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terça-feira, 25 de março de 2014

Fim da UE ???


O manifesto português "pode ser um gatilho para a mudança na Europa"
O economista dinamarquês Bengt-Ake Lundvall, especialista em sistemas nacionais de inovação e "economias que aprendem", assinou o manifesto dos 74 pela reestruturação da dívida portuguesa, prevendo que se possa estar a chegar a um "momento político de rutura" na Europa.


"Podemos estar a aproximarmo-nos de um momento político de rutura em que a frustração generalizada entre os cidadãos europeus obrigue a uma direção política mais clara e construtiva", diz o economista dinamarquês Bengt-Ake Lundvall, que apoiou o Manifesto dos 74 pela reestruturação da dívida portuguesa, encarando-o como "um gatilho para a mudança" na Europa.
Para o professor do Departamento de Economia e Gestão da Faculdade de Ciências Sociais de Aalborg, na Dinamarca, e do Colégio Universitário de Sciences Po em Paris, a gestão da crise das dívidas soberanas desde 2010 pela orientação alicerçada na austeridade está a empurrar o "projeto Europa" para a sua liquidação.
"Deste modo, a única estratégia possível é propor o que parece estar fora do alcance. Sabemos que a História nos reserva sempre surpresas de vez em quando - esperemos por uma surpresa positiva", sustenta.

O que o levou a assinar o Manifesto português?
Principalmente porque as negociações por uma reestruturação da dívida portuguesa levantarão assuntos mais vastos relativos a mudanças na arquitetura económica e política da Europa - mudanças que eu vejo como necessárias para evitar que a próxima crise provoque um desastre completo para o projeto europeu. O Manifesto assinala também um protesto contra a ditadura do "mercado" e contra o que vejo como políticas erradas de austeridade na Europa.

O que significam exatamente "assuntos mais vastos" que estão para além do problema específico da dívida portuguesa?
Reestruturar a dívida portuguesa ou de outros países membros atualmente vítimas das políticas de austeridade não trará, por si só, as mudanças necessárias. Mas dá um sinal forte à elite europeia de que é preciso repensar o "projeto Europa".

Portanto, o Manifesto português é uma espécie de primeira jogada?
Pode tornar-se um gatilho para a mudança. Podemos estar a aproximarmo-nos de um momento político de rutura em que a frustração generalizada entre os cidadãos europeus obrigue a uma direção política mais clara e construtiva. Isso poderá tornar mais difícil para a elite política europeia catalogar como populistas todas as reações críticas à atual estratégia europeia. Exige que todos os que querem uma Europa que seja competitiva, democrática e justa vão para além dos interesses nacionais e comecem a trabalhar em conjunto por um "projeto Europa" diferente, onde a solidariedade internacional vão de mão dada com a proteção dos cidadãos mais fracos em cada país.

O que é que correu mal no "projeto Europa"?
A atual arquitetura europeia é disfuncional e isso foi auto-inflingido. Durante décadas, a estratégia da elite europeia foi avançar com a integração financeira e comercial sem avançar com a integração política e social. Os federalistas europeus iniciais julgavam que a integração económica seria seguida mais ou menos automaticamente pela construção de uma estrutura política. O passo mais arriscado dado foi a criação de uma união monetária que juntou debaixo de uma mesma moeda (o euro) economias com estruturas económicas muito distintas. Foi o ato mais extremo de pura fé e de jogo político por parte dos federalistas europeus. Portugal é uma das vítimas deste passo perigoso.

Em que sentido a crise financeira global, e depois a gestão da crise das dívidas dos periféricos do euro, agravou essa evolução?
Depois da crise de 2008 tornou-se ainda mais claro que a política económica europeia ficou subordinada ao "mercado" e que o que era considerada como a "política necessária" - por vezes apresentada como "o pacto de competitividade" - resultou numa ampliação, e não diminuição, das diferenças em bem-estar entre o Norte e o Sul da Europa.  Ora isto está em contradição direta com os fundamentos do projeto europeu.

A crise financeira global foi uma espécie de "teste de esforço" para o projeto europeu?
E a Europa não passou esse teste. A resposta de curto prazo foi insuficiente e deixou as nações mais vulneráveis e os cidadãos em situações precárias. Por outro lado, a estratégia de longo prazo - o tal "pacto de competitividade" -está em conflito com os princípios básicos do projeto europeu. Ainda que seja verdade que a União Europeia não se partiu com esta crise, também é verdade que a atual estratégia de longo prazo não a protege para a próxima crise.

O que é necessário para mudar o rumo?
Há elementos na Estratégia de Lisboa que podiam ter contrariado as diferenças estruturais e amortecido os efeitos da crise, como por exemplo a construção de uma economia socialmente coesa baseada na aprendizagem e com melhores empregos. Em vez disso, o dogma neoliberal marcou a agenda para a Europa e, agora, todos pagamos o preço.

Como é que se explica que as políticas de "austeridade expansionista" e de "desvalorização interna" capturaram a gestão da crise das dívidas soberanas dos periféricos desde a cimeira de Madrid de abril de 2010?
Houve uma mudança clara de direção no projeto europeu ainda muito antes disso. A "Estratégia de Lisboa" começou a ser diluída por volta de 2005. Repare, os que lançaram os fundamentos do projeto europeu depois da 2ª Guerra Mundial eram pragmáticos, quanto a filosofia económica. Estavam abertos ao planeamento governamental e à propriedade pública e tinham uma compreensão realista dos limites da economia de mercado pura. Esse pragmatismo foi, depois, minado quando a filosofia económica neoliberal se tornou dominante nas Universidades e nos Ministérios de Finanças. À medida que o neoliberalismo se apoderou gradualmente da Comissão Europeia, e sobretudo das suas direções económicas, desviou o projeto europeu.

Em suma, esse grupo radical 'apagou' o projeto europeu num momento crítico de crise?
De facto, é notável como os líderes europeus adotaram uma posição defensiva face à crise económica. É difícil imaginar uma situação que desse mais margem de manobra aos líderes europeus para mostrar aos seus cidadãos a utilidade de serem membros de uma comunidade europeia mais vasta. Numa situação similar, o presidente Roosevelt lançou nos Estados Unidos o 'New Deal' assinalando uma preocupação especial com o desemprego e com as regiões mais pobres do país.

