Catarina Efigénia Sabino Eufémia foi uma
ceifeira portuguesa que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, foi
assassinada a tiro, pelo tenente Carrajola da Guarda Nacional
Republicana. Wikipédia
Nascimento: 13 de fevereiro de 1928, Baleizão
Falecimento: 19 de maio de 1954, Baleizão
Morte: 19 de maio de
1954 (26 anos); Baleizão
Causa da morte: trauma balístico
O assassinato de Catarina Eufémia é um
expressivo documento do que foi o fascismo em Portugal.
A lição da sua
vida e da sua morte será guardada pelos tempos fora não só entre os operários agrícolas do Alentejo mas por todo o país
Catarina
Eufémia
Chamava-se Catarina o Alentejo a viu nascer (...) (~) em 1928, na aldeia de Baleizão, concelho de Beja.
Segunda filha
de um casal de camponeses pobres, Catarina Eufémia bem cedo experimentou as
dificuldades de sobrevivência dos «sem terra» em zona de latifúndio.
Cresceu com os
trigos, contou os anos pelas ceifas e por escola teve a lonjura da campina,
onde a escrita se fazia com o gadanho e a foice.
Ainda criança
perdeu o pai, José Diogo Baleizão, e abandonou as bonecas de trapos, farinha e
papel, para colaborar no sustento da família, constituída pela mãe, pela irmã
mais velha Maria Eufémia, por ela (Catarina) e a mais nova, Delmira da
Assunção.
A adolescência
passou-a nas terras do Monte Olival, propriedade do agrário Fernando Nunes,
gerando lucros com fome. Calor, sede e magra jorna.
Monte do Olival
Portugal, Beja, Beja, Baleizão
Aos 17 anos casou com um conterrâneo, o «Carmona», então trabalhador da CUF, e
muda-se para o Barreiro onde nasceria a primeira filha do casal, Maria
Catarina. Porém, o companheiro de Catarina é despedido e o agregado familiar
volta para Baleizão.
Corriam, na
época, tempos de grandes fomes e heróicas lutas. O proletariado agrícola
alentejano fervia de revolta face às aviltantes condições de trabalho, sendo
remetido a uma dieta espartana de pão duro, alho e bacalhau seco.
A aldeia de
Baleizão não destoava na paisagem económico-social do Alentejo dos anos 50, e
Catarina Eufémia, que se recusara a aceitar Um salário de miséria, discutido
com José Vedor, feitor de Fernando Nunes, palmilhava diariamente 12 quilómetros
até ao Monte Campano, por a jorna ser ali mais alta do que no Monte Olival.
Em 1954, a luta
do campesinato alentejano ganhou novas e redobradas energias
É nesta lida,
dia a dia mais pesada, que se vai gerando o futuro António Gaspar, segundo
filho e primeiro rapaz de Catarina, nascido em Baleizão.
Já
experimentada na resistência à ofensiva de fome e exploração, Catarina Eufémia
ingressa no PCP com 24 anos e, pouco depois, fazendo parte do Comité Local,
lidera a organização das mulheres da sua terra.
Entretanto, o
marido fora colocado em Quintos, como cantoneiro, e para lá se encaminha
Catarina onde, no Outono de 1953, nasce o seu terceiro rebento, o José Adolfo.
Contudo, não havendo condições de permanência na «casa dos cantoneiros», Mãe
Catarina regressa com a sua prole a Baleizão.
Em 1954, a luta
do campesinato alentejano ganhou novas e redobradas energias, como, nos dá
conta «o camponês», publicado em Março desse ano: «A participação das mulheres
camponesas na luta por melhores jornas é um grande passo em frente no
reforçamento da Unidade. Em muitos lados, elas vão à Praça de Jornas, fazem
parte de Comissões com os homens e constituem também as suas próprias
Comissões. Esta rica experiência deve ser seguida, chamando as camponesas à
luta pela conquista de melhores jornas nas ceifas». Tal como em anos
anteriores, os agrários e o Governo aprontavam-se para imporem o pagamento de
jornas baixas e impedirem, por qualquer meio, a resistência dos explorados.
Porém, a tais manobras e intimidações se opunha, cada vez com mais firmeza, a
luta unida e organizada dos trabalhadores. E assim que, por todo o lado, se vão
multiplicando amplas comissões de unidade, com homens e mulheres, nas Praças de
Jornas, em herdades, montes e ranchos, conduzindo, sem tréguas, a luta contra o
fascismo e os latifundiários.
Entretanto, já
em Fevereiro desse ano, a GNR insultara uma comissão de 25 mulheres em Vale de
Vargo e espancara uma delas, tendo o Tribunal de Serpa condenado 3 camponesas a
18 dias de prisão.
