por Filipa Martins, Publicado em 04 de Março de 2011
Será que o futuro político, económico e social de um país pode ser decidido em apenas 30 dias?
Março é o mês da tomada de posse de Cavaco Silva, da colocação de mais dívida pública no mercado e de duas reuniões europeias ao mais alto nível. Será também em Março que vamos perceber se o país recorre ou não a ajuda externa.
Março é o mês da tomada de posse de Cavaco Silva, da colocação de mais dívida pública no mercado e de duas reuniões europeias ao mais alto nível. Será também em Março que vamos perceber se o país recorre ou não a ajuda externa.
Março de 2011
Dia 2: Ida de Sócrates à Alemanha
A oposição garante que o primeiro-ministro levou para o encontro com Angela Merkel números da execução orçamental "para alemão ver" e que trouxe um caderno de encargos apertado. O ministro das Finanças já abriu a porta à possibilidade de mais austeridade. Certo é que os mercados não se deixaram deslumbrar com as palavras simpáticas de apoio de Merkel e o efeito desta visita durou apenas algumas horas. Os juros a dez anos voltaram a subir no mercado secundário no final da semana, ultrapassando os 7,5%.
Dia 9: Tomada de posse de Cavaco Silva
O Presidente da República já deu sinais de que neste segundo mandato vai ser mais interventivo. Mudou o mote de "cooperação institucional" para "magistratura activa" e vetou pouco tempo depois da reeleição o primeiro diploma do governo. Tem reunido com bancos, com entidades europeias,com sindicatos e patrões, estando a fazer uma radiografia minuciosa da situação do país. Espera-se um discurso grave, preocupado e exigente. Neste dia, Portugal volta ao mercado de dívida. O IGCP pretende colocar entre 750 e 1000 milhões de euros em obrigações do Tesouro a dois anos.
Dia 10: Moção de censura do Bloco de Esquerda
O líder do Bloco de Esquerda anunciou com um mês de antecedência a apresentação da moção de censura do partido. Em menos de 24 horas, Louçã condenou a iniciativa ao fracasso garantindo que o texto que iria ser apresentado também iria censurar a direita. Com a arquitectura parlamentar existente, a queda do governo estava dependente do voto favorável de CDS-PP e PSD. Ambos os partidos já anunciaram que se irão abster; já o PCP irá votar ao lado do Bloco. É possível que nos próximos meses surjam moções de censura quer à esquerda, quer à direita. Já o governo pode tentar no parlamento uma espécie de moção de confiança, apresentando a votação na AR o Programa de Estabilidade e Crescimento de Abril.
Dia 11: Cimeira extraordinária da zona Euro
Será um aquecimento para o Conselho Europeu dos dias 24 e 25 de Março. A flexibilização do Fundo Europeu de Estabilização Financeira será o tema em cima da mesa. O governo português pretende que o fundo possa abrir linhas de crédito à semelhança do FMI com juros mais atractivos e que passe a comprar dívida soberana, como acontece actualmente com o Banco Central Europeu. A Alemanha torce o nariz..A associação da entrada do FMI a um fracasso do governo tem feito com que o primeiro-ministro tenha recusado, até agora, esta solução. A ajuda financeira da Europa, sem FMI, era ouro sobre azul para Sócrates.
Dia 19 e 20: Congresso CDS-PP
A reunião magna dos centristas vai realizar-se em Viseu, por onde o deputado Hélder Amaral tem sido eleito. Nas últimas legislativas, o partido ficou a mil votos de eleger um segundo deputado neste distrito. Paulo Portas foi o único candidato à liderança do partido e no documento com que se apresentou a votos defendeu uma coligação pré-eleitoral com o PSD para as próximas eleições legislativas.
Dia 24 e 25: Conselho Europeu
A reunião do Conselho Europeu vai ser decisiva para perceber se Portugal irá ou não recorrer a ajuda externa. O resultado do encontro vai ainda marcar a posição futura do principal partido da oposição. Miguel Macedo, líder parlamentar do PSD, afirmou que os sociais-democratas esperam pelo próximo Conselho Europeu para perceber que eventuais cedências possam ter sido feitas por Portugal no encontro entre Sócrates e Merkel. A haver cedências, estas podem ser incorporadas no próximo Programa de Estabilidade e Crescimento, a apresentar em Abril, que pode ou não ser votado na AR.
Dia 25 e 26: Eleições directas do Partido Socialista. Sócrates apresenta-se sem oposição
A novidade imposta pelo Partido Socialista, que prevê que só se possam apresentar moções estratégicas no congresso de Abril se se for candidato à liderança do partido, fez com que tivessem surgido várias candidaturas de segunda linha às directas deste mês. Fonseca Ferreira, António Brotas, Jacinto Serrão e José Sócrates apresentam-se hoje na corrida para secretário-geral do partido. Sócrates terá uma vitória retumbante. A dúvida é se conseguirá ultrapassar o resultado das últimas eleições, quando venceu com 96,43% dos votos, em 2009. Figuras como António José Seguro – rosto da oposição interna – preferiram não avançar neste momento. E o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, já disse que em 2013 será novamente candidato à autarquia, não estando para breve uma candidatura ao partido.
Dia 31: Dados da execução orçamental de Fevereiro
Se os dados da execução orçamental não continuarem a pingar na imprensa e a fazer manchetes de jornais, no final do mês de Março saberemos como se comportou o executivo durante os primeiros dois meses do ano. Para já, foi tornado público pelo governo que a despesa efectiva do Estado até Fevereiro caiu 3,6 %, para 6815,6 milhões de euros, segundo dados preliminares da execução orçamental. Já a despesa corrente primária, que exclui os juros pagos pelo Estado, caiu 3,9 %, para 6287,3 milhões de euros.



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