O que aconteceu, então, na União Europeia?
Os líderes nacionais da União foram incapazes de avançarem com transferências orçamentais e acordaram, por isso, num conjunto de soluções temporárias e incompletas. Isso aconteceu em simultâneo com esse novo discurso político de indignação moral - com os políticos do Norte a falarem da corrupção no Sul como a principal causa da crise. A crise testou o projeto europeu e os resultados não foram lisonjeiros. Depois de cinco anos de crise, os indicadores económicos do rendimento e do emprego ainda permanecem em níveis abaixo dos imediatamente anteriores à crise.

Mas isso significa que uma iniciativa isolada em Portugal não é suficiente. É precisa uma iniciativa europeia?
Como disse no início desta entrevista, uma iniciativa de reestruturação de dívida pode resultar num abalo da atual ordem económica e política. O que é necessário é um repensar radical das relações entre a integração económica e a integração social e política. Precisamos de líderes europeus que sejam honestos e digam que uma integração económica sem uma integração política e social apenas gera mais desigualdade e instabilidade.

O que deverão fazer os líderes europeus?
Um sinal importante pode ser fazer uma paragem na integração económica enquanto a Europa começa a lançar alguns elementos de uma política de investimento social e orçamental comum. Pode começar com medidas modestas relacionadas com o salário mínimo e apoios ao desemprego. Também, programas europeus para melhorar as competências dos menos qualificados, desenvolver a flexisegurança (flexibilidade com segurança) no mercado de trabalho e sistemas de ensino aberto. Isso poderia dar o sinal de que a Europa pretende construir a competitividade na base da competência e não dos salários baixos. Investimentos "verdes" também mostrariam que a Europa toma em linha de conta a sobrevivência da próxima geração.


Mas isso é politicamente realizável no atual contexto europeu?
O que parece ser realizável hoje em dia está a levar-nos para muito próximo do fim do projeto europeu. Deste modo, a única estratégia possível é propor o que parece estar fora do alcance. Sabemos que a História nos reserva sempre surpresas de vez em quando - esperemos por uma surpresa positiva.

"Estes homens estiveram frente a frente, tinham o dedo no gatilho e não dispararam"


Alfredo Cunha tinha 20 anos e era fotógrafo no Século há três. Adelino Gomes tinha 29 e estava proibido pelo regime de trabalhar para a Rádio Renascença. Passaram o dia 25 de Abril de 1974 ao lado um do outro, na rua, sem se conhecerem.
Adelino Gomes e Alfredo Cunha, autores de Os Rapazes dos Tanques JOANA BOURGARD
A história dos vencedores do 25 de Abril é contada desde 1974, mas a dos derrotados – que chegaram ao Terreiro do Paço para defender o regime – só agora começa a ser revelada, 40 anos depois e pela primeira vez com ambição.
No livro Os Rapazes dos Tanques, de Alfredo Cunha (fotografia) e Adelino Gomes (texto), lançado esta terça-feira, às 18h30, no Torreão Poente, no Terreiro do Paço, onde tudo começou, os dois jorrnalistas revelam algumas das histórias destes oficiais, furriéis, cabos e soldados, os homens do “outro lado”. "É um acto de justiça”, diz o jornalista. Os dois trabalham há anos sobre a revolução, mas só se conheceram em 1990, na redacção do PÚBLICO, onde ficaram amigos. Este é terceiro livro que fazem juntos.
Quarenta anos depois do 25 de Abril, o vosso livro “dá” uma notícia: a identidade do mítico cabo apontador querecusou disparar do seu tanque contra a coluna de Salgueiro Maia. Andavam à procura deste homem há 40 anos?
Adelino Gomes – Andámos 39 anos a ouvir falar dele. Várias vezes, como jornalista do PÚBLICO, tentei encontrá-lo, mas ninguém o conhecia. Quando decidimos fazer o livro, pensámos: é agora ou nunca. E encontrámo-lo.
Quanto tempo demorou?
Alfredo Cunha – Andámos um ano à procura dele e três meses desde o momento em que soubemos quem ele era.
Logo na noite do 25 de Abril, o alferes Fernando Sottomayor, o primeiro militar do regime que recusou disparar contra os revolucionários, contou a história: “E houve aquele cabo que não disparou…” Porque é que nunca se encontrou este homem?
A.C. – Acho que nunca se procurou bem.
A.G. – Não podemos esquecer que depois veio o PREC e isto desvaneceu-se. Ficou como mito. Catorze anos depois do 25 de Abril, há uma belíssima entrevista do Salgueiro Maia ao Fernando Assis Pacheco em O Jornal na qual ele próprio já efabula um pouco e já conta uma história e diz: “Foi aqui que se ganhou o 25 de Abril.”
O cabo apontador tem noção de que é visto dessa forma, ele leu essa entrevista?
A.C. – Não, ele não tinha a noção da importância que lhe era atribuída.
A.G. – Julgo que ele sempre soube que tinha feito uma coisa muito importante, mas que, perante si mesmo, desvalorizou. A superioridade dele está no facto de nunca se ter posto nos bicos dos pés. Acho que ele também teve prazer nisso.
Ele mesmo recusou louvores.
A.G. – Sim, ele diz que quando, na noite do 25 de Abril, começou a constar no regimento de Cavalaria 7 da Ajuda que “houve um cabo que disse ‘não’ ao brigadeiro Junqueira dos Reis [2.º comandante da Região Militar de Lisboa e o único oficial general que veio para a rua defender o regime], o foram buscar e disseram: “Conta lá a história.” Ele contou e disseram: “Eh pá, tu tens de ter um louvor!" E há um que se oferece logo para escrever. E ele diz: “Deixai-me ir em paz. Não quero louvor, quero-me ir embora.”
É um clássico anti-herói: não quis reconhecimento, não é politicamente engagé, nunca cantou a Grândola, nunca participou nas comemorações do 25 de Abril...
A.C. – Ele é um minhoto típico. É muito cuidadoso, tudo é feito com muita precaução, tudo é feito a pensar nas consequências. Foi um herói, mas um herói cauteloso.
A.G. – Cauteloso mas decidido. Quando toma uma decisão, assume as responsabilidades.
Cedo há uma dinâmica de vitória do lado do Maia e cedo há uma dinâmica de derrota do lado do regime
Adelino Gomes
Com a tal “astúcia camponesa” de que falam no livro...
A.G. – Sim.
Ele nunca chega a dizer um “não” frontal ao brigadeiro Junqueira dos Reis que dá a ordem de fogo.
A.G. – É a melhor forma de enfrentar o brigadeiro. Se ele dissesse: “Eu não cumpro a ordem!”, havia para li um tiroteio. Ele diz: “Vou ver o que é que se faz”, e derrota completamente o brigadeiro. Com astúcia, com sageza. Perante o superior, derrota-se pela astúcia – não é preciso começar aos murros. Ou és como o David: tens uma fisga, vem o gigante e tocas no ponto. Ele tocou no ponto.
E como foi o encontro? Bateram a que portas?
A.C. – Eu fui várias vezes a Balazar. Sabíamos que havia um cabo apontador chamado José Alves Costa, que vivia em Balazar, mas não havia a morada. Várias pessoas com quem tinha falado sabiam vagamente e diziam: “Ah, conheço, venha cá tal dia…” Mas não havia nem sim, nem não. Falei duas ou três vezes com o presidente da junta de freguesia. Hoje estou convencido de que ele me ocultou mesmo, que não me quis dizer.
Porquê?
Não sei.
O cabo não queria ser encontrado?
A.C. – Sim, talvez não quisesse.
Mas como chegaram a Balazar?
A.G. – Começámos pelo Arquivo Geral do Exército, em Chelas, e fizemos um levantamento da lista completa dos homens que, depois do 16 de Março, vieram de Santa Margarida para a Ajuda para reforçar [o regime], ou seja, os cerca de 30 homens dos cinco tanques. As listas só tinham os nomes e à frente a especialidade: apontador, condutor... Depois, fomos ver quando é que eles tinham saído da tropa, para saber as regiões. Nas listas só está: José F. Costa. Vítor J. Rocha. O que é que isto nos diz? Depois, foi preciso ver em 1975 ou 1976 e tentar descobrir as ordens de serviço de saída. Andámos à procura, a catar, a catar, uma a uma. Deste levantamento, escrevi cartas, fui a algumas moradas. Uma vez fui à Pontinha e aproximei-me de uns homens, mais ou menos da minha idade, que jogavam às cartas. “Os senhores conhecem um homem chamado tal e tal?” Eles olharam-me com desconfiança. “Eu não sou fiscal das Finanças.” "Pois não, o senhor é o Adelino Gomes." Era um antigo condutor da Carris, que me conhecia do 25 de Abril. E ajudaram-me a procurar o tal homem. Não conseguimos. Vim a concluir mais tarde isto: como eles saíram durante o PREC, com a astúcia camponesa própria destas pessoas, num momento em que não se sabe como vão as coisas correr, provavelmente alguns deram moradas falsas. A verdade é que escrevi umas dez cartas e quase todas vieram devolvidas.
Essas cartas foram todas à procura do cabo José Alves Costa?
A.G. – Não só dele. Andámos à procura de várias pessoas. Há pelos menos dois cabos apontadores com quem não falámos. Um deles não quis falar. Não quer falar com a família, não quer falar com ninguém. Naquele momento, a seguir à revolução, há alguma desconfiança. Eles pensam: safei a pele, não matei ninguém, vou para casa.
Ele recebeu-vos com um “finalmente apanharam-me”?
A.C. – Não. Ele ficou satisfeito, surpreendido mas agradado. E houve uma reacção dos que estavam ao lado dele no café: “Ah é mesmo verdade!” E ele: "Eu não vos disse?” Depois pediu para sairmos dali. “Vocês não acreditaram em mim, agora não ouvem a história.”
Ligou logo para o Adelino?
A.G. – Sim e eu disse: não lhe faças pergunta nenhuma para ele não começar a inventar, para não estar a elaborar um discurso.
Porque é que teve esse cuidado?
A.G. – Já fiz muitas destas entrevistas e sei que há efabulação.
O nosso livro não conta a verdadeira história do 25 de Abril. Conta a história de um conjunto de homens que estiveram frente a frente no dia 25 de Abril, através da memória que eles guardam desse dia, e a quem pedimos que nos dissessem como vêem Portugal 40 anos depois
Adelino Gomes
Este antigo cabo nunca tinha sido entrevistado?
A.C. – Ele mal tinha contado à mulher! Ele é um homem muito sólido. Disse sempre a mesma coisa. Já apanhei vários militares em várias contradições. As pessoas tendem a dourar a pílula. Ele não.
A partir deste ponto do vosso trabalho, começaram a juntar os outros homens dos tanques, os que estavam no Terreiro do Paço para defender o regime. Como foi esse encontro?
A.G.  Todos aceitaram, menos um, por razões circunstanciais. Juntámo-los e eles não se conheciam. Fomos nós que os apresentámos, alguns eram camaradas que no 25 de Abril tinham estado dentro do mesmo carro de combate. Ficámos muito impressionados com isso. Há muitas falhas nas memórias e daí também as contradições. Há coisas de que eles não se lembram mesmo. Fizemos como se faz numa reunião: alugámos uma sala no Inatel da Foz do Arelho e pedimos ao alferes Sottomayor para desenhar os quatro tanques no Terreiro do Paço num grande quadro na parede. E tentámos fazer a reconstituição das tripulações.
