Mário
 Soares visto pelo jornalista António Marinho (ex- Bastonário da Ordem 
dos Advogados, António Marinho e Pinto), no «Diário do Centro» de 15 de 
Março de 2000 (Licenciado em Direito, iniciou a sua carreira como 
jornalista, tendo exercido funções de direcção na ANOP - Agência 
Noticiosa Portuguesa, entre 1979 e 1986, e depois na Lusa, entre 1984 e 
1987. Foi assessor do Governo de Macau, entre 1987 e 1988, e voltou ao 
jornalismo, como redactor do Expresso, entre 1989 a 2006).
MÁRIO SOARES E ANGOLA
A
 polémica em torno das acusações das autoridades angolanas segundo as 
quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais 
beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela 
UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações 
grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos 
anos.
Espanta
 desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas 
do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do 
Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e 
Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores
 de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), 
pensadores profissionais, autarcas, «comendadores» e comentadores de 
serviço, etc.
Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel.
Sei
 que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não
 é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e 
do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente 
como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «Papa 
Doc» e «Baby Doc».
Vejamos então por que é que eu não gosto dele(s).
A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios mas sim fins.
É-lhe atribuída a célebre frase: «Em política, feio, feio, é perder».
São
 conhecidos também os seus zigue-zagues políticos desde antes do 25 de 
Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e de 
seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do
 que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se 
empenhava na luta contra o fascismo.
JÁ
 DEPOIS DO 25 DE ABRIL, ASSUMIU-SE COMO O HOMEM DOS AMERICANOS E DA CIA 
EM PORTUGAL E NA PRÓPRIA INTERNACIONAL SOCIALISTA. Dos mesmos americanos
 que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador 
Allende no Chile e que colocara no poder Augusto Pinochet.
Mário
 Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma 
outra pessoa o fizera durante a revolução e FOI AMIGO DE NICOLAU 
CEAUCESCU, FIGURA QUE CHEGOU A APRESENTAR COMO MODELO A SER SEGUIDO 
PELOS COMUNISTAS PORTUGUESES.
Durante
 a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de 
ordem «Partido Socialista, Partido Marxista», mas mal se apanhou no 
poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus 
governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de 
direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e 
essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram 
os salários em atraso.
INSULTO A UM JUIZ
Em
 Coimbra, onde veio uma vez como primeiro-ministro, foi confrontado com 
uma manifestação de trabalhadores com salários em atraso. Soares não 
gostou do que ouviu (chamaram-lhe o que Soares tem chamado aos 
governantes angolanos) e alguns trabalhadores foram presos por polícias 
zelosos. Mas, como não apresentou queixa (o tipo de crime em causa 
exigia a apresentação de queixa), o juiz não teve outro remédio senão 
libertar os detidos no próprio dia. Soares não gostou e insultou 
publicamente esse magistrado, o qual ainda apresentou queixa ao Conselho
 Superior da Magistratura contra Mário Soares, mas sua excelência não 
foi incomodado.
Na
 sequência, foi modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira 
alteração de que foi alvo por exigência dos interesses pessoais de 
figuras políticas.
Soares
 é arrogante, pesporrento e malcriado. É conhecidíssima a frase que 
dirigiu, perante as câmaras de TV, a um agente da GNR em serviço que 
cumpria a missão de lhe fazer escolta enquanto presidente da República 
durante a Presidência aberta em Lisboa: «Ó Sr. Guarda! Desapareça!». 
Nunca, em Portugal, um agente da autoridade terá sido tão humilhado 
publicamente por um responsável político, como aquele pobre soldado da 
GNR.
Em
 minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou 
melhor é muito democrata se for ele a mandar. Quando não, acaba-se 
imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o; 
tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que 
ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar
 ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações.
Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais.
Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais.
Soares
 é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima
 dos interesses políticos do partido e do próprio país.
Em
 1980, não hesitou em APOIAR OBJECTIVAMENTE O GENERAL SOARES CARNEIRO 
CONTRA EANES, NÃO POR RAZÕES POLÍTICAS MAS DEVIDO AO ÓDIO PESSOAL QUE 
NUTRIA PELO GENERAL RAMALHO EANES. E como o PS não alinhou nessa 
aventura que iria entregar a presidência da República a um general do 
antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu 
partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a 
manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte 
de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre como
 Francisco Salgado Zenha.
Confesso
 que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, 
lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual presidente da 
República – Cavaco Silva), apareceram agora tão indignados com as 
declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da 
publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário Soares. NA ALTURA TODOS 
METERAM A CABEÇA NA AREIA, INCLUINDO O PRÓPRIO CLÃ DOS SOARES, E NEM 
TUGIRAM NEM MUGIRAM, APESAR DE AS ACUSAÇÕES SEREM ENTÃO BEM MAIS GRAVES 
DO QUE AS DE AGORA. POR QUE É QUE JORGE SAMPAIO SE CALOU CONTRA AS 
«CALÚNIAS» DE RUI MATEUS?».
«DINHEIRO DE MACAU»
Anos
