"O euro tem os dias contados" e Portugal devia ser dos primeiros países a terminar com a "tentativa fútil de
permanecer na moeda única", afirma Desmond Lachman, antigo
director adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), numa entrevista
exclusiva ao Expresso.
Desmond Lachman, antigo diretor adjunto
do FMI
Porque é que Portugal deve abandonar o euro?
É inevitável. Portugal não vai
conseguir aguentar a políticas do FMI sem grandes cortes da despesa e sem
deixar o euro. Esse será o fim. A minha pergunta é: se este será o fim,
porquê esperar dois anos, que se avizinham de recessão, quando já sabemos que a
saída do euro é fatal? Não sugiro que o default (incumprimento do pagamento da
dívida) ou a saída do euro seja uma opção fácil ou que não vai provocar dor,
mas apesar de tudo e preferível fazê-lo agora do que perder dois anos. Quando
olho para os números de Portugal não percebo como é que o país irá conseguir ao
mesmo tempo pagar a divida e aguentar um programa de austeridade imposto pelo
FMI, que resultará em recessão profunda e ao mesmo tempo em deflação, o que irá
piorar tudo, aumentando o problema da dívida pública.
É mais pessimista em relação a Portugal do que em
relação à Grécia?
Sim. São países com problemas
diferentes, mas o que me preocupa em relação a Portugal é a sua fraqueza
extrema no lado externo. Portugal tem uma dívida externa superior à grega (por
percentagem do PIB). Se incluirmos o sector privado, o país deve ao exterior o
equivalente a 230% do PIB. É brutal! E ainda temos o problema do défice
orçamental, que não anda longe 10%. Portugal tem fraquezas enormes e eu não
percebo como e que vai lidar com elas mantendo-se no euro e sem poder
desvalorizar a moeda.
Mas aparentemente isso não vai acontecer visto que
o novo governo, tal como o anterior, não pensa numa solução dessas.
Isto tudo não tem a ver com o que eles
querem, mas com a realidade que irá acabar por se impor. Nesta altura,
parece-me evidente que a Grécia não vai ficar conseguir cumprir com o pagamento
da dívida e consequente saída do Euro. E se a Grécia falha não há forma de
Portugal sobreviver às pressões dos mercados.
O Nobel da economia Milton Friedman disse em 1999
que o euro não resistiria à primeira recessão. Acha que ele estava certo?
Nem alguém tão pessimista como
Friedman acharia um dia que os desequilíbrios orçamentais chegassem a este
ponto, muito além do que se esperava. Para os corrigir só saindo do euro, caso
contrário podem ficar mas aí terão um futuro estilo Letónia onde os programas
de austeridade sucessivos levaram a quedas de produtividade de 26% e a um
aumento do desemprego até aos 26%. Se é isso que querem....
De quem é a culpa da actual situação?
Temos de perceber uma coisa, há uma
grande diferença entre o que é do interesse da Alemanha e da França e o que é
do interesse de Portugal, Espanha ou Grécia. Os primeiros querem este tipo de
políticas, porque querem evitar o default dos parceiros do sul, visto que o seu
interesse é a protecção do seu sistema bancário. Eles sabem que se estes países
falharem eles terão uma crise do sistema bancário. Eles querem por isso que
Portugal, Grécia ou Espanha fiquem no sistema, algo que penso não ser do
interesse desses países. Quantos às culpas, há muitas para distribuir. Na
verdade, o que quero dizer é que isto é uma desgraça! Primeiro os governos dos
países que conduziram políticas irresponsáveis durante tanto tempo, segundo a
Comissão Europeia por não ter percebido o problema e pela sua fraca capacidade
de análise, pensando que se os países periféricos arrastassem défices durante
anos a fio nada aconteceria, isso foi um erro enorme. E claro o mercado. O que
é que os bancos estavam a pensar quando emprestaram dinheiro a estes países a
taxas de juro baixíssimas quando se percebia que eles estavam a arrastara-se
para uma situação de insolvência? O que devia ter acontecido é que deviam ter
subido as taxas de juro muito mais cedo e assim estes países não tinham ficado
nesta situação. Por fim, o FMI, que nem sequer cheirou a crise a chegar.
Se Portugal e Grécia saírem do Euro e o futuro da
moeda única ficar em risco, quais as consequências disso para a economia
mundial?
Enormes! E não estamos muito longe
desse momento. O que se passa é que Portugal, Irlanda e Grécia são
economias relativamente pequenas e a União pode aguentar o seu colapso, mas o
mesmo não se pode dizer de Itália ou Espanha. O Fundo Europeu de Estabilidade
Financeira (FEEF) tem 440 mil milhões e 250 foram gastos com Grécia e Portugal.