Quem estava onde, a que horas, a fazer o quê.
A.G. – Sim. Há duas ruas: quem estava em que rua e quem estava em cada um dos tanques? Não conseguimos! Mesmo ali, com todos juntos. Não se lembram. É tão traumático…
Como é que eles não se lembram se estavam ao pé do rio ou do outro lado?
A.G. – O máximo é isso. Mas os tanques não estiveram sempre no mesmo sítio... Eles não se lembram quem estava dentro dos tanques com eles. Há um dos condutores que diz que viu o brigadeiro Junqueira Reis a apontar a pistola. "Quem era esse fulano?", perguntámos. "Não sei, só sei que era mais velho, era da incorporação de 1972." Imagine como trabalha a memória. Foi por ali que comecei a achar que talvez fosse ele o cabo que procurávamos há tantos anos. Mas é importante dizer que eu próprio, jornalista que ando com estas coisas, dou por mim a não ter a certeza de coisas que penso que vi no 25 de Abril. E já me contaram episódios desse dia que eu diria que fui eu que fiz!… Nós vamos incorporando os discursos uns dos outros.
Os soldados de Santarém, que vieram com Salgueiro Maia, também se esqueceram de muitas coisas. Mas normalmente onde encontramos as contradições é na efabulação, não num quadro numa parede. E porquê? Porque a história dos homens de Santarém está contada desde o primeiro dia, no relatório de Salgueiro Maia. Ora, estes homens não têm relatório. Os vencidos não fizeram relatório, até porque aquelas pessoas, os comandantes, foram presas. Não se conhece um relatório da derrota.
A historiografia já não é só sobre os reis e os vencedores, já é sobre os pobres, os derrotados…
A.G. – Nós estivemos a tentar um bocado fazer isso. Salgueiro Maia contou a história oficial, o seu relatório é a fonte primeira. Os jornalistas que lá estavam contaram também. Depois vieram os historiadores. Essa história está contada. O que acontece nestes homens não é estarem a inventar: é meterem-se em algumas histórias. E alguns contam coisas que são incompatíveis com outras.
Estes homens, os que perderam, sentem-se os derrotados? Sentiram isso quando os reuniram na mesma sala?
A.G.  Não, nenhum! Nenhum. Pelo contrário. Alguns dizem mesmo: “Se não fôssemos nós, não teria havido aquele 25 de Abril como houve.”
Eles têm orgulho e consciência de que a sua sensatez foi crucial no 25 de Abril?
A.G. – Sim, só não sei desde quando. Há os que aderiram e têm orgulho. E há o cabo apontador Alves Costa que diz sempre: “Eu não aderi.“
Eles são derrotados, mas são ambíguos…
A.G. – Eles estão orgulhosos – e justamente. Acham que, se quisessem, tinham derrotado o 25 de Abril. Não derrotaram e têm muito orgulho nisso.
Mas não se encontraram uma única vez ao longo de 40 anos...
A.G.  Os outros também nunca os chamaram, se calhar. Não sei. Não me interessa isso. Mas há uma altura, quando eles viram a alegria das pessoas na rua, em que eles passaram todos a ser vencedores.
O vosso livro está cheio de emoções: homens tensos, homens com medo, homens que choram, homens que rezam. Nesse reencontro esse lado reapareceu?
A.G. – Não, os homens que rezam são os vencedores.
Porquê?
A.C. – Porque estiveram muito em perigo, sabiam que os outros os podiam matar a qualquer momento. Há um que nos disse: “Quando ouvi a ordem de fogo [dos tanques do regime], despedi-me da vida.” Eles dizem: “Se nós disparássemos, era o fim do mundo.” Nem se imagina o poder de fogo de uma arma daquelas. Seriam uma cratera de 100 metros. O Terreiro do Paço ficaria desfeito.
Naquela manhã, há pelo menos cinco homens que recusam disparar contra as tropas revolucionárias. Eles aperceberam-se logo disso?
A.G. – Foi imediato. A certa altura, dois dos carros de combate do regime passam para o outro lado e o brigadeiro Junqueira dos Reis já quer que os seus homens disparem contra esses tanques. O brigadeiro acaba por perder toda a adesão. Eles tiveram a sensação de que os outros já eram vencedores. Os outros foram cedo vencedores. De tal maneira que o Maia diz ao Otelo, lá para a cima [posto de comando da Pontinha]: “Eh pá, já não estou aqui a fazer nada.”
E [Salgueiro Maia] disse: "Se você for do contra, é connosco. Se for a favor, é ali com os outros, do outro lado."
Alfredo Cunha
Que horas eram?
A.C. – Por volta das 11h30.
A.G. – Cedo há uma dinâmica de vitória do lado do Maia e cedo há uma dinâmica de derrota do lado do regime: perdem o alferes Sottomayor, que é preso; o brigadeiro Junqueira dos Reis dá as célebres estaladas ao capitão Alfredo Assunção [do lado de Maia]; vem um militar do regime e diz-lhe: “Ó meu brigadeiro, o senhor está muito exaltado…” E perdem metade da força.
No Tejo, também na Gago Coutinho uns militares não cumpriram as ordens de Seixas Louçã. No total, houve quantas desobediências? E é importante sabermos isso?
A.G. – O nosso livro não é sobre este cabo. É sobre estes homens que estiveram frente a frente. A história grandiosa é a dos homens de Salgueiro Maia, que vieram com menos homens, menos força e que derrotaram sucessivamente todos os que lhes apareceram pela frente, sempre numa posição de inferioridade. Com astúcia, com camaradagem. O livro tem 32 histórias e é sobre os homens da Cavalaria que, naquele microcosmo – entre o Terreiro do Paço e o Largo do Carmo – estiveram frente a frente, que tinham o dedo no gatilho e não dispararam.
São revolucionários sensatos, parece um paradoxo…
A.G.  Primeiro é-se revolucionário, depois é-se sensato. Primeiro é preciso avançar, sem medo. E depois, no acto da revolução, ele procura a sensatez.
A.C. – Os oficiais de Santarém tinham experiência de guerra. Quando havia tiros de metralhadora, o Maia dizia: “São fogachos.” Nem se baixava.
Não é difícil imaginar que tudo teria sido muito diferente, se tivesse havido um primeiro tiro…
A.G. – No livro há dois homens, os então capitão Garcia Correia e Joaquim Bernardo, que contam, com grande minúcia, como estava tudo preparado para, caso começasse a correr mal em Lisboa, irem a meio caminho buscar o Maia e entrincheirarem-se em Santarém. Ocuparam a PIDE, a GNR, a câmara municipal, a água e a luz. E ficavam ali até outras tropas se sublevarem. Era o Plano B. para garantir que se salvava a ideia da revolta.
Estamos a falar de soldados com enorme sensatez, de um lado e de outro, porque do lado de Salgueiro Maia também se desobedeceu a ordens para disparar. Como jornalistas, aperceberam-se disso naquele dia?
A.C. – Apercebi-me que houve ali bom senso e que não houve precipitação. Mas o regime caiu porque tinha mesmo de cair. Se analisarmos o golpe do ponto de vista militar, ali, no Terreiro do Paço, eles não tinham a mínima hipótese de vencer. Houve inteligência, estratégia e heroísmo por parte de Salgueiro Maia e dos seus homens, que souberam dar a volta aos que tinham a força. Usaram subtileza, souberam falar com eles. Eles eram todos de Cavalaria, eram todos “rapazes dos tanques”, que se conheciam. “Então eu durmo com ele na mesma camarata e agora vou disparar…". E, com isso, o Maia foi ganhando tempo. Isto ainda dura uma hora e tal. Ganhou élan e ascendente psicológico sobre eles.
Nunca senti hostilidade nenhuma, nem entre eles, nem connosco. Quando eu cheguei lá, não sabíamos quem era aquela gente, nem eles quem nós éramos – e sabia-se que os pides andavam na rua. Naquelas primeiras horas era preciso cuidado. Só quando o Salgueiro Maia me dá um raspanete, é que eu percebi o que era. Eu estou a fotografar meio escondido e ele diz: “Ó homem, ponha-se visível. Não ande escondido, porque isto é para haver liberdade.”
Ele usou logo essa palavra?
A.C. – Logo. E disse: "Se você for do contra, é connosco. Se for a favor, é ali com os outros, do outro lado." A partir daí andei sempre atrás dele.
A.G. – De um lado havia um homem com uma capacidade de liderança, carismático, que traz 200 homens, a quem explicou – ele e os seus homens – o que vinham fazer a Lisboa. Eles sabiam que vinham fazer um golpe, uma mudança – alguns até nos dizem: “Vínhamos acabar com a guerra do Ultramar.” Eles vêm atrás de um homem em quem confiam. Eles conheciam os seus chefes. Havia uma unidade. Do outro lado, alguns nem nunca tinham visto o brigadeiro Junqueira Reis. Havia uma distância.