 mais tarde, um senhor que fora ministro de um governo chefiado por 
MÁRIO SOARES, ROSADO CORREIA, vinha de Macau para Portugal com uma mala 
com dezenas de milhares de contos. A proveniência do dinheiro era tão 
pouco limpa que um membro do governo de Macau, ANTÓNIO VITORINO, foi a 
correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora.
Parece
 que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários 
chineses com a promessa de benefícios indevidos por parte do governo de 
Macau. Para quem era esse dinheiro foi coisa que nunca ficou devidamente
 esclarecida. O caso EMAUDIO (e o célebre fax de Macau) é um episódio 
que envolve destacadíssimos soaristas, amigos íntimos de Mário Soares e 
altos dirigentes do PS da época soarista. MENANO DO AMARAL chegou a ser 
responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi durante anos 
responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja, pela 
angariação de fundos no estrangeiro.
Não
 haveria seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais 
confiança. Ainda hoje subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas 
pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos financiamentos 
vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos corruptores foram
 processualmente separados dos alegados corrompidos, com esta 
peculiaridade (que não é inédita) judicial: os pretensos corruptores 
foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos.
Aliás,
 no que respeita a Macau só um país sem dignidade e um povo sem brio nem
 vergonha é que toleravam o que se passou nos últimos anos (e nos 
últimos dias) de administração portuguesa daquele território, com os 
chineses pura e simplesmente a chamar ladrões aos portugueses. E isso 
não foi só dirigido a alguns colaboradores de cartazes do MASP que a 
dada altura enxamearam aquele território.
Esse
 epíteto chegou a ser dirigido aos mais altos representantes do Estado 
Português. Tudo por causa das fundações criadas para tirar dinheiro de 
Macau. Mas isso é outra história cujos verdadeiros contornos hão-de ser 
um dia conhecidos. Não foi só em Portugal que Mário Soares conviveu com 
pessoas pouco recomendáveis. Veja-se o caso de BETINO CRAXI, o líder do 
PS italiano, condenado a vários anos de prisão pelas autoridades 
judiciais do seu país, devido a graves crimes como corrupção. Soares fez
 questão de lhe manifestar publicamente solidariedade quando ele se 
refugiou na Tunísia.
Veja-se
 também a amizade com Filipe González, líder do Partido Socialista de 
Espanha que não encontrou melhor maneira para resolver o problema 
político do país Basco senão recorrer ao terrorismo, contratando os 
piores mercenários do lumpen e da extrema direita da Europa para 
assassinar militantes e simpatizantes da ETA.
Mário
 Soares utilizou o cargo de presidente da República para passear pelo 
estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que tanta 
austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto 
primeiro-ministro, gastou, como Presidente da República, milhões de 
contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com 
verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com destaque 
para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje se põem em 
bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos.
Enquanto
 Presidente da República, Soares abusou como ninguém das distinções 
honoríficas do Estado Português. Não há praticamente nenhum amigo que 
não tenha recebido uma condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto
 mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante o seu «reinado». Um
 dos maiores vultos da resistência antifascista no meio universitário, e
 um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo 
regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor, segundo 
Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram com o
 antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho 
só veio a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a 
Presidência da República, ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão 
foi só uma: Orlando de Carvalho nunca prestou vassalagem a Soares e 
Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações.
FUNDAÇÃO COM DINHEIROS PÚBLICOS
A
 pretexto de uns papéis pessoais cujo valor histórico ou cultural nunca 
ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu nome. Nada
 de mal se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal.
Mas
 não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. SÓ O GOVERNO, DE UMA SÓ
 VEZ DEU-LHE 500 MIL CONTOS E A CÂMARA DE LISBOA, PRESIDIDA PELO SEU 
FILHO, DEU-LHE UM PRÉDIO NO VALOR DE CENTENAS DE MILHARES DE CONTOS. Nos
 Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que 
as regras democráticas fossem minimamente respeitadas muita gente 
estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os próprios Mário e
 João Soares e as respectivas carreiras políticas teriam aí terminado. 
Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que respeitasse o
 dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco.
Se
 os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria
 entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o 
Centro de Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era 
preciso que Soares fosse uma pessoa com humildade democrática e 
verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram preocupações culturais 
que motivaram Soares. O que ele pretendia era outra coisa.
Porque
 as suas ambições não têm limites ele precisava de um instrumento de 
pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de 
intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares 
está a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia
portuguesa.»
O
 livro de Rui Mateus, que foi rapidamente retirado de mercado após a 
celeuma que causou em 1996 (há quem diga que “alguém” comprou toda a 
edição), está disponível em:portuguesa.»
 

 
 
 
 
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário