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terça-feira, 24 de abril de 2012

"Jardim, a grande fraude"



É este o título do livro de Ribeiro Cardoso cujo lançamento na Região foi adiado por uma estranha, infeliz e coincidente 'indisponibilidade de espaço'. Não acredito. Alguns, confirmaram e desmarcaram; com outros, foi logo impossível.
O que desde logo importa realçar é o enorme trabalho de pesquisa que aqui está compilado. O autor não verte uma interpretação pessoal sobre a índole, o estatuto político ou a obra de Jardim; mais de 90% das 500 páginas reproduzem notícias, declarações, entrevistas sobre factos, a maioria dos quais sobejamente conhecida de todos nós, restando os outros 10% para considerações ou apreciações do autor.
Claro que há novidades para muitos, como documentos relativos à importância de Jardim na formação do PSD, ou ao juízo que dele é feito por muitos dos seus pares da altura, ou à influência do bispo Francisco Santana, um indefectível de Salazar.
Claro que há mistérios: como a fábrica de batatas fritas, avalizada em 70 mil contos, custou 520 mil € e nunca existiu.
Claro que há actualizações a fazer: a dívida às farmácias já não é de 58.4 milhões €, mas de 118; a Marina do Lugar de Baixo há muito que ultrapassou os 40 milhões €, tendo já chegado aos 70.
Claro que há contradições insanáveis como a que respeita à pobreza: 4% (!) para o governo, 33% para um estudo de Bruto da Costa; ou do valor da dívida à banca - 4 600 milhões €, a que Jardim contrapõe apenas 3 730 milhões. 
Claro que há mentiras de perna curta como o pagamento da Segurança Social e outros apoios sociais que Jardim sempre fez crer que é ele que paga, mas para os quais nunca despendeu um chavo porque são todos pagos pelo governo da República.
Claro que há coisas que levantam ainda mais dúvidas como as que respeitam a documentos sobre estranhas ligações à Justiça, à Igreja, ao desporto, a grandes construtores civis.
E claro que há uma questão sempre presente: a complacência com que os responsáveis políticos do país - de Lisboa - encaram o que se passa na Madeira em todos os aspectos, da vida social à situação económica e financeira, passando pelos permanentes insultos dirigidos a toda a gente, instituições do Estado incluídas. 
Jardim é assim, diz-se! Jardim é assim porque o Estado fecha os olhos. Jardim é assim porque o deixam ser assim. Ser grosseiro e ordinário não é sinónimo de homem de Estado; é mais adequado a um rufia e a um caceteiro. 
Por tudo isto - e muitíssimo mais que não cabe neste curto espaço - este é um documento de cuja leitura muitas perguntas sobre a governação de Jardim virão a obter alguma resposta. 
Afinal, o que se passou com este assunto é, apenas, mais uma "radiografia da «Madeira Nova» - feliz subtítulo do livro.

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