A.C. – Eles eram reforços que tinham sido enviados para Lisboa…
A.G. – O único que tinha alguma liderança, que tinha vindo de Santa Margarida, é preso imediatamente pelo brigadeiro. Portanto, os furriéis, os alferes, os cabos, todos ficam sem chefe. Esta é uma razão absolutamente essencial para que de um lado haja a vitória e do outro o desmoronamento de uma força. Eles não vêm para coisa nenhuma. No dia 25 de Abril, o regime já estava a perder. Eles não vêm salvar o regime. Não vêm por um ideia, nem atrás de um homem. O que resta, o brigadeiro, anda para aí aos gritos a mandar dar tiros. Eles vêm numa acção de polícia. Os outros vêm com um ideal, mesmo que não fosse o mesmo para todos.
A.C. – A força do Maia está numa frase que um oficial disse, um homem de direita e conservador: “Eu, com o Maia, ia para todo o lado.”
O que é que ele tinha?
A.C.  Carisma.
Esse carisma revela-se como?
A.C.  Porque é que eu escolhi este homem para fotografar? A certa altura, vejo um tipo novo, com bom aspecto, que se movimentava por todo o lado a dar ordens a majores, a tenentes-coronéis, a toda a gente. Eu percebi: "Este é o chefe." E, quando ele me dá aquela reprimenda, percebi: "Este é mesmo o chefe." É isso que me põe atrás dele. Eu fotografo-o no Terreiro do Paço, na Ribeira das Naus, a correr à beira dos tanques… Andei sempre atrás dele. Ele sempre sereno, sem tensão.
Teve medo?
A.C. – Tive, tive medo. Houve uma altura, quando houve tiros, que me escondi atrás de umas obras do Banco de Portugal.
A esta hora, onde é que o Adelino estava?
A.G. – Eu não vi nada disto. Quando cheguei, já tudo tinha acontecido. Não vi nada. Cheguei às 10h30. Eles não deixavam ninguém passar. Eu nem tinha um gravador e estava sem carteira profissional porque estava proibido de trabalhar na rádio [Renascença]. Só consigo passar porque endromino um soldado. Fui para o meio do Terreiro do Paço e perguntei ao primeiro tipo que vi, o fotógrafo Carlos Gil: “O que se passa?” Quando cheguei e vi capacetes por todo lado, pensei: “Vamos lá a ver se são dos bons ou dos maus, se são dos capitães ou do general Kaúlza de Arriaga. Ao olhar para aquilo fiquei receoso. Porque eram todos de Cavalaria e a Cavalaria era uma arma tida como mais conservadora. E sabia-se que se o Kaúlza fizesse um golpe, as forças que o apoiariam seriam pára-quedistas, Força Aérea e, eventualmente, Cavalaria.
Quando falo com o Carlos Gil ele diz: “Não faço ideia. Mas porque é que não perguntas àquele tipo que está a mandar nisto?” “Quem é?” “É um capitão, chama-se Maia.” E eu vou ter com o Maia. Mas como eu conhecia o Maia, porque tinha andado com ele no liceu, eu vou como colega: “Ó Maia, de que lado é que estás?” “E ele responde: "Tu não tiveste um problema qualquer que te obrigou a ir para o estrangeiro?” Não nos víamos desde o 7.º ano do liceu. E ele dá-me uma resposta extraordinária, que é, para mim, o meu 25 de Abril: “Nós estamos a fazer isto para que ninguém tenha de ir para o estrangeiro por causa daquilo que diz ou daquilo que faz.” Dei-lhe um abraço, ele foi à sua vida e eu juntei-me aos jornalistas.
Durante algum tempo, até as forças saírem para o Carmo, fui uma espécie de go-between. Acontecia alguma coisa e vinham-me pedir: “Vai lá perguntar ao teu amigo…” Por volta das 11h, eles começam a levantar o dispositivo. E eu fui lá perguntar: “Ó Maia, o que é estás a fazer?” E ele: “Estou a dividir a coluna em duas partes: uma vai para a Penha de França, a outra para o Largo do Carmo." “E tu para onde é que vais?”, “Vou para o Carmo porque deve lá estar o Presidente da República e o presidente do Conselho.”
Há uma candura em tudo isso, com Salgueiro Maia a revelar a estratégia…
A.G. – É que ele não está a falar com o repórter, está a falar com o colega de liceu. “Então e tu não arranjas um carro para os jornalistas?” E ele dá a ordem: “Arranja um carro para os jornalistas!” E vai-se embora.
Foi aí que passou a jornalista em acção?
A.G. – Não. Subi para o carro dos jornalistas, mas não tinha nada comigo. Nem caderno, nem gravador. Mas quando a coluna avança, vêm uns tipos a correr. Eram dois repórteres do programa Limite, da Rádio Renascença, o que tinha posto a Grândola, Vila Morena no ar. O Carlos Albino, um jornalista do República, sem dizer que no dia a seguir ia haver um golpe, tinha dito: “Vocês amanhã estão no Terreiro do Paço às 6h." E eles lá estavam: o Paulo Coelho e o Pedro Laranjeira. E andavam por lá a trabalhar, até me entrevistaram, a mim, um jornalista desempregado, a pedir uma opinião. Aí, comecei a ficar nervoso. “Gostava mesmo de fazer reportagem”, pensei. E como eles não estavam em directo, calavam-se muitas vezes, iam à Renascença levar as bobines, no Chiado. A certa altura disse-lhes, com muita humildade: “Vocês não me deixam fazer um bocadinho de reportagem?” Eles foram generosíssimos. “Claro!” E passaram-me o microfone. Até fui um bocado egoísta, porque eu estou muito na reportagem, a certa altura não me controlei. Mas fui repórter pela generosidade de dois jornalistas.
E o Alfredo, como é que chegou ao Terreiro do Paço?
A.C.  Eu morava na Amadora, com a minha mãe e os meus irmãos. Tinha vindo de uma festa, eram umas 4h, e o meu irmão, que estava a ouvir um disco novo, o Riders on the Storm, dos Doors, chamou-me para eu ouvir. Estávamos nisto, quando a minha mãe nos chamou a dizer que estavam a passar na rádio comunicados a pedir para a população não sair à rua. E nisto o Mário Zambujal, que era o chefe de redacção do Século, telefona e diz: “Vem para a redacção, está a haver um movimento militar e não sabemos o que é.” Telefonou-me a mim e a toda a gente do jornal. Cheguei ao Século e ele disse: “Vão para o Terreiro do Paço, mas passem pela António Maria Cardoso [sede da PIDE]." Recomendou cuidado e deu-me vinte escudos: "Para o caso de acontecer alguma coisa e precisarem.” Ele era uma espécie de Salgueiro Maia da redacção do Século, não havia impossíveis. Na redacção, houve alguém que perguntou: “E se é perigoso?” E ele: “Sabes lá se é perigoso! Se não fores lá, não sabes se é perigoso!”
Ainda há coisas importantes para contar?
A.G. – Sim. Temos muitas dúvidas, isso vê-se no livro. O nosso livro não conta a verdadeira história do 25 de Abril. Conta a história de um conjunto de homens que estiveram frente a frente no dia 25 de Abril, através da memória que eles guardam desse dia, e a quem pedimos que nos dissessem como vêem Portugal 40 anos depois. É um conjunto de narrativas de homens, que hoje têm entre 60 e 70 anos, de uma geração que ajudou a arrancada de um capítulo que alguns pensam que precisa de ser reaberto ou reescrito. É uma homenagem a esses homens.
Mas ficaram coisas por esclarecer nos episódios que os nossos entrevistados descrevem (muitas vezes dando versões diferentes e até contraditórias) e cujo esclarecimento talvez se encontre noutros oficiais, sargentos e cabos com quem não chegámos à fala. Houve pessoas que não quiseram falar connosco, houve pessoas que não encontrámos, há coisas que seria bom saber, há coisas que ainda que vale a pena revisitar.
Não encerrámos a investigação sobre o 25 de Abril.
Depois do esforço do PÚBLICO em ouvir todos os homens da coluna vencedora de Salgueiro Maia [em 1999], nunca, como agora, tinha havido um esforço tão abrangente para ouvir aqueles que estavam do outro lado, nem em ouvir pessoas tão humildes. Em vez de nos concentrarmos sempre nos capitães, fomos também aos furriéis e aos soldados que nunca ninguém tinha ouvido. Talvez isso não dê mais rigor à história, mas dá vozes mais próximas das pessoas. Não é a visão do militar profissional, há muitos milicianos, é um pouco o povo que está aqui, são pessoas humildes, o cabo, o condutor. Não tem representatividade. São os que estavam ali e os que nós encontrámos. [Os dos quatro carros de combate] eram 20 a 25. Desses, ouvimos nove. Não encontrámos mais nenhum.
A.C. – E são os “rapazes dos tanques”.



