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segunda-feira, 16 de maio de 2016
"PAÍS DE BANANAS, GOVERNADO E JULGADO POR SACANAS"
De vez em quando - e pena é que seja só de vez em quando - aparecem-nos
textos que, depois de lidos, apetece relê-los
Só não se percebe é porque o autor não dá a cara, tanto
mais que qualquer de nós é certo que não desdenharia de o ter
escrito.
PORTUGAL: QUE FUTURO?
Trinta e cinco anos de vida.
Filho de gente humilde. Filho da aldeia. Filho do trabalho.
Desde criança fui pastor, matei cordeiros, porcos e vacas, montei móveis,
entreguei roupas, fui vendedor ambulante, servi à mesa e ao balcão. Limpei
chãos, comi com as mãos, bebi do chão e nunca tive vergonha.
Cresci numa aldeia que pouco mais tinha que gente, trabalho e gente
trabalhadora.
Cresci rodeado de aldeias sem saneamento básico, sem água, sem luz, sem
estradas e com uma oferta de trabalho árduo e feroz.
Cresci numa aldeia com valores, com gente que se olha nos olhos, com
gente solidária, com amigos de todos os níveis, com família ali ao lado.
Cresci com amigos que estudaram e com outros que trabalharam.
Os que estudaram, muitos à custa de apoios do Governo, agora estão
desempregados e a queixarem-se de tudo. Os que sempre trabalharam lá continuam
a sua caminhada, a produzir para o País e a pouco se fazerem ouvir, apesar de
terem contribuído para o apoio dos que estudaram e a nada receberem por
produzir.
Cresci a ouvir dizer que éramos um País em Vias de Desenvolvimento e...
de repente éramos já um País Desenvolvido, que depois de entrarmos para a União
Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" e que passamos de
pobretanas a ricos "fartazanas".
Cresci assim, sem nada e com tudo.
E agora, o que temos nós?
1.
Um país com duas imagens.
·
A de Lisboa: cidade grandiosa, moderna, com tudo e mais alguma coisa, o
lugar onde tudo se decide e onde tudo se divide, cidade com passado, presente e
futuro.
·
E a do interior do país, território desertificado, envelhecido,
abandonado, improdutivo, esquecido, pisado.
2. Um país de vícios.
·
Esqueceram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores.
·
Não interessa a tua história, interessa o lugar que ocupas.
·
Não interessa o que defendes, interessa o que prometes.
·
Não interessa como chegaste lá, mas sim o que representas lá.
·
Não interessa o quanto produziste, interessa o que conseguiste.
·
Não interessa o meio para atingir o fim, interessa o que me podes dar a
mim.
·
Não interessa o meu empenho, interessa o que obtenho.
·
Não interessa que critiquem os políticos, interessa é estar lá.
·
Não interessa saber que as associações de estudantes das universidades
são o primeiro passo para a corrupção activa e passiva que prolifera em todos
os sectores políticos, interessa é que o meu filho esteja lá.
·
Não interessa saber que as autarquias tenham gente a mais, interessa é
que eu pertença aos quadros.
·
Não interessa ter políticos que passem primeiro pelo mundo do trabalho,
interessa é que o povo vá para o diabo.
3. Um país sem justiça.
·
Pedófilos que são condenados e dão aulas passados uns dias.
·
Pedófilos que por serem políticos são pegados em ombros, e juízes que são
enviados param as catacumbas do inferno.
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Assassinos que matam por trás e que são libertados passados sete anos por
bom comportamento!
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Criminosos financeiros que sempre escapam por motivos que nem ao
diabo lembram.
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Políticos que passam a vida a enriquecer e que jamais têm problemas ou
alguém questionam tais fortunas.
·
Políticos que desgovernam um país e que, entre
outros, "emigram" para Bruxelas e Paris, a par dos que
se mantém ainda ativos.
·
Banco que assaltam um país e que o povo ainda ajuda a salvar.
·
Um povo que vê tudo isto e entra no sistema, pedindo favores a toda a
hora e alimentando a máquina que tanto critica e chora.
4. Um país sem educação.
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Quem semeia ventos colhe tempestades.
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Numa época em que a sociedade global apresenta níveis de exigência
altamente sofisticados, em Portugal a educação passou a ser um circo.
·
Não se podem reprovar meninos mimados.
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Não se pode chumbar os malcriados.
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Os alunos podem bater e os professores nem a voz podem levantar.
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Entrar na universidade passou a ser obrigatório por causa das
estatísticas.
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Os professores saem com os alunos e alunas e os alunos mandam nos
professores.
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Ser doutor, afinal, é coisa banal.
5. Um país que abandonou
a produção endógena.
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Um país rico em solo, em clima e em tradições agrícolas que abandonou a
sua história.
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Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como se o afamado portátil
fosse a salvação do país.
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Um país que julga que uma mega fábrica de automóveis dura para sempre.
·
Um país que pensa que turismo no Algarve é que dá dinheiro para todos.
·
Um país que abandonou a pecuária, a pesca e a agricultura.
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Que pisa quem ainda teima em produzir e destaca quem apenas usa gravata.
·
Um país que proibiu a produção de Queijo da Serra artesanal na década de
90 e que agora dá prémios ao melhor queijo regional.
·
Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que esquece que tem cabrito
de excelência, carne mirandesa maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginjinha
deliciosa, Pastel de Tentugal tentador, Bolo Rei português, Vinho da Madeira,
Vinho Verde, lacticínios dos Açores e Azeite de Portugal para vender…
·
E tanto, tanto mais... que sai da terra e da nossa história.
6. Um país sem gente e a perder a alma lusa.
·
Um país que investiu forte na formação de um povo, em engenharias
florestais, zoo técnicas, ambientais, mecânicas, civis, em arquitectos, em
advogados, em médicos, em gestores, economistas e marketeers, em cursos
profissionais, em novas tecnologias e em tudo o mais, e que agora fecha as
portas e diz para os jovens emigrarem.
·
Um país que está desertificado e sem gente jovem, mas com tanta gente
velha e sábia que não tem a quem passar tamanha sabedoria.
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Um país com jovens empreendedores que desejam ficar, mas são obrigados a
partir.
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Um país com tanto para dar, mas com o barco da partida a abarrotar.
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Um país sem alma, sem motivação e sem alegria.
·
Um país gerido por porcaria.
E agora, vale a pena acreditar?
Vale. Se formos capazes de participar, congregar novos ideais sociais e
de mudar.
Porquê acreditar?
Porque oitocentos anos de história, construída a pulso, não se destroem
em tempo algum. Porque o solo contínuo fértil, o mar continua nosso, o sol
continua a brilhar e a nossa alma, ai a nossa alma, essa contínua pura e
lusitana e cada vez mais fácil de amar.
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