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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Os Degolados de Montemor-o-Velho/As Arcas de Montemor


Os Degolados de Montemor-o-Velho
Esta lenda aconteceu em tempos muito antigos, quando, em 848, Montemor-o-Velho foi reconquistada aos Mouros pelo rei Ramiro de Leão. Depois da batalha, o monarca de Leão resolveu visitar um seu parente, o abade D. João, que vivia no Mosteiro de Lorvão. Quando lá chegou verificou que o Mosteiro estava em ruínas e que os frades viviam na mais completa miséria, cheios de fome e de frio, devido às guerras constantes que devastavam a região. Querendo beneficiar os religiosos, doou-lhes as rendas de Montemor e alguns campos em redor da vila, com a condição de no Mosteiro ficarem alguns monges-guerreiros para defesa da vila. Passado algum tempo, os mouros voltaram a atacar e cercaram Montemor durante muito tempo, começando os bens a escassear. Com a ameaça de uma rendição forçada e temendo os ultrajes que seriam feitos aos velhos, às mulheres e às crianças, cada homem reuniu a família e, encomendando as suas almas a Deus, degolou todos os seus membros, um a um, com o coração dilacerado. Após este acto sangrento prepararam-se para a derradeira batalha, no exterior da fortaleza, na qual tinham a certeza de morrer. Mas, para grande surpresa de todos e talvez porque extinta a família já não tinham nada a perder, os cristãos lutaram sem medo e venceram esta batalha. Desolados, os homens choraram a vitória pelo sacrifício inútil das suas famílias mas, quando se aproximavam das portas da fortaleza gritos de alegria ecoaram no ar. Aguardavam-nos vivos os parentes que antes tinham sido degolados e este grande milagre ficou para sempre na memória do povo português através da lenda dos Degolados de Montemor-o-Velho.




As Arcas de Montemor

Já diziam os antigos que no castelo de Montemor-o-Velho estão enterradas duas arcas, uma cheia de ouro e a outra cheia de peste. A sua origem remonta ao tempo dos Mouros quando era alcaide naquela cidade um viúvo austero que tinha uma única filha, a quem guardava longe dos olhos de todos como se fosse o maior tesouro do mundo. Um dia, quando a jovem era já uma mulher, um dos seus fiéis cavaleiros apaixonou-se por ela mas o alcaide nem queria ouvir falar de tal possibilidade. Quando o cavaleiro insistiu, o alcaide resolveu prendê-lo e condenou-o à morte. Quando a jovem soube da tragédia em que involuntariamente estava envolvida, ainda tentou interceder mas o pai permaneceu insensível às suas súplicas. A jovem que até então não fazia ideia do grande amor que o cavaleiro lhe dedicava, resolveu visitá-lo em segredo nas masmorras. Este amor devia estar já talhado no livro do destino, pois a jovem logo se apaixonou pelo cavaleiro e ambos fugiram do castelo.

A sua captura foi fácil e quando foram levados perante o irascível alcaide, este ainda ficou mais furioso quando soube que a sua filha tinha casado com o cavaleiro. Então, por vingança, resolveu dar-lhes uma prenda maldita: duas arcas, uma com ouro e a outra com peste. Os jovens que prezavam mais a sua vida e o seu amor que todo o ouro do mundo fugiram do louco alcaide, deixando para trás as duas arcas que nunca ninguém ousou abrir e que ainda hoje estão enterradas nas muralhas do castelo de Montemor-o-Velho.
"Entre escombros, na rudeza
da vetusta fortaleza, 
batidas do vento agreste,
empedernidas, cerradas,
há duas arcas pejadas
uma d’oiro, outra de peste.

Ninguém sabe ao certo qual
das duas arcas encerra
o fecundo manancial,
que fartará d’oiro a terra
mesquinha de Portugal, 
ou qual, se mão imprudente 
lhe erguer a tampa funérea, 
vomitará de repente 
a fome, a febre, a miséria, 
que matarão toda a gente!

E nestas perplexidades 
e eternas hesitações, 
têm decorrido as idades, 
têm passado as gerações; 
nas guerras devastadoras, 
nas lutas brutais e ardentes 
entre as raças invasoras 
e as povoações resistentes.

Nunca romanos nem godos, 
nem árabes, nem cristãos, 
duros na alma, e nos modos, 
rudes no aspecto e no trato, 
chegaram ao desacato 
de lhe tocar com as mãos.

Sempre que o povo faminto, 
maltrapilho ou miserando, 
fosse ele cristão ou moiro 
entrou no tosco recinto 
para salvar-se, arrombando 
a arca pejada de oiro,

Quedou-se, os braços erguidos, 
a olhar atónito e errante, 
sem atinar de que lado 
vinha morrer-lhe aos ouvidos 
uma voz de agonizante, 
entre ameaças e gemidos:
- Ó Povo de Montemor, 
se estás mal, se és desgraçado 
suspende, toma cuidado, 
que podes ficar pior!

E nestas perplexidades, 
e eternas hesitações, 
hão-de passar as idades, 
suceder-se as gerações, 
e continuar na rudeza 
da vetusta fortaleza, 
batidas de vento agreste, 
empedernidas, cerradas, 
as duas arcas pejadas, 
uma d’oiro outra de peste."

Conde de Monsaraz

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