Pais indignados
Carlos Cruz assiste a festa de crianças
Condenado no processo de pedofilia da Casa Pia. Ex-apresentador diz que faz questão de estar nos momentos importantes da vida da filha.
Cruz foi aos Salesianos no Estoril ver teatro da Mariana, que tem oito anos
A presença de Carlos Cruz, ontem de manhã, na Escola Técnica e Liceal Salesiana de Santo António, no Estoril, causou mal-estar entre os pais de algumas crianças. Em causa está o facto de o ex-apresentador de televisão ter sido condenado a sete anos de prisão, por três crimes, no processo de pedofilia da Casa Pia.
Carlos Cruz não está ainda a cumprir a pena porque recorreu da sentença para o Tribunal da Relação, e o facto de não lhe ter sido aplicada qualquer pena acessória permite-lhe total liberdade de movimentos. Assim, ontem, o arguido condenado no caso de pedofilia assistiu, na companhia da mulher, Raquel Cruz, ao teatro organizado pela turma da filha mais nova, Mariana, de oito anos, que frequenta aquela instituição. Facto confirmado pelo próprio ao CM através de e-mail: "Estive nos Salesianos e não senti constrangimento de ninguém."
Carlos Cruz adianta que nem esteve "à procura de reacções de ninguém", e que inclusive conversou "com alguns pais e mães". No final do espectáculo, a directora do Ensino Básico disse a Carlos e a Raquel que uma pessoa se tinha queixado da sua presença. Ao que o ex-apresentador respondeu que tinha "todo o direito" e que fazia questão de "estar presente nos momentos importantes" da vida da sua filha.
"Já no ano passado lá estive, como em anos anteriores, em vários eventos. Nunca senti constrangimentos de ninguém. Senti que algumas pessoas tinham o ar de me ignorar, atitude que respeito", explica, sublinhando que não tem de pedir autorização a ninguém, porque não está com os movimentos proibidos. "Posso fazer uma vida normal: sair, viajar, seja o que for. Até ao fim do processo (e espero que depois dele) sou um cidadão no pleno uso dos meus direitos", afirmou Carlos Cruz.
Apesar dos insistentes contactos, o Correio da Manhã não conseguiu obter um comentário da administração da escola. Já sobre o facto de a lei permitir que um condenado continue em liberdade enquanto o recurso está em apreciação no Tribunal da Relação, o juiz-desembargador Eurico Reis afirmou apenas que tal acontece porque "em Portugal não há confiança no trabalho dos juízes".
PROCURADOR DEFENDE PENA MAIS PESADA
O procurador do processo Casa Pia recorreu da sentença e pede que Carlos Cruz seja condenado a sete anos e meio de prisão, ou seja, mais seis meses, pelos três crimes dados como provados em tribunal. João Aibéo, aliás, pediu o agravamento de todas as penas, com excepção de Carlos Silvino - condenado a 18 anos - por entender que o tribunal subvalorizou a gravidade dos crimes em causa.
CONDENADOS POR ABUSOS CONTINUAM A DAR AULAS
Eram professores e foram condenados por abusos sexuais de menores, mas continuam em liberdade. A maior parte destes docentes não foi sequer impedida de voltar a dar aulas e mantém-se na profissão. É o caso de um professor de Geografia do 3º Ciclo das Caldas da Rainha. Carlos Silva, de 45 anos, foi acusado de exibir o pénis à frente de duas meninas, de seis e nove anos. As meninas estavam a brincar na rua, a 23 de Janeiro de 2008, quando foram chamadas pelo arguido. Ao aproximarem-se, viram o homem de calças para baixo, pénis levantado e a mexer nele. O docente já tinha sido condenado por um crime semelhante em 2004. Está a dar aulas em Óbidos.
Ana Margarida, professora de Português na Escola EB2/3 André Soares, em Braga, foi condenada em 2009 a dois anos e meio de prisão, com pena suspensa, por abuso sexual de uma menor. O juiz não aplicou qualquer pena acessória à docente, que apesar de ter sido suspensa de funções aquando da abertura do inquérito judicial já podia voltar a leccionar. Luís, o professor de Música de Armamar que em Maio de 2007 abusou de quatro meninas e de um menino, entre os cinco e dez anos, continua em liberdade. Foi condenado a seis anos de cadeia, mas só cumpriu cinco meses. Durante as aulas, Luís exibia o pénis, tocava-se e masturbava-se em frente aos alunos.
Em Fevereiro de 2009, o professor de Música Filipe Souto, de 28 anos, foi condenado por abusos sexuais a duas adolescentes, a troco de melhores notas. O docente – que leccionava em Ermesinde, Gondomar e Guimarães – voltou a dar aulas numa escola de Rio Tinto, onde chegou inclusive a ser director de turma.
LEGISLAÇÃO IMPEDE PEDÓFILOS DE TRABALHAREM COM CRIANÇAS
A lei contra o abuso e a exploração sexual de crianças passou a exigir cadastro criminal a quem se candidate a adopção ou a trabalho com menores. A informação criminal vai permanecer durante 23 anos.
Assim, a legislação condiciona a contratação de pessoas que lidem com crianças e exige, no caso da adopção, um cadastro limpo.
A lei tem por objectivo evitar crimes de abuso sexual, como por exemplo o que alegadamente terá sido praticado por um professor membro de uma comissão de protecção de menores de Famalicão, em Junho de 2009.
Para que a alteração legal possa ter um efeito preventivo, tem porém que existir um registo de práticas ou de associações pedófilas no cadastro criminal do candidato ao emprego ou à adopção. No entanto, esta legislação só se aplica quando o processo é considerado transitado em julgado.
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