domingo, 23 de março de 2014

Morreu Adolfo Suárez

Adolfo Suárez, que sofria de Alzheimer há mais de uma década, morreu hoje, aos 81 anos, no hospital em Madrid onde tinha sido internado por causa de uma infeção respiratória.O anúncio oficial foi feito pelo porta voz da família, Fermín Urbiola.
"Por expresso desejo da família, venho comunicar que Adolfo Suárez morreu. Muito obrigado pelo vosso carinho", disse Urbiola aos jornalistas, à porta do hospital onde Suárez estava internado.
Figura crucial da transição da ditadura de Franco para a democracia, Adolfo Suárez foi nomeado pelo Rei Juan Carlos para assumir a chefia do Governo em 1976, sendo confirmado nas urnas nas primeiras eleições democráticas, em 1977.
Primeiro-ministro até 1981, não se recordava do papel que tinha desempenhado, por causa da doença neurológica degenerativa de que sofria há 11 anos.









sábado, 22 de março de 2014

Governo de Portugal garante que vai cortar nas subvenções vitalícias dos políticos, sem excepção

Governo de Portugal garante que vai cortar nas subvenções vitalícias dos políticos, sem excepção

Governo garante que vai cortar nas subvenções vitalícias dos políticosCorte de 10% nas pensões do Estado acima de 600 euros ilíquidos deixaram de fora juízes, diplomatas, reformados da Caixa Geral de Depósitos e as subvenções de antigos titulares de cargos políticos. Neste último caso, o ministro Poiares Maduro assegura que não vai haver excepção.
As subvenções vitalícias dos políticos também vão ser alvo de cortes, garantiu esta sexta-feira o ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional.
“O que eu quero aqui assegurar é que, obviamente, o Governo ajustará as subvenções vitalícias dos políticos de forma equivalente aos sofrimentos, dificuldades e aos sacrifícios que são pedidos a todos os portugueses. Isso ocorrerá, seguramente”, afirmou Miguel Poiares Maduro.
À margem da tomada de posse de Emídio Gomes enquanto presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), no Porto, o ministro indicou a dimensão dos cortes nem quando entrarão em vigor.
Poiares Maduro explicou que o regime das subvenções vitalícias dos políticos, como não faz parte do regime geral da aposentação, ”nunca poderia ser discutido, tratado, no quadro desta legislação, nem na negociação social a que ela diz respeito”, isto na semana em que o Governo propôs cortes nas pensões dos funcionários públicos.
O ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional também sublinhou que estas subvenções são apenas aplicáveis a pessoas que exerceram cargos políticos até 2005.
Na quinta-feira, o Ministério das Finanças já tinha deixado em aberto a possibilidade de cortar nas subvenções, tendo esclarecido que o facto de a proposta de lei que corta até 10% nas pensões do Estado acima de 600 euros não abranger as subvenções não significava que estas ficassem a salvo de reduções.
Esta terça-feira, o secretário de Estado Hélder Rosalino anunciou que as pensões de aposentação, de reforma e de invalidez dos ex-funcionários públicos acima de 600 euros ilíquidos vão sofrer um corte até 10%. A medida abrange as pensões que já estão a ser pagas, ainda que haja nuances relativamente à fórmula a aplicar.
De fora da proposta do corte de 10% anunciada pelo Governo ficaram os juízes, os diplomatas, os reformados da Caixa Geral de Depósitos e as subvenções de antigos titulares de cargos políticos. Neste último caso, e segundo o ministro Poiares Maduro, não haverá excepção.