Por isso, já não há dinheiro para socorrer Espanha ou Itália. A não ser que a
Alemanha queira aumentar esse fundo para 1,5 ou 2 biliões.
Com a crise em marcha em vários países (Portugal,
Irlanda, Grécia), e adivinhando-se mais problemas em Itália e Espanha, o que é
que devia ser feito?
Só há uma alternativa: se a Alemanha e
a França querem salvar o projecto europeu terão de injectar muito dinheiro. Eles
têm de estar preparados para gastar muito dinheiro durante muitos anos. O Banco
Central Europeu alertou que se a Grécia entrar em default (incumprimento)
teremos uma enorme crise do sistema bancário na Europa, isto porque sabem que
se a Grécia falhar, Portugal e Irlanda irão a seguir e depois a pressão sobre a
Espanha e Itália será enorme. Estamos a falar de uma crise muito pior do que
aquela que se seguiu à falência da Lehman em 2008/2009.
Mas o euro ainda tem os seus adeptos.
Seria muito
agradável continuar a haver euro, mas não é possível. A partir do momento em
que se criaram enormes desequilíbrios orçamentais todos sabem que eles não
podem ser corrigidos dentro do euro.
Porque é que Portugal deve abandonar o euro?
É
inevitável. Portugal não vai conseguir aguentar a políticas do FMI sem
grandes cortes da despesa e sem deixar o euro. Esse será o fim. A minha
pergunta é: se este será o fim, porquê esperar dois anos, que se
avizinham de recessão, quando já sabemos que a saída do euro é fatal?
Não sugiro que o default (incumprimento do pagamento da dívida) ou a
saída do euro seja uma opção fácil ou que não vai provocar dor, mas
apesar de tudo e preferível fazê-lo agora do que perder dois anos.
Quando olho para os números de Portugal não percebo como é que o país
irá conseguir ao mesmo tempo pagar a divida e aguentar um programa de
austeridade imposto pelo FMI, que resultará em recessão profunda e ao
mesmo tempo em deflação, o que irá piorar tudo, aumentando o problema da
dívida pública.
É mais pessimista em relação a Portugal do que em relação à Grécia?
Sim.
São países com problemas diferentes, mas o que me preocupa em relação a
Portugal é a sua fraqueza extrema no lado externo. Portugal tem uma
dívida externa superior à grega (por percentagem do PIB). Se incluirmos o
sector privado, o país deve ao exterior o equivalente a 230% do PIB. É
brutal! E ainda temos o problema do défice orçamental, que não anda
longe 10%. Portugal tem fraquezas enormes e eu não percebo como e que
vai lidar com elas mantendo-se no euro e sem poder desvalorizar a moeda.
Mas aparentemente isso não vai acontecer visto que o novo governo, tal como o anterior, não pensa numa solução dessas.
Isto
tudo não tem a ver com o que eles querem, mas com a realidade que irá
acabar por se impor. Nesta altura, parece-me evidente que a Grécia não
vai ficar conseguir cumprir com o pagamento da dívida e consequente
saída do Euro. E se a Grécia falha não há forma de Portugal sobreviver
às pressões dos mercados
O Nobel da economia Milton Friedman disse em 1999 que o euro não resistiria à primeira recessão. Acha que ele estava certo?
Nem
alguém tão pessimista como Friedman acharia um dia que os
desequilíbrios orçamentais chegassem a este ponto, muito além do que se
esperava. Para os corrigir só saindo do euro, caso contrário podem ficar
mas aí terão um futuro estilo Letónia onde os programas de austeridade
sucessivos levaram a quedas de produtividade de 26% e a um aumento do
desemprego até aos 26%. Se é isso que querem....
De quem é a culpa da actual situação?
