Casa Pia. O "polvo medonho" não foi desmantelado, diz antigo aluno
Francisco Guerra apresenta quinta-feira livro em que fala com dureza de Paulo Pedroso e assegura haver políticos, futebolistas e artistas que nunca foram levados à PJ
A rede de pedofilia existente na Casa Pia não foi desmantelada e pode ser facilmente reactivada. O alerta, feito de tempos a tempos ao longo do processo judicial que ficará para a história da justiça portuguesa, volta a ser lançado em forma de livro. Francisco Guerra, testemunha central na investigação, afirma em "Uma Dor Silenciosa" - lançado quinta--feira - que continuam em lugares-chave da instituição funcionários que "activarão mais uma vez este polvo medonho". Paulo Pedroso, um dos alvos das denúncias do jovem, hoje com 25 anos, é um dos visados com dureza.
"É, de todos, aquele de quem tenho mais nojo e o que mais odeio", diz Francisco Guerra sobre o "político" a quem chamou Pedro Ramos. "Foi sempre o que mais me maltratou. Era muito mais violento do que os outros e batia-me enquanto me penetrava." Apesar dos nomes fictícios, todas as referências dadas apontam de quem se fala: o político em causa esteve preso, mas acabou por sair em liberdade sem qualquer acusação. Durante toda a tarde de ontem o i tentou uma reacção do antigo deputado, mas tanto Paulo Pedroso como o advogado estiveram incontactáveis.
Se até sobre factos considerados provados em tribunal há, até trânsito da decisão em julgado, direito a dúvidas, mais difícil ainda é avaliar o que ultrapassa o julgamento. Catalina Pestana, antiga provedora da Casa Pia, que quinta-feira irá apresentar o livro, explica no prefácio o único critério que pode ter em conta: o discurso do jovem manteve-se coerente ao longo dos anos, quando falou a responsáveis da instituição, à polícia ou ao colectivo de juízes. No testemunho publicado pela Leya, Francisco Guerra conta como começou por odiar a antiga provedora, pela intervenção que teve ao entrar na Casa Pia.
Aqui entra em campo um dos aspectos mais controversos dos depoimentos de Francisco Guerra, que deu pela primeira vez a cara no dia da leitura do acórdão. O antigo casapiano assegurou ter sido colabroador de Carlos Silvino, na ligação e no recrutamento de outros rapazes, o que para o psiquiatra Álvaro Carvalho não tem consistência. "Foi uma tentativa de se pôr em bicos de pés no processo", comenta o responsável pelo acompanhamento das vítimas.
Francisco Guerra, empregado de mesa que estuda canto e sonha ser um tenor com êxito, refere como foi estar dentro da "rede" e "combinar os encontros com os outros miúdos". Assegura ainda que, antes de Carlos Silvino ser preso, o motorista lhe terá passado "fotografias de alunos da Casa Pia a serem abusados por homens, uns que foram julgados e outros que nunca foram chamados à Judiciária". Desses documentos, assim como agendas com nomes e números de telefone, não há vestígios: o casapiano justifica que destruiu tudo.
A rede Sobre os abusos a alunos, Francisco Guerra assegura que a rede de pedofilia tinha ramificações internacionais. E dela faziam parte "personalidades do mundo da política, do futebol, empresários e artistas, alguns deles ainda no activo e outros não". Por causa do inquérito e da mediatização, "todos esses pedófilos e os seus cúmplices estão quietos". Mas a rede, diz, "não foi desmantelada".
As referências aos nomes acabam por ter grande semelhança com as declarações de Carlos Cruz - um dos arguidos que Francisco acusou - sobre a existência de muitas pessoas que nunca foram investigadas. O antigo apresentador admite que tem curiosidade de ler o livro, para perceber eventuais contradições com o que foi dito pelo jovem em tribunal e em sede de inquérito. Quanto ao lançamento de peças processuais com nomes de pessoas referidas na investigação, Carlos Cruz diz manter inalterado esse propósito - a seu tempo. "Tenho prioridades no site e essa não é uma delas. Não fiz o site para satisfazer esse tipo de curiosidades."