Comissão de inquérito....

Comissão de inquérito Parlamentar vai investigar submarinos mas estende a negócios militares a oito ministros do PS

Militares
Maioria PSD/CDS e PS chegaram a acordo e avança a comissão de inquérito aos submarinos, mas investigação foi alargada a contratos militares das eras socialistas, com oito ministros do PS envolvidos
A comissão parlamentar de inquérito aprovada ontem no parlamento era para se cingir à aquisição de dois submarinos e 260 veículos blindados Pandur, atingindo decisões do então ministro da Defesa Paulo Portas. Mas a maioria desafiou o PS a alargar o âmbito da comissão e o projecto acabou por abarcar sete contratos realizados nos últimos 15 anos. Dos dez ministros que estiveram na pasta neste período, sete foram em governos PS.
A negociação de um texto que a maioria pudesse viabilizar teve fumo branco na quinta-feira à noite, com o PS a aceitar também fiscalizar “o processo de negociação e execução dos contratos de fornecimento e de contrapartidas” dos helicópteros EH 101, dos torpedos para os submarinos (entretanto cancelado), das aeronaves C-295 e ainda da modernização de aeronaves P-3C Orion e dos F-16 – negócios decididos ou executados por governos socialistas e que, em comum com os submarinos e os blindados, têm o facto de terem sido fechados com base em contrapartidas para o Estado português.
O texto do projecto socialista que foi aprovado ontem na Assembleia da República, com o voto favorável de todas as bancadas, aponta como principal argumento para este inquérito que “a execução dos contratos de contrapartidas ficou aquém da que foi inicialmente prevista” (ver texto ao lado). A comissão de inquérito deixa de fora a análise à aquisição de targeting pods para os F-16, que tem uma taxa de execução de 78%, de acordo com o Relatório Anual de Contrapartidas de 2013, da responsabilidade da Direcção-Geral das Actividades Económicas, tutelada pelo Ministério da Economia. Mas entre os sete contratos que serão avaliados pelos deputados constam dois com taxas de execução de contrapartidas superiores a 100% – a modernização de aeronaves e dos F-16, executadas em 2007 e 2006, respectivamente.
AUDIÇÕES As audições de responsáveis governamentais são praticamente incontornáveis, apesar de nenhuma das bancadas dizer já o que pretende fazer. Uma coisa é certa: a presidência da comissão de inquérito será do CDS, com Telmo Correia a assumi-la. Uma ironia, já que é o nome do líder do partido, Paulo Portas, que salta quando o assunto é submarinos e Pandur – as adjudicações mais polémicas, decididas quando esteve na Defesa, entre Abril de 2002 e Julho de 2004. Em reacção a esta iniciativa do PS, Portas até começou por dizer que, “quando há eleições, os submarinos emergem; passam as eleições, submergem”.
“A proposta da maioria era irrecusável”, diz ao i Nuno Magalhães, “se a intenção não era fazer chicana política.” No PSD, a vice-presidente da bancada Mónica Ferro acrescenta que “havia tentativa de partidarizar este inquérito, limitando- -o a duas compras feitas por uma maioria PSD/CDS”. “Se o que está em causa é a forma como os contratos e as contrapartidas foram negociados, a exigência era fazer sobre todos os contratos, e não apenas sobre dois”, argumenta. Mas a maior polémica recai mesmo sobre os submarinos, com dois processos na justiça: um sobre as contrapartidas (que teve veredicto em Fevereiro) e outro sobre a aquisição (que corre há sete anos).
A delicadeza do tema levou mesmo a que o acerto de posições entre maioria e socialistas fosse levado às respectivas lideranças partidárias. “Se se pode fazer de forma consensual, então faça-se”, diz ao i o deputado do PS José Junqueiro. Se a comissão chumbasse, o PS ponderava utilizar o direito potestativo, ou seja, bastava reunir 46 deputados para que fosse obrigatória a constituição do inquérito parlamentar.
Por saber está o timing para o arranque da comissão, já que, neste momento, estão duas a funcionar (Camarate e Estaleiros de Viana). A capacidade de resposta por parte dos grupos parlamentares mais pequenos fica posta em causa e há um entendimento da conferência de líderes de não fazer sobrepor três inquéritos. A decisão será tomada na próxima reunião de líderes parlamentares.

Vistos para classe corrupta

http://www.publico.pt/n1629301

sexta-feira, 21 de março de 2014

01 de Setembro de 1939 "Invasão da Polónia"







Carta a Belmiro


Convém ler, reler, reencaminhar, dizer impropérios, sim esses mesmo, etc, etc.!
 
Li no insuspeito (neste caso) Correio da Manhã, a seguinte afirmação do Eng Belmiro: "Só sou exigente com os mandriões e trabalhar não mata. Estar quieto é que provoca obesidade"
Junto carta que lhe foi endereçada por um antigo seu camarada da UDP !!! Sim porque no período do PREC o oportunista e manhoso Belmiro de Azevedo pertencia *a UDP!

