Ficou
conhecido como Tragédia de Entre-os-Rios um acidente, ocorrido a 4 de março de 2001, às 21:15 horas, que consistiu no colapso da Ponte Hintze Ribeiro, inaugurada em 1887, e que fazia a ligação entre Castelo de Paiva e a localidade de Entre-os-Rios.
Do acidente
resultou a morte de 59 pessoas, incluindo os passageiros de um autocarro e três
carros que tentavam alcançar a outra margem do rio Douro.
O desastre levou a acusações quanto a negligência
do Governo Português, levando à demissão do
Ministro do Equipamento Social da altura, Jorge Coelho.
Jorge Coelho jantava no Bairro
Alto, em Lisboa, a 330 quilómetros de Entre-os-Rios, quando a notícia explodiu
no telemóvel. Percebeu que aquela ia ser uma noite ímpar. Correu para o
Ministério do Equipamento Social a dar as primeiras indicações e, durante a
madrugada, demitiu-se. “É dos tais momentos em que temos de nos encontrar
connosco mesmos”, disse numa entrevista, 14 anos depois. E reconheceu: “O
Estado falhou porque as pontes não são para cair”.
Dois anos antes, em 1999, Paulo
Teixeira atirara à comunicação social: “Esperamos que não seja necessária uma
tragédia para que se construa uma nova ponte”. Os alertas sobre os efeitos da
retirada contínua de areia do leito do Douro, provocando erosão das margens,
tinham sido alvo de notícias repetidas em anos anteriores. A 9 de janeiro de
2001, a população manifesta-se contra o mau estado da infraestrutura,
reivindicando melhores acessos. Pedro Araújo não hesita: “O colapso da ponte
resultou de um ato humano — ou do acumular de atos humanos ou do acumular de uma
ausência de atos humanos — e não de um ato de Deus”. Como a população sabe, Ele
não é para aqui chamado.
Cinco dias após a queda da
ponte, uma resolução do Conselho de Ministros assume a situação de exceção ao
reconhecer ao Estado a iniciativa pelo processo indemnizatório dos familiares
das vítimas e o reconhecimento da responsabilidade pela tragédia. Foi, como lhe
chamou Pedro Araújo, “um momento de desordem entre o Estado-perpetrador e o
Estado-protetor”. No total, foram pagos a título de indemnização aos herdeiros
das vítimas da queda da Ponte Hintze Ribeiro cinco milhões, oitocentos e vinte
mil, novecentos e setenta e um euros e três cêntimos, repartidos por 47
processos. E, ao receber o dinheiro, os indemnizados assinaram um
documento de quitação, declarando que “com o recebimento da referida quantia [o
assinante] se considera completamente ressarcido de todos os danos sofridos,
nada mais pretendendo do Estado Português, dando por tal a correspondente
quitação”. O silêncio tem o seu preço.
Os
arguidos são seis técnicos, a maioria ligados à antiga JAE, 22 areeiros e o
antigo presidente do Instituto de Navegabilidade do Douro Mário Fernandes. O
debate instrutório no âmbito da responsabilidade criminal pela queda da ponte
de Hintze Ribeiro vai ocorrer a 18 de Março próximo, mais de três anos após o
acidente.
E, em outubro de 2006, foram todos absolvidos
pelo Tribunal de Castelo de Paiva. Não houve culpados. Nenhum detentor de cargo
político foi acusado. A culpa ficou virgem em Entre-os-Rios.
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