De Carlos Cruz - Duarte Costa no livro -, Francisco Guerra critica a "conferência de imprensa para explicar o inexplicável" após a leitura do acórdão. Já Carlos Silvino, apesar das violações consideradas provadas pelo tribunal, mantém a imagem de um amigo, que desculpa por também um dia ter estado na pele de vítima: "Também ele tinha sido abusado em criança, quando era casapiano, e era a peça mais fraca de uma grande máquina, muito poderosa."
"É, de todos, aquele de quem tenho mais nojo e o que mais odeio", diz Francisco Guerra sobre o "político" a quem chamou Pedro Ramos. "Foi sempre o que mais me maltratou. Era muito mais violento do que os outros e batia-me enquanto me penetrava." Apesar dos nomes fictícios, todas as referências dadas apontam de quem se fala: o político em causa esteve preso, mas acabou por sair em liberdade sem qualquer acusação. Durante toda a tarde de ontem o i tentou uma reacção do antigo deputado, mas tanto Paulo Pedroso como o advogado estiveram incontactáveis.
Se até sobre factos considerados provados em tribunal há, até trânsito da decisão em julgado, direito a dúvidas, mais difícil ainda é avaliar o que ultrapassa o julgamento. Catalina Pestana, antiga provedora da Casa Pia, que quinta-feira irá apresentar o livro, explica no prefácio o único critério que pode ter em conta: o discurso do jovem manteve-se coerente ao longo dos anos, quando falou a responsáveis da instituição, à polícia ou ao colectivo de juízes. No testemunho publicado pela Leya, Francisco Guerra conta como começou por odiar a antiga provedora, pela intervenção que teve ao entrar na Casa Pia.
Aqui entra em campo um dos aspectos mais controversos dos depoimentos de Francisco Guerra, que deu pela primeira vez a cara no dia da leitura do acórdão. O antigo casapiano assegurou ter sido colabroador de Carlos Silvino, na ligação e no recrutamento de outros rapazes, o que para o psiquiatra Álvaro Carvalho não tem consistência. "Foi uma tentativa de se pôr em bicos de pés no processo", comenta o responsável pelo acompanhamento das vítimas.
Francisco Guerra, empregado de mesa que estuda canto e sonha ser um tenor com êxito, refere como foi estar dentro da "rede" e "combinar os encontros com os outros miúdos". Assegura ainda que, antes de Carlos Silvino ser preso, o motorista lhe terá passado "fotografias de alunos da Casa Pia a serem abusados por homens, uns que foram julgados e outros que nunca foram chamados à Judiciária". Desses documentos, assim como agendas com nomes e números de telefone, não há vestígios: o casapiano justifica que destruiu tudo.
A rede Sobre os abusos a alunos, Francisco Guerra assegura que a rede de pedofilia tinha ramificações internacionais. E dela faziam parte "personalidades do mundo da política, do futebol, empresários e artistas, alguns deles ainda no activo e outros não". Por causa do inquérito e da mediatização, "todos esses pedófilos e os seus cúmplices estão quietos". Mas a rede, diz, "não foi desmantelada".
As referências aos nomes acabam por ter grande semelhança com as declarações de Carlos Cruz - um dos arguidos que Francisco acusou - sobre a existência de muitas pessoas que nunca foram investigadas. O antigo apresentador admite que tem curiosidade de ler o livro, para perceber eventuais contradições com o que foi dito pelo jovem em tribunal e em sede de inquérito. Quanto ao lançamento de peças processuais com nomes de pessoas referidas na investigação, Carlos Cruz diz manter inalterado esse propósito - a seu tempo. "Tenho prioridades no site e essa não é uma delas. Não fiz o site para satisfazer esse tipo de curiosidades."
De Carlos Cruz - Duarte Costa no livro -, Francisco Guerra critica a "conferência de imprensa para explicar o inexplicável" após a leitura do acórdão. Já Carlos Silvino, apesar das violações consideradas provadas pelo tribunal, mantém a imagem de um amigo, que desculpa por também um dia ter estado na pele de vítima: "Também ele tinha sido abusado em criança, quando era casapiano, e era a peça mais fraca de uma grande máquina, muito poderosa."
Carlos Cruz assegura manter o objectivo de divulgar no site peças processuais com nomes referidos no processo
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