Vale de Vargo já
pertenceu ao concelho de Moura (até finais do século XIX) e também já esteve
anexada a Pias.
Nos campos
crescia a agitação social e Baleizão não era obviamente diferente dos demais
baluartes de resistência. Aí, perante a recusa sistemática do agrário Fernando
Nunes em pagar a jorna pretendida para a apanha das ‘favas, os camponeses
deliberaram entrar em greve e, a partir de sábado (15 de Maio), ninguém foi
trabalhar.
Dado o impasse
da situação, na terça-feira seguinte (18 de Maio), um grupo de camponeses onde
figurava Catarina Eufémia, vai ao Monte Olival para tentar negociar, mais uma
vez com o feitor, o aumento. Em vão!
Contudo, no dia seguinte, o conflito iria sofrer dramática evolução, pois Fernando Nunes apostara quebrar a Unidade dos grevistas e mandara buscar um rancho a Penedo Gordo, pagando 18$00 aos homens e 12$00 às mulheres.
Contudo, no dia seguinte, o conflito iria sofrer dramática evolução, pois Fernando Nunes apostara quebrar a Unidade dos grevistas e mandara buscar um rancho a Penedo Gordo, pagando 18$00 aos homens e 12$00 às mulheres.
A notícia
correu célebre entre as gentes de Baleizão, que, perante esta acção
divisionista, decidem ir falar aos trabalhadores do rancho de Penedo Gordo.
A justeza da
posição reúne 300 baleizoeiros que tomam o caminho do Monte Olival, no intuito
de esclarecerem o rancho de fora quanto aos motivos porque lutavam a exortá-los
à Unidade. «Não foram precisas muitas falas para os trabalhadores se
entenderem. Estavam todos de acordo, não se trabalhava com salários de fome».(2)
No entanto,
alguém previra o natural acordo e solidariedade, e teimando em vergar a vontade
popular, chamara a GNR, que prontamente cerca o rancho do Penedo Gordo,
obrigando-o a trabalhar sob a ameaça das armas e pela jorna determinada pelo
«senhor da terra».
O Povo de
Baleizão, ao tomar conhecimento da provocação, avança unido para a herdade,
determinado a demover o grupo «contratado», mas depara com forte barreira de guardas-republicanos
que, de espingardas aperradas, lhe impede a marcha.
Perante a
pertinaz resistência do proletariado agrícola, inabalavelmente convicto dos
seus direitos e firme nos objectivos, os guardas deixam passar um grupo de 15
mulheres lideradas por Catarina Eufémia.
Grávida e com o
pequenito José Adolfo, de 8 meses, ao colo, esta avança decidida, confiante e
sem temor, para o diálogo.
E então que,
detrás de um monte de favas, lhe salta traiçoeiramente ao caminho o facínora
tenente Carrajola
O tenente Carrajola o assassino que foi condecorado pelo fascismo
que, recém-chegado de Beja com reforços, lhe aponta uma pistola-metralhadora,
perguntando: «O que queres, bruta?» «O que eu quero é pão para matar a fome aos
meus filhos!» A resposta soou em três tiros desfechados à queima-roupa.
Mortalmente
ferida, tombou de pé Catarina Eufémia, vítima da besta fascista.
(...) Ficou
vermelha a campina Do sangue que então brotou (...)C)
Morreu de pé e
sem medo «como deve saber morrer um membro do Partido à frente das massas,
encabeçando a luta de classe». (3) No dia 19 de Maio de 1954, às 11 horas da
manhã, Catarina Eufémia, mulher esforçada e mãe corajosa, destemida comunista,
ultrapassou a morte e, vencendo o tempo, reergueu-se em vermelha bandeira
dentro de cada um de nós.
Catarina —
orgulho do proletariado agrícola alentejano! Catarina — símbolo de firmeza e
exemplo de militante do Partido Comunista Português!
Catarina Eufémia — a-sempre-viva na nossa memória! Porque... (...) Quem viu matar Catarina Não perdoa a quem matou! (‘)~
Catarina Eufémia — a-sempre-viva na nossa memória! Porque... (...) Quem viu matar Catarina Não perdoa a quem matou! (‘)~
(‘) AFONSO,
José — do poema «Cantar Alentejo»
(2) COELHO,
José Dias — A Resistência em Portugal, 2. ed., Porto, Inova, 1974, p. 20
(3) CUNHAL,
Álvaro — Homenagem a Catarina Eufémia, in «Avante!», n.2 (24 de Maio de 1974)
Militante»
nº172 de 1989
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