SOCIEDADE
Canção de protesto. A cantiga já não é uma arma?
Foram-se os tempos e as vontades, neste País afundar-se dia após dia, o Povo esse deve sair à rua e voltar a cantar “O Povo é quem mais ordena”.
Olho para lado de fora da minha janela, nada me diz respeito, tudo rouba, assalta, engana e faz de nós os mais pobres da zona euro.
Culpa ou culpados nada me interessa, a vontade essa é de me ir embora para longe desta gente. Leio os jornais e a mistura entre justiça se é que existe? Politiquice sim é disso que se trata visto ser o salve-se os Boy e resto que se lixe.
Uns a penar para comprar pão, outros a esbanjar o nosso dinheiro como se fossem dono dele. Compram-se carros de topo de gama, remodelações para dar dinheiro aos amigos, pressiona-se juízes, mudam equipas editoriais, faz-se publicidade nos jornais da nossa equipa, enfim um rol de aldrabices unicamente com o intuito de encher o saco da “família”.
Lá vai o tempo da canção de protesto. Até esses eles calaram, senão vejam o que passa na rádio, música estrangeira com letras de bradar aos céus. Há quem goste…
E os processos sem conclusão?
Se tenta-se enumerar casos e mais casos que nada deram simplesmente gastos e percas de tempo não chegava um página…”Moderna, Freeport, Face Oculta,
Mas voltando ao titulo:
Em Abril do ano passado, o novo disco dos Xutos & Pontapés conseguiu a proeza de agitar o governo e deixou José Sócrates à beira de um ataque de nervos, a poucos meses de eleições legislativas. Mas a música "Sem eira nem beira", cuja letra apelava ao "senhor engenheiro" "um pouco de atenção", não teve sequer tempo de se transformar em manifesto político. A banda apressou-se a declarar publicamente a sua simpatia pelo primeiro-ministro e garantiu que nunca quis fazer "um ataque político". Faltarão razões para protestar? Numa altura em que Portugal atravessa uma das crises mais graves da sua história, os músicos que entoaram a Revolução de Abril acreditam existir todas as condições sociais e políticas para que a canção volte a ser uma arma. Mas para isso, avisa José Mário Branco, "é preciso que o movimento parta da rua".
"As canções de protesto não surgem por decreto dos seus autores. O movimento é ao contrário, resulta da influência da sociedade", acredita o autor de "FMI", que durante o exílio em Paris cantou ao lado de 80 mil desertores contra a guerra colonial e a ditadura. Tal como diz o título do seu primeiro disco, "Mudam--se os tempos, mudam-se as vontades", embora o actual contexto político seja propício" ao protesto, o movimento social limita-se a uma "manifestação por ano em que se protesta contra o custo de vida e se diz que o povo não aguenta".
José Mário Branco acredita que essa é uma das razões para que a mensagem musicada tenha vindo a cair na irrelevância, à excepção do hip-hop e de alguns géneros menos elitistas. "É uma música que está a assumir o tom de outros tempos. Eles fazem-no porque já nasceram com a polícia em cima, é natural que a expressão deles se radicalize." Ainda assim, o compositor discorda do termo "canção de intervenção" aplicado a um certo tipo de música. "É uma forma de desresponsabilizar os outros. Todas as músicas são de intervenção."
O factor censura "Costumo dizer que o meu desporto radical de infância era fugir à polícia", lembra Carlos Guerreiro, membro do Grupo de Acção Cultural (GAC), que nos anos quentes que se seguiram à Revolução tratou de transformar a canção numa arma. Hoje, esse papel da música alterou-se e, segundo acredita o compositor, dificilmente voltará a ser o que foi. "Nessa altura, a canção era completamente marginal, era possível fazer música sem ceder ao capitalismo. As grandes editoras lançavam discos, mesmo que os seus administradores fossem fascistas ou não tivessem nada a ver com a ideologia dos seus artistas, dava dinheiro."
Na época, havia ainda um factor que obrigava os autores a jogarem com as palavras de forma subtil, sem perder a profundidade da mensagem. Para os jovens estudantes de Coimbra, cidade onde fervilhavam os ideais revolucionários, a perseguição e a censura sempre foram um estímulo. "Funcionava como uma espécie de adubo que fazia a coisa crescer ainda mais." O alento dado por alguns programas de televisão, como o "Zip Zip", tratou de transformar autores como José Afonso numa moda, com a dimensão e força social inerente. "Se hoje aparecesse um jovem com uma linguagem semelhante à do Zeca, dentro do seu tempo, a coisa poderia voltar a pegar. É preciso uma fagulha que acenda o rastilho. A pólvora está lá toda."
José Niza, autor da letra "E depois do adeus", que juntamente com "Grândola Vila Morena" deu sinal de partida para o Movimento das Forças Armadas, lamenta o facto de a música actual ter um princípio contrário aos dias da revolução. "Dantes fazíamos música para um poema, o que se dizia era primordial. A essência da canção era aquilo que se transmitia às pessoas."
Quando olha para o panorama musical, Niza facilmente conclui que o seu poder de mobilização é hoje tão ou mais forte do que nesses dias. "Basta ver o Rock in Rio, por exemplo. Tenho a certeza que o Zeca Afonso também enchia um estádio, se tivesse essa possibilidade. Mas agora o problema é outro, tem a ver com o desprendimento das pessoas, com uma certa resignação e depressão que contribuem para que não se faça nada de novo." Para José Niza, a cantiga será sempre um instrumento de contestação. Mas, como defende Carlos Guerreiro, "depende de que lado está". "Se com as multinacionais das grandes campanhas - como aconteceu agora com a música da selecção - se do lado do povo."
Sem comentários:
Enviar um comentário