe aqui quando numa investigação estão envolvidas pessoas tão influentes.
Chegou a arrepender-se?
De jeito nenhum. Sempre integrei equipas de investigação policial e participei na prisão de grandes traficantes. Perigosos e violentos, que de uma forma ou de outra também faziam ameaças físicas. As ameaças não nos podem impedir de fazer o nosso trabalho. É preciso é ter mais cuidado.
Porque ligou essas ameaças que recebeu a esta investigação?
Apenas posso dizer que há detalhes que ligam directamente as duas situações. Sem sombra de dúvidas…
Se não quiser responder, sinta-se à vontade... Essas ameaças foram de morte?
Isso…
Já superou essa situação?
Acredito que sim, mas a actividade policial, e até mesmo a jornalística, sofre pressões muito grandes. Infelizmente aqui polícias e jornalistas chegam a ser eliminados fisicamente. Faz parte…
A sua saída dos Homicídios para investigar o furto de automóveis pode estar relacionada com este caso?
Não… Esta última vez que eu lá estive foi a terceira vez em 27 anos. A mudança é normal, não teve nada a ver com isso.
Sentiu a diferença cultural como uma barreira?
Um pouco, mas não muito. Mas esse foi o motivo pelo qual resolvi gravar a única conversa que tive ao telefone com Duarte Lima. Falamos a mesma língua, mas com muitas diferenças. Eu não posso me lembrar de tudo que um pessoa me disse durante uma hora, ainda para mais se não entendi claramente tudo o que me foi dito. A diferença linguística, mais do que a cultural foi uma barreira no início.
Duarte Lima acusa-o de passar informações confidenciais aos jornalistas e diz que o comissário é um blogueiro…
Eu entendo essa colocação, porque coincidentemente o primeiro jornal que publicou o caso do homicídio foi um jornal para o qual eu escrevo como colunista [jornal Extra]. Mas foi uma coincidência, até porque existe um respeito muito grande não só do pessoal do jornal para comigo como ao contrário.
Porque Duarte Lima dá tanta importância a esse detalhe?
É uma colocação espinhosa no sentido de denegrir a minha imagem como profissional. Mas convido quem quiser a verificar todos os meus textos, que estão na internet. Vão ver que todos eles são muito ácidos, críticos, mas em nenhum momento revelam nada sobre investigações em andamento. O que acontece, e que Duarte Lima tem de entender, é que temos aqui no Brasil uma grande admiração pela liberdade de imprensa. Acreditamos que a imprensa é o quarto poder, o fiel da balança. Sem ela não teremos uma democracia próxima da plenitude.
Pelo que vê na internet, que imagem acha que a policia civil deixou aos portugueses neste caso?
A maioria dos portugueses tem uma imagem correcta sobre a rectidão com que esta investigação foi feita. Pelo que leio, a maioria aplaude a forma como tudo foi feito e o desfecho.
Sente que cumpriu o seu dever?
Sim, uma das primeiras lições que aprendemos na academia de polícia é que é melhor ter cem criminosos soltos que um inocente na cadeia. Se não conseguimos provar um crime é melhor que o criminoso fique solto que um inocente seja acusado do que não fez. Isso não tem preço.
Consideram portanto as provas contra ele inequívocas..
Claro. Veja, Duarte Lima pode até ser o maior defraudador, pode ter desviado milhões dos bancos, mas neste caso se não fosse ele, não era ele e pronto.
Comissário, no campo das possibilidades, ficava chateado se amanhã se descobrisse que Gisele existe e Lima não foi o autor deste crime?
Ficava triste porque isso seria uma prova de que não teria sido profissional o suficiente para encontrar Gisele. Mas mais do que triste por essa falha grave, ficaria satisfeito por saber que um inocente esteve falando a verdade o tempo todo.
Um dos advogados de Duarte Lima chegou a afirmar que recebeu mensagens onde se referia que, se ele quisesse, a investigação poderia ser travada. Isto pode ter acontecido?
Não acredito que isso seja possível, mas se isso aconteceu o advogado dele é participe de um crime que não se iniciou. Ele deveria por ética denunciar quem enviou este e-mail. Se ele diz que isso aconteceu e ele não denunciou só está mostrando que é uma pessoa sem carácter e antiético. Um forte candidato a criminoso.
Investigou todas as testemunhas que agora foram arroladas por Duarte Lima, incluindo Horácio Fittipaldi?
O que sabemos dessa ultima pessoa é que se trata de uma pessoa ligada ao escritório de advogados de Duarte Lima. Frequenta e mantém relações de amizade com o advogado Saulo Morais [advogado de Lima no Rio de Janeiro].
Vocês descreveram-no como prepotente, com amnésia oportunista e arrogante. Traçaram mais detalhes da sua personalidade?
Lembro que em determinado momento ele se comparou a Jesus Cristo. Disse ele que o que estava sendo feito na imprensa e na opinião pública era idêntico ao julgamento de Jesus Cristo. Isso mostra a prepotência e arrogância. Há umas semanas, aqui no Brasil, um senador foi caçado pela Polícia Federal por manter uma vida dupla: de dia defendia a ética e a moral, na calada da noite mantinha contacto com a máfia do jogo ilegal. No Senado, depois de descoberto, ele comparou o que lhe estava acontecendo ao julgamento de Jesus Cristo. Isso, mostra que pessoas com este nível de poder usam argumentos idênticos.
O Ministério Público do Rio deu os parabéns à investigação policial. Todos os habeas corpus pedidos no Brasil por Duarte Lima foram recusados. Vê isso como uma vitória pessoal ou um reconhecimento profissional?
Reconhecimento profissional. Não existe vitória pessoal. Porque não estou numa disputa com o dr. Duarte Lima. A minha dedicação é só a lei e a verdade. Quando pessoas do mais alto nível intelectual e moral, juízes e desembargadores, dizem isso, temos a certeza de que conduzimos o nosso trabalho com toda a justiça e moralidade. Entendo todas as agressões e acusações dele à polícia, são leviandades lançadas por um acusado desesperado que não tem como se justificar nem como contradizer as provas apresentadas no inquérito.

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