Temos de
perceber uma coisa, há uma grande diferença entre o que é do interesse
da Alemanha e da França e o que é do interesse de Portugal, Espanha ou
Grécia. Os primeiros querem este tipo de políticas, porque querem evitar
o default dos parceiros do sul, visto que o seu interesse é a protecção
do seu sistema bancário. Eles sabem que se estes países falharem eles
terão uma crise do sistema bancário. Eles querem por isso que Portugal,
Grécia ou Espanha fiquem no sistema, algo que penso não ser do interesse
desses países. Quantos às culpas, há muitas para distribuir. Na
verdade, o que quero dizer é que isto é uma desgraça! Primeiro os
governos dos países que conduziram políticas irresponsáveis durante
tanto tempo, segundo a Comissão Europeia por não ter percebido o
problema e pela sua fraca capacidade de análise, pensando que se os
países periféricos arrastassem défices durante anos a fio nada
aconteceria, isso foi um erro enorme. E claro o mercado. O que é que os
bancos estavam a pensar quando emprestaram dinheiro a estes países a
taxas de juro baixíssimas quando se percebia que eles estavam a
arrastara-se para ums situação de insolvência? O que devia ter
acontecido é que deviam ter subido as taxas de juro muito mais cedo e
assim estes países não tinham ficado nesta situação. Por fim, o FMI, que
nem sequer cheirou a crise a chegar.
Se Portugal e Grécia saírem do Euro e o futuro da moeda única ficar
em risco, quais as consequências disso para a economia mundial?
Enormes!
E não estamos muito longe desse momento. O que se passa é que
Portugal, Irlanda e Grécia são economias relativamente pequenas e a
União pode aguentar o seu colapso, mas o mesmo não se pode dizer de
Itália ou Espanha. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) tem
440 mil milhões e 250 foram gastos com Grécia e Portugal. Por isso, já
não há dinheiro para socorrer Espanha ou Itália. A não ser que a
Alemanha queira aumentar esse fundo para 1,5 ou 2 biliões.
Com a crise em marcha em vários países (Portugal, Irlanda, Grécia), e
adivinhando-se mais problemas em Itália e Espanha, o que é que devia
ser feito?
Só há uma alternativa: se a Alemanha e a
França querem salvar o projecto europeu terão de injectar muito
dinheiro. Eles têm de estar preparados para gastar muito dinheiro
durante muitos anos. O Banco Central Europeu alertou que se a Grécia
entrar em default (incumprimento) teremos uma enorme crise do sistema
bancário na Europa, isto porque sabem que se a Grécia falhar, Portugal e
Irlanda irão a seguir e depois a pressão sobre a Espanha e Itália será
enorme. Estamos a falar de uma crise muito pior do que aquela que se
seguiu à falência da Lehman em 2008/2009.
Mas o euro ainda tem os seus adeptos.
Seria
muito agradável continuar a haver euro, mas não é possível. A partir do
momento em que se criaram enormes desequilíbrios orçamentais todos sabem
que eles não podem ser corrigidos dentro do euro.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/e-inevitavel-portugal-sair-do-euro=f666554#ixzz2Clk1GU7u
"É inevitável Portugal sair do Euro"
"O euro tem os dias contados" e Portugal devia ser dos primeiros países a terminar com a "tentativa fútil de permanecer na moeda única", afirma Desmond Lachman, antigo director adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), numa entrevista exclusiva ao Expresso (ler mais amanhã na edição impressa).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/e-inevitavel-portugal-sair-do-euro=f666554#ixzz2CljdmjkC
"É inevitável Portugal sair do Euro"
"O euro tem os dias contados" e Portugal devia ser dos primeiros países a terminar com a "tentativa fútil de permanecer na moeda única", afirma Desmond Lachman, antigo director adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), numa entrevista exclusiva ao Expresso (ler mais amanhã na edição impressa).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/e-inevitavel-portugal-sair-do-euro=f666554#ixzz2CljdmjkC
"É inevitável Portugal sair do Euro"
"O euro tem os dias contados" e Portugal devia ser dos primeiros países a terminar com a "tentativa fútil de permanecer na moeda única", afirma Desmond Lachman, antigo director adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), numa entrevista exclusiva ao Expresso (ler mais amanhã na edição impressa).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/e-inevitavel-portugal-sair-do-euro=f666554#ixzz2CljdmjkC
"É inevitável Portugal sair do Euro"
"O euro tem os dias contados" e Portugal devia ser dos primeiros países a terminar com a "tentativa fútil de permanecer na moeda única", afirma Desmond Lachman, antigo director adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), numa entrevista exclusiva ao Expresso (ler mais amanhã na edição impressa).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/e-inevitavel-portugal-sair-do-euro=f666554#ixzz2CljdmjkC
"É inevitável Portugal sair do Euro"
"O euro tem os dias contados" e Portugal devia ser dos primeiros países a terminar com a "tentativa fútil de permanecer na moeda única", afirma Desmond Lachman, antigo director adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), numa entrevista exclusiva ao Expresso (ler mais amanhã na edição impressa).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/e-inevitavel-portugal-sair-do-euro=f666554#ixzz2CljdmjkC
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