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terça-feira, 2 de abril de 2019

A arte de destruir a Linha do Douro


[Luís Almeida]
Ao longo dos anos, os pseudo ferroviários que administram e definem politicamente as orientações do setor tem-se revelado muito criativos na “arte” de destruir a oferta comercial de linhas ferroviárias um pouco por todo o país.

E quando se pensa que já se viu de tudo, percebe-se que a imaginação não tem limites.

Em 2016, os operadores fluviais do Douro deixam de usar o comboio por falta de fiabilidade e condições de conforto da oferta ferroviária. São os parâmetros mínimos de um transporte ferroviário de sucesso. Estima-se que 30 mil passageiros passaram do comboio para os autocarros.

Em 2017, a CP reage, por pressão dos operadores interessados em vender um produto no Douro que tenha… Douro! Assina-se pomposamente um protocolo em Janeiro e um novo comboio, exclusivo para operadores, começa a circular em Maio. Os mesmos operadores exigem que o mesmo se prolongue até ao Pocinho, a CP não acede mas percebendo finalmente a importância dessa parcela de turismo e a reboque de tudo o que há décadas se faz na Europa em matéria de turismo ferroviário e que se traduz em relevantes receitas para as empresas, lança o Miradouro até ao Tua.

O MiraDouro tinha tudo para ter sucesso: não tem climatização mas tem janelas amplas que permitem o debruçar sobre o vale. Não tem suspensão dupla mas tem o conforto suíço dos amplos salões e espaços tão característicos das carruagens Schindler. Não tem a modernidade dos dias que correm mas tem o suspense, a magia, a mística e a história nos rodados que já percorrem vários milhões de quilómetros.

Então porque razão o Miradouro não funcionou?

A resposta é simples: a CP não quis que funcionasse:
1.   No primeiro ano de atividade (2017), o MiraDouro ia até ao Tua. A viagem no sentido Porto/Tua tinha uma marcha relativamente normal. Em sentido contrário, o comboio saía tardíssimo do Tua e tinha um tempo de espera superior a 1h na estação da Régua antes de seguir viagem.
2.   Na estação de Valongo tinha uma paragem técnica de mais 20 minutos para ser “ultrapassado” por um suburbano.
3.   Em 2018 é suprimida a viagem entre a Régua e o Tua, alegando que o comboio não trazia passageiros no regresso. Ora, a menos que os passageiros se “afogassem na barragem” e uma vez que não há oferta rodoviária e que não foram reportados desaparecimentos massivos de pessoas na região, há uma forte probabilidade das pessoas regressarem em comboios com horários mais adequados e marchas mais rápidas do que a do Miradouro no sentido Tua/Porto.
4.   A CP não perdia clientes, simplesmente os clientes procuravam outro horário de regresso, mas ainda assim foi este o argumento utilizado. No final de contas, deixou de haver passageiros em qualquer um dos sentidos.
5.   Ter um comboio para vender uma viagem junto ao rio e dar essa experiencia apenas nos 30 minutos que vão entre o Mosteirô e a Régua sendo que a região demarcada do Douro começa apenas na estação de Barqueiros (pouco mais de 15 minutos antes da Régua) pode também não ser a oferta mais apelativa.
6.   A falta de passageiros… bem, sobre isso não vou dizer nada, porque apesar de tudo, é só dar uma volta pelas redes sociais onde ontem caíram dezenas de fotos que comprovam a “falta de passageiros” no comboio.
7.   Já para não falar do absurdo argumento técnico de que as “camelas” (UTD série 59x) que alugamos obscenamente a Espanha por 5 a 7 milhões de euros/ano são “mais económicas” com os seus 5 motores dos anos 80 a queimar gasóleo e geram mais valor do que 6 a 7 carruagens Schindler traccionadas pelas mais económicas locomotivas diesel (série 14xx) que alguma vez tivemos em Portugal (se assim for, se calhar a CP deveria estar a exigir a eletrificação e não a trocar o parque diesel).

E como parece que isto não vai ficar por aqui, hoje sabe-se que o comboio a vapor vai reduzir para metade as viagens depois de anos sucessivamente a crescer. Estamos “ansiosos” para saber com que mais criatividade nos vão brindar os pseudo-ferroviários que estão a destruir um património que é de todos e uma mais valia evidente para uma empresa que precisa desesperadamente de equilíbrio orçamental… mas também de chegar ao século XXI.
Fonte: AQUI

1 comentário:

independente futebol clube disse...

https://verdade-rigor-honestidade-diferente.blogspot.com/2017/06/as-r220617-evolucoes-do-futuro-ifc-pir.html

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