Carta a Belmiro
10 de Março de 2014
Caro Belmiro,
Eu sei que não vais ler isto, eu sei que até nem vais saber que isto existe, mas eu escrevo-te na mesma. Afinal, quase fomos camaradas, ou já não te lembras dos teus tempos da UDP? É que até sou do Bloco, sabes que a tua UDP hoje faz parte do meu Bloco.
Já não é a primeira vez, que nessa só tua confusão mental, insultas os portugueses. É contínuo e sistemáticos esses teus insultos baseados no credo de uma pessoa que parece ter fraca memória do passado, e o teu, meu amigo e camarada, é tão estranho e tão sujo, que quando tu vens falar de sucesso, dá-me vontade de dar gargalhadas.
Ainda me lembro quando as pessoas que tu insultas agora, te olhavam com olhos de orgulho, parecia que dava gosto de dizer que tu eras um empresário de sucesso, e és, mas quanto custou o teu sucesso? O insucesso de muitos daqueles, que durante décadas, foste esmifrando. O teu sucesso tem um nome, trabalhadores da SONAE, aqueles que tu elegantemente chamas …. Improdutivos. Mas sabes de quem é a culpa dessa pouca produção, é tua amigo, é tua. E sabes porquê? Porque no final do mês, tu insultas os teus funcionários com vencimentos degradantes, e isso paga-se com pouca produtividade.
Ainda te lembras quando passas-te a perna aos teus colegas da SONAE? Não desta, mas daquela Sonae que tu adquiriste à custa daquela greve em que eles foram na tua cantiga. Quando tu, meu amigo, te fizeste passar por “Chefe” da Comissão de trabalhadores, e eles confiando em ti, foram na tua ladainha. Sabes que foi por causa deles que tu hoje tens o que tens? Sabes que se não fossem eles tu hoje eras reformado de uma empresa qualquer, e quem sabe, ex. dirigente sindical de uma empresa de termolaminados. Mas falas tu, meu amigo, de barriga cheia, porque conseguiste, à conta dos trabalhadores, essa fortuna que tens.
Falas tu de aumentos salariais. Mas hà quanto tempo não aumentas os salários dos teus funcionários? É claro que estou a falar dos que trabalham regularmente, não daqueles que estão na tua empresa a parasitar como tu, administradores e diretores, pessoas que nunca “sujaram” as mãos no trabalho, esses são como tu, esperam sempre ganhar à conta dos funcionários. Estou a falar daqueles miúdos que andam a pôr produtos nas prateleiras, até lixarem as costas, aquelas miúdas giras que são caixas, aqueles que estão atrás dos balcões a vender às comissões, aqueles que sujam as mãos. Pois, a esses não aumentas tu, dás prémios aos amigos e amigos dos teus amigos, dás prémios ao teu miúdo, como fosse ainda o puto que leva a mesada. Aos filhos dos outros, quem sabe daqueles que tu passa-te a perna, não dás nada, só trabalho, e de vez em quando escravo.
Sabes, Belmiro, até compreendo quando pagas mal, pensas que eles, tal como tu, vão por o dinheiro à Holanda, para que a Troika, que tu tanto abençoas-te, não lhe meta as mãos. Mas não Belmiro, não, os teus trabalhadores não podem. Eles com aquilo que tu pagas, têm de pagar as contas, e sem desconto ou abatimento no IRS, sim, porque tu ganhas muito desses abatimentos, graças à tua fundação.
Não quero que tu penses diferente, nem quero que tu te mates a pensar nisto, só peço que tu te cales de vez em quando, ou penses, no mínimo, antes de falares algo que te suje mais. Sabes Belmiro, são os improdutivos que vão-te comprar produtos ao Continente, Worten, Sport Zone e inúmeras empresas que tu tenhas, são os improdutivos que colocaram dinheiro na tua empresa a comprar-te obrigações, são os improdutivos que te compram telemóveis e carregam-nos deixando dinheiro na tua empresa. E achas pouco? Sabes, é que se tás tão bem assim agradece aos improdutivos que te deixam todos os dias parte da miséria de salários, que tu e outros como tu, pagam.
Não queiras tu ser mais papista que o papa, resume-te a tua insignificância e mesquinhes, eu e os improdutivos, os que fazem o circo, os palhaços e outros abertamente agradecemos.
Sem mais cumprimentos,
Sandro Rodrigues 

SETE LIÇÕES DE UM ASSALTO A UM BANCO NA CHINA



Durante um assalto em Guangzhou, na China, o ladrão de bancos gritou para todos as pessoas que estavam na agência:
- Não se mexam! O dinheiro pertence ao Estado, mas suas vidas pertencem
somente a vocês!
Toda a gente no banco se deitou calmamente no chão.
1ª. - Isso é chamado de "Mudando o Conceito Mental" - mudar a forma convencional de pensar.
Quando uma senhora se apresentou sobre a mesa provocativamente, o ladrão gritou para ela:
- Por favor, seja civilizada, isto é um assalto e não um estupro!
2ª. - Isso é chamado de "Ser Profissional"- concentre-se apenas no que você foi treinado para fazer!
Quando os assaltantes voltaram para casa, o ladrão mais jovem (MBAtrainee) disse ao ladrão mais velho (que só completou seis anos na escola primária):
- Grande mestre, acho que já podemos começar a contar o quanto nós
arrecadamos!
O assaltante mais velho rebateu e disse:
- Você é muito estúpido. Há tanto dinheiro nessas sacolas que vai levar um tempão pra gente contar tudo. Hoje à noite, o noticiário da TV vai informar a quantia total que nós roubamos do banco!
3ª. - Isso é chamado de "Experiência" - hoje em dia, a experiência é mais importante do que as qualificações do papel.
Depois de os ladrões saírem, o gerente do banco disse ao supervisor bancário para chamar a polícia rapidamente.
Porém, o supervisor lhe disse:
- Espere, vamos retirar 10 milhões de yuans do banco pra nós mesmos e adicioná-lo aos 70 milhões que já desviamos do banco!.
4ª. - Isso é chamado de "Nadar a Favor da Maré" - converter uma situação desfavorável em benefício próprio!
O supervisor complementa:
- Era bom pra nós se houvesse um assalto a cada mês.
5ª. - Isso é chamado de "Morte do Tédio" - felicidade pessoal é mais importante do que o seu trabalho.
No dia seguinte, o noticiário da TV informou que 100 milhões de yuanstinham sido roubados ao banco. Os ladrões contaram e contaram e recontaram, mas eles só podiam contar o montante de 20 milhões. Os ladrões ficaram muito irritados e reclamaram:
- Nós arriscamos as nossas vidas e só levamos 20 milhões de yuans. O gerente do banco levou 80 milhões com apenas um estalar de seus dedos. Parece que é melhor ser gerente do que ser ladrão!
6ª. - Isso é chamado de "Conhecimento Que Vale Tanto Quanto Ouro".
O gerente do banco estava sorrindo, feliz, já que suas perdas no mercado de
acções foram agora cobertas por este roubo.
7ª. - Isso é chamado de "Aproveitar as Oportunidades".- ousadia para assumir riscos!

Qualquer semelhança com situações vividas em Portugal NÃO É mera coincidência.

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