Mas, infelizmente, o aumento de capital não satisfaz. Por diversas razões:
- Uma das cláusulas da privatização da Fidelidade obriga a Caixa Geral de Depósitos (CGD) a vender em exclusividade os produtos financeiros da Fidelidade durante 25 anos.
Se a Fidelidade aplicar mal os fundos que recebe com a venda desses
produtos financeiros, ou se vier no futuro a acontecer à Fidelidade o
que ocorreu ao Grupo Espírito Santo (GES), os clientes da CGD podem
recorrer à justiça para procurarem ser indemnizados pela CGD pelas
eventuais perdas registadas nos produtos financeiros da Fidelidade. Ou seja, a CGD e a Fidelidade têm uma relação comercial similar à registada entre BES e GES;
- Ora, se a CGD não participar no aumento de capital da Fidelidade, como se parece inferir das recentes críticas do primeiro-ministro à CGD,
a participação social da CGD na Fidelidade (actualmente de 15%) irá
diminuir. Se isso vier a ocorrer, é provável que a CGD passe a não
nomear administradores da Fidelidade, ficando sem influência nas decisões de “investimento” da Fidelidade.
Desse modo, a CGD que vende produtos financeiros da Fidelidade aos seus
clientes, desresponsabiliza-se pela boa aplicação desses fundos e deixa de ser capaz de acautelar os interesses dos seus clientes.
Esta parece ser uma posição insustentável. A confirmar-se, o BdP
deveria obrigar a CGD a provisionar parte das aplicações dos clientes da
CGD em produtos financeiros da Fidelidade. E o Governo deveria forçar a
CGD a manter ou aumentar a sua posição accionista na Fidelidade;
-
O aumento de capital da Fidelidade ocorrerá em duas fases. No curto
prazo, no valor de 107 milhões, realizado por transferência de participações accionistas noutras empresas.
Posteriormente – não se sabe exactamente quando – ocorrerá um aumento
de capital de 500 milhões de euros por entrada de dinheiro. Mas
entretanto, a acrescentar aos provavelmente mais de 2 mil milhões de euros de “investimentos” da Fidelidade em diversos activos espalhados pelo mundo desde Maio de 2014, a Fidelidade realizou mais uma compra, de um palácio em Milão por 345 milhões de euros. Ou
seja, o aumento de capital previsto não parece de todo suficiente face à
dimensão dos investimentos realizados pela Fidelidade, por decisões do
novo accionista Fosun;
- A Fosun queixa-se do risco de ter demasiado dinheiro da Fidelidade depositado ou aplicado na CGD e em Portugal, facto que resulta do modelo regulatório existente.[1] Esta preocupação deve ser lida da seguinte forma. A Fosun pretende levantar o remanescente dos fundos Fidelidade aplicados na CGD e continuar a “investi-los” onde bem entende.
A
confirmarem-se as notícias sobre o aumento de capital da Fidelidade
acima referidas, a CGD irá ver reduzida a sua participação no capital da
Fidelidade e consequente capacidade de influenciar tais investimentos
perante a passividade total do Governo e, em particular, do Primeiro-Ministro, que faz reparos à CGD mas nada diz em relação à Fidelidade.
É, aliás, surpreendente que, não obstante preocupações com a “independência” do regulador (ASF), o Governo tenha conseguido manter silêncio absoluto sobre a Fidelidade desde que as notícias começaram a vir a público.
Não há ninguém que questione directamente o Governo sobre este assunto?
[1]
Se a Fidelidade reduzir as suas aplicações na CGD, fica com mais
“capital livre” disponível, na perspectiva do regulador, e pode, em
consequência, “investir mais” na compra de activos por esse mundo fora.
Tem lógica ... Isto é o futuro!!!!!
Sem comentários:
Enviar um comentário