Que mais irá acontecer?
Amanhã, desce o pano sobre um Mundial em que a Jabulani tanta atrapalhação provocou e em que as vuvuzelas ganharam a notoriedade das pragas.
A minha memória é invadida pela conversa do motorista que sublinhava, bem humorado, enquanto conduzia o carro pelas ruas desertas de São Paulo, à hora de jogo do Brasil, que os brasileiros se perdem por futebol e que só a religião e a música, de vez em quando, conseguem influenciar as suas vidas do mesmo modo. A comparação com a nossa tríade Fado, Futebol e Fátima é imediata. No entanto, as diferenças facilmente se detectam.
Ao fatalismo, tristeza e insucessos nacionais, os brasileiros podem contrapor a alegria do samba, os êxitos do futebol (embora este Mundial tenha ficado aquém do que esperavam) e, sobretudo, as dinâmicas optimistas que hoje caracterizam o país. O Brasil cresce enquanto Portugal definha, amarfanhado por aumentos de impostos, por empregos que desaparecem, pelo crédito que escasseia, enfim, pela austeridade que em tudo penetra, em nome do combate ao défice e à dívida.
A semana que agora termina foi um bom espelho do rol de misérias em que o País se transformou. Os portugueses puderam aperceber-se de que 2011 vai ver reforçada a carga que sobre eles se abate, com os cortes operados nas isenções e nas deduções fiscais, com o Estado, como bem diz Paulo Portas, a recorrer a todos os truques para concretizar o seu assalto aos contribuintes. Igualmente verificaram, incrédulos, que o Turismo de Portugal prejudicou consumidores, ao não aplicar a uma agência de viagens que decidiu fechar portas as cauções que a sua actividade justificava; desconhecem-se as razões para o favoritismo e compadrio que tal desleixo dá azo a que se intua, degradando ainda mais a imagem de um organismo que anda nas bocas do mundo pela forma como usa os seus dinheiros de publicidade.
Do mesmo modo, assistiram os portugueses a mais um episódio da novela que tem por protagonista a Vivo. Bruxelas chumbou a golden share. Sócrates e o seu Governo dizem que vão fazer finca-pé, em luta pelo interesse nacional que, neste caso, ainda não se percebeu qual é. A Telefónica, politicamente empurrada, decidiu dar um passo no sentido de conversar com a PT. É tudo uma ficção mal escrita, de enganos e desenganos desconchavados, de conspiratas de bastidor sem grande engenho, de ódios e paixões sem substância nem nexo, com os próprios accionistas equiparados a actores de inferior categoria, reservados a papéis irrelevantes.
O problema é que o ano ainda vai a meio e muito mais há para acontecer. Aliás, a partir de Agosto, quando o Governo deixa de poder ser demitido pelo PR, vale a pena comprar bilhete, na primeira fila do degradado teatro em que este País desfila, para observar o que acontece... Depois de brandir a luta contra os espanhóis na primária convicção de que rende votos, que mais nos irá reservar este primeiro-ministro?
SOLTAS
PRAZOS? PARA QUÊ?
A acusação no processo Freeport já não deve ficar concluída até ao final do mês. Cândida Almeida anunciou, várias vezes, a iminência do desfecho. As férias judiciais estão à porta e nada. Assim é a Justiça em Portugal. Por sinal, a PJ já entregou o relatório final, não envolvendo o nome de Sócrates.
QUEM SEMEIA VENTOS...
Fátima Lopes transferiu-se para a TVI. A estação alargou os cordões à bolsa, provocando reacções da concorrência junto das suas estrelas. O tiro abriu a caixa de Pandora. A inflação de valores, uma vez iniciada, é difícil de travar e toca a todos. A escalada vai doer nos orçamentos. Inevitável.
BELA SURPRESA
Nunca tinha lido Ricardo Adolfo. Agarrei ‘Mizé – Antes Galdéria do que Normal e Remediada’ e lancei a âncora. A personagem central é fabulosa. Vou a meio do livro e percorro as páginas com prazer. Não me vão escapar o livro de contos e o outro romance que este autor de 34 anos já publicou.
NOTAS (Escala de 0 a 20)
15 - VICENTE DEL BOSQUE
A Espanha pode conquistar o título pela sua mão. Soube montar a equipa sem fazer invenções. A sorte acompanhou-o, por vezes, mas a verdade é que ele também a soube procurar.
14 - PAULO PORTAS
Firme na denúncia das manobras que conduzem ao efectivo aumento de impostos em 2011. Foi o primeiro, há algum tempo, a denunciar os truques do Governo que penalizam, sobretudo, a classe média.
8 - JOÃO BARTOLOMEU
A dificuldade em encontrar treinador para a equipa não é bom sinal quando a época está prestes a iniciar-se. A União de Leiria tem tradição e o futebol português precisa do clube, mas com ambição.
6 - LUÍS PATRÃO
O caso da Marsans pôs a nu as debilidades do Turismo de Portugal. Reduzir a caução a prestar pela empresa de 250 mil para 25 mil euros é uma irresponsabilidade que não pode deixar de ter consequências.
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