Inês Teotónio Pereira
(i-online, 2013-05-11)
Não sei se são só os meus filhos que são
socialistas ou se são todas as crianças que sofrem do mesmo mal. Mas tenho a
certeza do que falo, em relação aos meus.
E nada disto é deformação educacional –
eles têm sido insistentemente educados no sentido inverso. Mas a natureza das
criaturas resiste à benéfica influência paternal como a aldeia do Astérix
resistiu culturalmente aos romanos. Os garotos são estóicos e defendem com
resistência a bandeira marxista sem fazerem ideia de quem é o senhor.
Ora o primeiro sintoma desta
deformação ideológica tem que ver com os direitos. Os meus filhos só têm
direitos. Direitos materiais, emocionais, futuros, ambíguos e todos eles
adquiridos.
É tudo, absolutamente tudo, adquirido. Eles
dão como adquirido o divertimento, as férias, a boleia para a escola, a escola,
os ténis novos, o computador, a roupinha lavada, a televisão e até eu. Deveres,
não têm nenhum.
Quanto muito lavam um prato por dia e puxam
o edredão da cama para cima, pouco mais. Vivem literalmente de mão estendida
sem qualquer vergonha ou humildade. Na cabecinha socialista deles não existe o
conceito de bem comum, só o bem deles. Muito, muito deles.
O segundo sintoma tem que ver com o aparecimento desses
direitos. Como aparecem esses direitos? Não sabem. Sabem que basta abrirem a
torneira que a água vem quente, que dentro do frigorífico está invariavelmente
leite fresquinho, que os livros da escola aparecem forradinhos todos os anos,
que o carro tem sempre gasolina e que o dinheiro nasce na parede onde estão as
máquinas de multibanco. A única diferença entre eles e os socialistas com
cartão de militante é que, justiça seja feita, estes últimos já não acreditam
na parede – são os bancos que imprimem dinheiro e pronto, ele nunca falta.
Outro sintoma alarmante é a visão de futuro. O futuro
para os meus filhos é qualquer coisa que se vai passar logo à noite, o mais
tardar. Eles não vão mais longe do que isto. Na sua cabecinha, não há
planeamento, só gastamento, só o imediato. Se há, come-se, gasta-se, esgota-se,
e depois logo se vê. Poupar não é com eles. Um saco de gomas ou uma caixa de
chocolates deixada no meio da sala da minha casa tem o mesmo destino que um
crédito de milhões endereçado ao Largo do Rato: acaba tudo no esgoto. E não foi
ninguém...
O quarto tique socialista das
minhas crianças é estarem convictas de que nada depende delas. Como são só
crianças, acham que nada do que fazem tem importância ou consequências. Ora
esta visão do mundo e da vida faz com que os meus filhos achem que podem fazer
todo o tipo de asneiras, que alguém irá depois apanhar os cacos. Eles ficam de
castigo é certo (mais ou menos a mesma coisa que perder eleições), mas quem
apanha os cacos sou eu. Os meus filhos nasceram desresponsabilizados. A
responsabilidade é sempre de outro qualquer: o outro que paga, o outro que
assina, o outro que limpa. No caso dos meus filhos, o outro sou eu, no caso dos
socialistas encartados o outro é o governo seguinte.
Por fim, o último mas não menos aterrorizador sintoma
muito socialista dos meus filhos é a inveja: eles não podem ver nada que já
querem. Acham que têm de ter tudo o que o do lado tem, quer mereçam quer não.
São autênticos novos-ricos sem cheta. Acham que todos temos de ter o mesmo e,
se não dá para repartir, ninguém tem. Ou comem todos ou não come nenhum. Senão
vão à luta. Eu não posso dar mais dinheiro a um do que a outro ou tenho o mesmo
destino que Nicolau II. Mesmo que um ajude mais que outro e tenha melhores
notas, a "cultura democrática" em minha casa não permite essa
diferenciação. Os meus filhos chamam a esta inveja disfarçada, justiça, os
socialistas deram-lhe o nome de justiça social.
A minha sorte é que os meus filhos crescem.
Já os socialistas são crianças a vida inteira.
Sem comentários:
Enviar um comentário