Os massacres
que marcaram o início da guerra em Angola começaram há 55 anos. Neste dia, a
União das Populações de Angola matou centenas de colonos brancos, mas também
negros. O norte de Angola transformou-se então num palco em que a morte e a
violência eram os atores principais. Assim começou, de forma brutal, a guerra
colonial
Oito da manhã, 15 de março de 1961. “Mata, mata. UPA, UPA.” Há precisamente 55 anos, a União das Populações de Angola (UPA) desencadeava os primeiros ataques às fazendas e vilas coloniais no norte de Angola.Neste massacre foram mortos e mutilados centenas de colonos brancos e também negros, nas fazendas do café, zonas dos Dembos, Negage, Úcua e Nambuangongo. Muitos foram mortos à catanada.
Ninguém escapou ao massacre. Homens, mulheres e crianças, negros
e brancos. A fúria da UPA (posteriormente chamada FNLA – Frente Nacional deLibertação de Angola) não poupou ninguém.
Os relatos sobre esse dia são muitos. “Em menos de 48 horas,
pelos
distritos do Zaire e do
Uíge é a devastação maldita. Plantações e casas
solitárias são saqueadas e incendiadas; aldeias são arrasadas; é posto cerco a
vilas e pequenas povoações, cortando-se-lhes os abastecimentos; vias e meios de
comunicação social ficam destruídos”, pode ler-se num excerto de Franco
Nogueira no livro
“Salazar Volume V – A Resistência”. Franco Nogueira faz “uma
boa síntese” dos acontecimentos, segundo afirmaram recentemente os
historiadores Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, autores de
“Angola 61:
Guerra Colonial, Causas e Consequências, o 4 de Fevereiro e o 15 de Março”
(Texto Editora).
“O norte de Angola é avassalado por uma onda de brutalidade
tribal, assassínios em massa, incêndios, destruições e rapina de haveres,
violações de mulheres e crianças. Os tumultos espalham-se às plantações de café
isoladas, aos postos de abastecimentos e às vias de transporte”, pode também
ler-se no livro
“A Guerra de África 1961 – 1974” de José Freire Antunes.
A carnificina – que tirou a vida a 800 portugueses e africanos –
determinou o envio em massa de militares para Angola. Ou seja, o ataque da UPA
fez com que se criasse um profundo movimento de revolta dos colonos brancos.
No mesmo dia dos ataques,
António de Oliveira Salazar ordenou a
partida de quatro companhias de caçadores para reforço da guarnição de Angola.
Esta data, que não mais será esquecida, veio marcar o início de
uma guerra que Portugal viveu em Angola e que decorreu entre 1961 e 1974.
A 27 de abril desse ano, vários militares portugueses
vingaram-se do que aconteceu. Este massacre foi tão sórdido como o primeiro:
milhares de homens, mulheres e crianças foram mortos de formas brutais, muitos
deles decapitados e queimados.
Para Aniceto Afonso, coronel na reserva e autor, com Carlos de Matos Gomes, de Os Anos da Guerra Colonial (Quidnovi, 2010), "é evidente que esta acção é uma resposta aos massacres da UPA", embora não possamos dizer que faz parte de uma contra-ofensiva, porque entre o ataque do 15 de Março às fazendas do Norte de Angola e a chegada, em Maio, "de um comando militar estruturado, pensado, com tropas regulares", os militares no terreno estão muito sozinhos e têm apenas ordens genéricas para pacificar a região."Isto é um acto de terror, não há como negar", reconhece, mas "é preciso enquadrá-lo no contexto da época. Foram meses violentos, perturbadores. Só quem lá esteve pode saber como foi e foram poucos os que viveram esta situação." As tropas que chegaram a partir de Maio não enfrentaram situações semelhantes, porque "este tipo de violência é exclusiva destes dois meses, em que não havia uma estrutura militar no terreno".
O relatório da "acção punitiva de pacificação" da sanzala Mihinjo foi descoberto numa das caixas que pertencem à delegação da PIDE/DGS em Angola e que estava ainda por catalogar no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a quem foi confiado todo o espólio documental da polícia política do Estado Novo, em 1994.
Aquando do massacre, a UPA era liderada por
Holden Roberto que,
nessa altura, se encontrava na sede da ONU, em Nova Iorque, onde os Estados
Unidos votavam pela primeira vez contra a política colonial portuguesa. Apesar
de ser acusado da brutalidade do que aconteceu, Holden nega. “Vi as imagens e
não me agrada.” Chegou mesmo a dizer, anos mais tarde, num documentário da RTP,
que estava chocado.
Culpado ou não, o seu nome ficará para sempre ligado à autoria
destas mortes violentas que desencadearam a luta que só teve fim em 1975, pouco
depois do 25 de Abril. Angola foi a última colónia portuguesa africana a
conseguir a independência.
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